Há sempre o risco de uma decepção quando criamos muitas expectativas sobre as pessoas. Você pensa uma coisa, aí chega na hora e... pimba! É outra. Sei que é difícil não criar expectativas, mas imagino que o melhor ainda seja não idealizar nada. Embora eu mesmo não consiga seguir essa dica, acredito que o tombo é menor quando se está com os pés no chão. É claro que para quem não se abate com decepções tudo o que eu disse até agora não faz o menor sentido. Enfim, deixa pra lá.
Não posso dizer que meu primeiro encontro com Maitê Proença foi uma completa decepção. Seria injusto da minha parte. Porém, sei lá, fiquei com a sensação de que poderia ter sido melhor. Não unicamente por causa dela, claro. Mas por causa das circunstâncias. Se no lugar daquele auditório lotado, estivéssemos só nós dois num jantar à luz de velas... ai, ai, ai. Calma. Tudo bem. Foi apenas uma brincadeira infame.
Obviamente, não foi o que aconteceu. Na última sexta-feira, 24 de abril, fui assistir a uma palestra da Maitê, seguida do lançamento de seu livro: Uma Vida Inventada. No caso da Maitê–atriz, talento inquestionável. Mas sobre a escritora ainda não tenho opinião formada. Não li muita coisa.
Durante pouco mais de uma hora, ela falou sobre um tema espinhoso: mulheres. Manias, defeitos, qualidades, lugares que ocupam na sociedade contemporânea etc. Ao final, tive a impressão de que ela tinha falado de um mundo que não existia ou, na melhor das hipóteses, de mulheres que eu não conhecia.
Maitê falou que as mulheres começavam a conquistar espaço na sociedade e que, futuramente, o mundo governado por elas seria mais pacífico, como se a essência das guerras se reduzisse a níveis de testosterona ou de estrogênio. Na hora, pensei: Condoleezza Rice e Hillary Clinton adorariam a palestra. Não é que eu tenha me decepcionado, mas não esperava ouvir da Maitê o discurso da High Society.
Em todo o caso, o evento foi divertido. Principalmente quando a platéia pode fazer perguntas. É impressionante como em qualquer lugar sempre há um panaca. Duas filas depois de mim, um sujeito pediu para fazer uma pergunta e acabou ficando uns dez minutos elogiando a beleza da Maitê. Do meu canto, eu quase gritei: “Pede logo o telefone dela, rapá! Quer que a gente saia pra nao atrapalhar?”.
De fato, era uma palestra para a alta sociedade. De pobre mesmo, acho que só eu, meu irmão e a namorada dele. Até a ex-prefeita de Maceió, Kátia Born, apareceu. Achando que o microfone era para um discurso, ela quase esqueceu de fazer a pergunta e aproveitou para falar da própria carreira política.
Kátia Born fez questão de lembrar dos seus dois mandatos como prefeita de Maceió. Novamente, do meu canto, eu tive que me segurar para não gritar: “Todo mundo lembra, Kátia! E, por acaso, dá pra esquecer os estragos?!”. Só me contive porque estava em território inimigo e em menor número.
Depois da palestra, fomos todos para os autógrafos e os “comes e bebes”. Alguns mais para os comes e bebes do que para os autógrafos. Não pude deixar de notar a falta de educação da própria High Society. Flagrei uma senhora, num vestido impecável, enfiando uns cinco ou seis docinhos na boca, um atrás do outro. Pela voracidade com que comia, a fera provavelmente estava há dias sem se alimentar. Terminado o banquete, a mulher ainda limpou a mão gordurosa na toalha branca da mesa. Por pouco eu não atirei um canapé na cabeça da velha.
Após esperar quase uma hora numa fila, tive meus segundos de proximidade com a Maitê. E não perdi tempo. Além do autógrafo e da foto, consegui uma troca de olhares que só nós dois sabemos o que significou. De perto ninguém é normal, diz Caetano Veloso. Eu digo que de longe Maitê Proença é linda. De pertinho, uma deusa. Sei que isso não redime ninguém, mas na hora não lembrei desse detalhe.
Antes de sair, entreguei a ela um bilhete com umas poucas palavras. Coisa simples. Algo sobre um jantarzinho à luz de velas e tal...
Estou otimista.