Tem um versinho
cômico do Luis Fernando Veríssimo que diz: “O homem não é o único animal que
faz sexo, mas é o único que precisa de manual de instrução.”. Essa é uma
daquelas verdades incômodas. Daquelas que nos deixam um pouco envergonhados
enquanto espécie. Ninguém precisa, por exemplo, dizer a um leão ou a um macaco
como é que se faz a “coisa”. O bicho vai lá e faz, instintivamente. Não
pergunta aos amigos, não consulta o Kama Sutra, nem pesquisa na internet. Com a
gente é mais complicado. Tem que aprender todos os dias. Do contrário, não faz
bem feito. É a incessante busca pelo know-how. É isso.
Com o passar do tempo, diferente dos outros seres, o homem e a mulher foram ficando mais complexos, criaram necessidades antes inexistentes e modificaram o mundo e a si mesmos. Todas as nossas atividades, inclusive as mais básicas e naturais, como é o caso do sexo, foram se sofisticando e recebendo inúmeros aperfeiçoamentos (há quem discorde). Nos primórdios da humanidade, o sexo era simples. Era só chegar e pimba! Pronto. Sem rodeios. Meio bruto, é verdade. Mas também ainda não tínhamos inventado o amor, o cinema e a banheira de hidromassagem. Hoje saímos para jantar, tomamos um vinho. Enfim, demos uma floreada.
O sexo ficou melhor,
claro. Mais prazeroso, mais criativo, mais humano (ou menos animal).
Entretanto, a sofisticação da nossa espécie e da forma como transamos cobrou um
preço. A eterna reinvenção e aprendizagem. Vira e mexe surgem umas novidades
eróticas que nos empurram para um constante processo de reciclagem. Além de
diversas posições (algumas praticáveis só por ginastas olímpicos), inventamos ainda
muitos artefatos sexuais, capazes de deixar a brincadeira mais divertida. Ou
não. A história da humanidade, assim como a do sexo, é cheia de idas e vindas.
Às vezes, a gente avança; noutras, retrocede. Se é que vocês me entendem.
Inovamos no sexo
para não cairmos no marasmo do “papai e mamãe”. Reinventamos a vida na cama
para não enjoarmos dela. Foi pensando nisso que um dia o Bira passou num sex
shop e chegou em casa com uns brinquedinhos diferentes, meio exóticos. A Mirtes,
esposa dele, vivia reclamando que a transa já não era a mesma, sempre
convencional, sem novidades. Precisavam dar uma apimentada. “Eu quero emoção,
Bira! Emoção! Entende?”, dizia ela. Aí o Bira resolveu agir.
- Amor, vem aqui
no quarto! Tenho uma coisa pra te mostrar! – gritou ele.
- O que é,
Ubirajara?! Tô vendo a minha novela! – respondeu a Mirtes, entrando no quarto.
- Calma, amor.
Você vai gostar. Senta aqui na cama e fecha os olhos.
- Pra quê isso?!
- Confie em mim,
querida. Você não queria emoção? Não queria apimentar a relação? Então. Agora fecha
os olhos e espera aí. – insistiu ele, enquanto ia buscar uma sacola no guarda-roupa.
- Vai demorar
muito? Estou perdendo minha novela.
- Só um minuto. Pronto.
Pode abrir. – disse o Bira, exibindo nas mãos duas bolinhas coloridas, uma azul
e a outra vermelha, dentro de uma embalagem de plástico.
- O que é isso? Bolinha
de gude?
- Não, não. É outra
coisa. Comprei num sex shop no centro da cidade. São bolinhas explosivas aromáticas.
- Como é que é?!
- Funciona assim.
Eu coloco essas bolinhas em você antes de a gente começar a transar. Aí, com a pressão
do movimento, elas explodem e liberam um lubrificante cheiroso que esquenta
tudo.
- Colocar em mim
uma coisa que explode e que esquenta tudo?!
- É. É só explosãozinha.
Fica tudo molhadinho, quentinho. Muito gostoso. Emocionante.
- Claro. Muito emocionante,
Ubirajara. – ironizou a Mirtes. – E você realmente acha que eu vou deixar você
enfiar essas coisas que explodem dentro de mim?! Tá pensando que minha vagina é
festa de São João pra ficar estourando bombinhas?! Endoidou, por acaso?!
- Mas, amor...
eu só queria fazer algo diferente pra gente. Agitar um pouco a relação, sabe? Não
foi você mesma que falou que queria emoção?
- Ubirajara, meu
filho, se eu quisesse ir pelos ares, iria transar com o Bruce Willis. Nem morta
você vai enfiar esses explosivos em mim!
O Bira ficou
todo murcho, decepcionado, naquele silêncio constrangido. Maior balde de água fria.
Mas não se entregou.
- Tá bom. Tudo bem.
Sem bolinhas explosivas. Ok? Talvez não tenha sido uma boa ideia mesmo. De qualquer
forma, eu também comprei uma outra coisinha. Quer ver?
- O que é?
- Fecha os
olhos.
- De novo?!
- Vai, vai. Fecha.
- Ai, meu Deus. Me
proteja, por favor.
- Abre agora.
- Mas o que é
isso?! Mais bolinhas?! É fixação?
- Calma, amor.
Essas bolinhas não explodem. Fica tranquila. São bolinhas tailandesas. É assim.
Elas ficam presas por esse cordão aqui ó, e aí eu vou enfiando uma por uma em
você. Devagarzinho. Depois, é só ir puxando. A vendedora da loja falou que você
iria ficar louca de tesão.
- Vou ficar louca,
sim. Mas é de raiva. Primeiro você pensa em colocar duas granadas na minha
vagina, como se fosse a coisa mais normal do mundo. Aí agora vem com essa
história de bolinhas tailandesas. Já viu quantas bolinhas tem nesse cordão? Uma,
duas, três, quatro... oito! Oito bolinhas, Ubirajara! Imagina se esse troço
engancha dentro de mim. Como é que eu vou ficar com essas bolinhas penduradas?!
- Ah, Mirtes. Assim
não dá. Que coisa difícil. Você também não gosta de nada. Cheia de frescura. Toda
conservadora.
- Conservadora,
eu?! Muito engraçado da sua parte. Você traz pra casa duas bolinhas que
explodem e um cordão com mais oito bolinhas da Tailândia. Quer enfiar tudo isso
em mim e ainda quer que eu aceite numa boa?! Francamente, Ubirajara.
- Também não é
assim. Você tá exagerando.
- Exagerando
nada. Se você é tão libertário, querido, então por que não enfia essas bolinhas
tailandesas em você mesmo?! Vai lá!
- De jeito
nenhum. Elas não são para serem usadas em mim. São só para mulheres.
- Que absurdo!
Seu machista idiota! Quem te disse isso?
- Ninguém. Está
escrito na embalagem. Olhe aí.
- Onde?! Onde?!
Onde está isso?
- Bem aqui, ó, onde
diz assim “bolinhas tailandesas”. Se fossem para homens, estaria escrito “bolinhos
tailandesos”.
- Ah, seu
cretino! – gritou a Mirtes, e saiu correndo atrás do Bira pelo quarto. – Vem aqui
que eu vou enfiar todas essas bolinhas em você!
Não demorou
muito, estavam os dois agarrados no chão, transando por cima das bolinhas. Emocionados.
4 comentários:
Hilariante, genial mesmo, João! Enfim vc retorna no velho e bom estilo - sarcástico, irreverente, despudorado - marca registrada de suas crônicas. Pelo amor de Deus, não não nos prive mais por tanto tempo de seu bom humor - tão necessário para a gente encarar uma segunda-feira. Sou seu fã. Abração!
Vc tem sérios problemas, cabeça! kkkkkkkkkkkkkkkkkkkk... Muito bom!
muito bom! honesto e a vida como ela é!
Sensacional João! Nunca,sequer para refletir isso rs.
Ótima crônica,parabéns.
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