domingo, 3 de julho de 2011

Seu Neco e o Apocalipse

Por João Paulo da Silva

Conheci o Seu Neco quando eu ainda era menino. Ninguém sabe ao certo o dia ou o ano em que o homem chegou ao lugar – uma periferia lá pelas bandas de Maceió. Todo mundo diz a mesma coisa:
- Sei não. Quando cheguei, ele já morava aqui.

Até a Dona Zefa, que vive há oitenta e oito anos na região, chegou ao bairro e o Seu Neco já estava pelas redondezas. E – pasmem! – já era homem feito. A idade do sujeito permanece uma incógnita, nunca descobriram. Seu Neco é bastante conhecido entre as pessoas da comunidade, os moradores admiram a sua sabedoria popular e encontram nele resposta para qualquer problema.


Mas prova maior mesmo de sua grandeza intelectual Seu Neco deu quando voltou ao bairro o filho do Vado do Oião. O rapaz tinha ido estudar fora por causa de uma bolsa que ganhou na faculdade. O Vado do Oião estava festejando a volta do filho no bar do Seu Paulo. Todo mundo bebendo, comendo e discutindo. O assunto era o fim do mundo, o Apocalipse. Ali, na mesa do bar, surgiram as mais variadas teorias.
- O chão se abrirá e as chamas devorarão os infiéis! Está na Bíblia! – dizia um beato.
- Nada disso! – começava outro – Gigantescos meteoros cairão no oceano Atlântico, gerando ondas de 30 quilômetros de altura que engolirão todas as cidades do mundo. Pelo menos é o que tá passando no cinema.

Rápido silêncio.

- E o doutô aí? O que pensa disso? – perguntou Seu Paulo ao filho do Vado do Oião.
- Bem, respeito a opinião de todos vocês, mas... a questão não é bem assim. Se o mundo tiver de acabar, decerto será por culpa do próprio homem. Essas “teorias” não têm nada de científico. Vários fatores hoje podem levar a humanidade ao seu fim. A poluição de rios e oceanos, a emissão de gases tóxicos na atmosfera, o efeito estufa, a exploração do homem pelo próprio homem, uma guerra nuclear etc, etc, etc...

Ficou todo mundo de boca aberta com a explicação do sujeito. O Vado não se aguentava de tanto orgulho do filho.
- Esse é meu moleque! Sabido igual ao pai.

Seu Neco, que estava desde o começo calado num cantinho, resolveu interferir no sucesso de seu adversário intelectual.
- O doutô vá me desculpando! – começou – Mas tá tudo errado.

Os homens ao redor da mesa olharam ao mesmo tempo para o velho sábio ressurgido das cinzas. Viria agora um duelo de Titãs. – imaginavam todos. Seu Neco se abancou e disparou a falar.
- Vocês devem estar acompanhando as notícias. Recentemente, uma universidade lançou um estudo sobre o número de habitantes do planeta. Hoje somos quase 7 bilhões de pessoas. E o grande problema é que não há um plano de controle demográfico. A grande quantidade de seres humanos no planeta é que levará a humanidade pro buraco, pro Apocalipse.

Silêncio. O filho do Vado do Oião, com a mão no queixo, pensava. O Vado, todo ofendido, rebateu:
- Isso num tem nada a ver, Neco. Deixa de conversa fiada!
- Não, pai. Talvez faça sentido. Explica melhor, Seu Neco. – pediu o filho do Vado.

Enchendo o peito, o velho sábio soltou:
- O mundo vai se encher de tanta gente, mas tanta gente, e vai ficar tão pesado, mas tão pesado, que das duas, uma: ou o povo cai pra fora do mundo ou o mundo despenca de vez, meu filho!

3 comentários:

Mário Júnior disse...

Piada fraquinha, hein... :p

Mário Júnior disse...

Parou? Greve?

Não sei bem... disse...

Esse texto me reportou a minha infância...um lugar totalmente diferente ao resto do todo ... ele ainda está lá ... intacto ... perfeitamente igual a sempre ... os seus " Necos" ainda estão sentados nas portas dos bares filosofando a filosofia mais pura caninha da roça... e acha apocalipse.Sorriso ... Muito bom...
Marta