Por João Paulo da Silva
Recentemente fiz minha matrícula numa academia de ginástica. É isso mesmo. Agora eu sou fitness. Não que eu tenha me rendido ao culto vazio e desnecessário do corpo perfeito. Mas decidi que não vou ficar gordo e muito menos deixar minhas coronárias entupirem. Meu médico falou que a partir dos 25 anos o ritmo do metabolismo começa a diminuir e isso, sob determinadas circunstâncias, pode se tornar perigoso, já que muitos de nós continuamos comendo porcarias e levando uma vida sedentária. Sendo assim, resolvi fazer exercícios físicos, mudar a alimentação e combater o colesterol ruim. Agora eu sou da turma da granola e da linhaça. É claro que não entrei numa academia para buscar músculos extravagantes e ficar deformado. Meu objetivo é alcançar uma vida saudável. Mas não reclamaria se conseguisse ficar igual ao Hugh Jackman.
Obviamente, como todo marinheiro de primeira viagem, tive alguns contratempos com o início de minha vida fitness. Para se ter uma ideia da situação, eu estava pedindo arrego já no alongamento. Fiquei lavado de suor só em esticar os braços para cima com os dedos entrelaçados, o que é muito preocupante para alguém que passou toda a adolescência jogando basquete. Quer dizer, um horror. Vendo o nível do meu sedentarismo e da minha escandalosa ausência de condicionamento físico, a professora decidiu que eu começaria com um leve exercício aeróbico. Assim, me pus a andar em cima de uma esteira durante dez minutos. Foram os dez minutos mais chatos de toda a minha vida. Não há nada mais enfadonho e irritante do que andar ou correr numa esteira, sem sair do canto e tendo a absoluta certeza de que não se vai chegar a lugar algum.
Entretanto, o desespero mesmo veio com os exercícios de levantamento de pesos. Aí o negócio ficou feio de verdade. Depois da esteira, a professora pediu que eu deitasse sobre uma plataforma acolchoada e levantasse uma barra de metal com dois pesinhos. Para evitar constrangimentos, eu nem quis saber quantos quilos tinham naqueles pesos.
- Aqui, nesse exercício, você vai fazer três séries de doze levantamentos. – orientou a professora.
E lá fui eu. As duas primeiras séries até que completei com relativa tranquilidade. O problema foi a terceira. Lá pelo quinto ou sexto levantamento da barra os braços já começaram a arder e a tremelicar. A dor aguda nos bíceps só me fazia pensar numa única coisa, que eu repetia mentalmente inúmeras vezes.
- Eu vou morrer! Eu vou morrer, meu Deus! Eu vou morrer!
Não morri. Mas por pouco não derrubei a barra e os pesos em cima de mim. Graças a um forte sentimento de orgulho próprio, eu ainda cheguei ao décimo levantamento da última série do exercício, faltando apenas dois para completar tudo.
Antes de me dirigir para a próxima atividade, resolvi saber quantos quilos eu havia levantado. Mais por curiosidade mesmo. E a professora me informou que cada pesinho daquele possuía dez quilos cada. Fiquei todo inflado de soberba. Tudo bem que não se tratava de um grande feito, mas já era um avanço. Afinal, nos últimos tempos, o único peso que tenho levantado é o controle remoto.
É evidente que este júbilo não durou muito. Enquanto eu fazia um exercício de fortalecimento das pernas, observei uma vovó toda durinha que se aproximava da barra de metal e dos pesos. Para minha surpresa e revolta, ela posicionou os braços junto ao corpo e começou a erguer a barra com dois pesos de dez quilos de cada lado. Quer dizer, o dobro daquilo que eu quase morri para levantar. A vovó movia os antebraços para cima e para baixo com tanta tranquilidade que mais parecia estar levantando um pacote de jujubas. Minha reação não poderia ter sido outra.
- Filha da mãe! – disse para mim mesmo – Que vovó filha da p...! Assim não dá. Assim eu me desmoralizo.
Passei o resto do dia moralmente abalado. Não por reconhecer a força da velhinha, e sim por constatar o agravo de minha moleza crônica. Um absurdo. Contudo, nem só de vergonhas e surpresas foi marcado o meu primeiro dia fitness. Uma cena medonha também me assaltou os olhos enquanto eu usava um aparelho para malhar o tórax.
Ao meu lado, em pé, um brutamontes exercitava o bíceps direito levantando um peso de uns trintas quilos, acho. A espessura do braço do sujeito devia ter mais ou menos o tamanho da minha cabeça. Algo monstruoso. Mas isso não era o pior. O apavorante de verdade foi ver as caras e bocas do gorila. Ao mesmo tempo em que erguia o peso, o fortão fazia biquinhos como se estivesse beijando alguma coisa e sorria para si mesmo, olhando de forma saliente para o próprio bíceps. Com medo de ver uma cena ainda mais bizarra, mudei rapidamente de aparelho. Tenho quase certeza de que se tivesse ficado por lá mais um pouco eu teria visto o sujeito se masturbar ali mesmo. Eu hein.
Bom, o mais importante é que, ao final da malhação, não me encontrava apenas com o corpo lavado de suor. Estava também de alma lavada. Nada melhor do que a sensação de bem estar depois de alguma atividade física. É cansativo, claro. Porém, é impossível alcançar resultados sem sacrifícios. No dia seguinte, parecia que eu tinha passado num moedor de carne. Tudo doía. Nem o controle remoto da TV eu conseguia levantar. Mas é isso mesmo. O que arde, cura. Vou continuar minha maratona de exercícios. Abaixo o colesterol! Rumo ao corpo do Hugh Jackman! Rumo a uma vida saudável e aos 130 anos de vida!
3 comentários:
Hahaha! Agora o idoso vai ficar bombadinho! Realmente ir pra academia não é uma coisa muito legal, esteira nem se fala! Mas vale a pena pelo prazer pós atividade! Bom mesmo é jogar basquete... Mas o seu mestre mora em outra cidade, então, vá treinando aí sozinho! Hahaha...
Valeu João! Como sempre você arrasa. Bom garoto. Bjs
Valeu gatinho, amei esse seu texto, estou até pensando em começar a fazer algum exercício físico, nem que seja caminha, mil beijos.
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