Por João Paulo
da Silva
A mãe do Rodrigo
era supersticiosa, cheia dessas crendices populares que habitam o imaginário de
muita gente. Aí já viu, né? Qualquer coisinha era motivo para um “Deus nos
acuda”, literalmente. O pobre do garoto fora criado em meio a um mundo que
parecia ser governado por forças ocultas e implacáveis. Era como se
determinadas ações acarretassem, inexplicavelmente, consequências
irremediáveis. “Pisar em rabo de gato atrai malefícios”, “deixar tesoura aberta
por muito tempo dá azar”, “coruja que crocita em cima da casa, à noite, é sinal
de morte na família”. Isso só para ficar em alguns exemplos. Mas a mãe do
Rodrigo não mencionava apenas superstições ruins. Por vezes, quando o filho
tinha soluços, ela aconselhava:
- Põe um palito
de fósforo atrás da orelha que isso passa, menino!
Na bolsa, ela sempre carregava dentes de alho, figas e trevos de quatro folhas. Se, por acaso, quebrasse um copo numa festa – minha nossa! – era certeza de que vinha felicidade pela frente. Batata mesmo. Enfim, a dona vivia de crendices.
Na bolsa, ela sempre carregava dentes de alho, figas e trevos de quatro folhas. Se, por acaso, quebrasse um copo numa festa – minha nossa! – era certeza de que vinha felicidade pela frente. Batata mesmo. Enfim, a dona vivia de crendices.
O Rodrigo não
aguentava mais as ladainhas supersticiosas da mãe. Quando ele era criança, não
podia fazer nada que a velha vinha reclamar:
- Menino, pare
de apontar para as estrelas! Vai ficar com o dedo cheio de verrugas! Olha aí ô,
Rodrigo! Desemborca esses chinelos já! Quer trazer desgraça, infeliz!
Outro dia,
porém, já homem feito, o Rodrigo resolveu rebater as superstições da mãe e
quase saiu do sério. Estava ele sentado no sofá, quando ela apareceu coçando a
orelha esquerda.
- Ai filho, acho
que tem alguém falando mal de mim. Minha orelha esquerda não para de coçar.
- Mãe! Quer
parar com essa loucura?! Não tem nada a ver uma coisa com a outra. Onde já se
viu isso?! Essas crendices não existem. Não há nenhuma relação científica nisso
tudo. Essa orelha deve tá é muito suja pra coçar desse jeito.
- Suja?
- É. Vem cá pra
eu dar uma olhada nisso. Olha aí! Não falei?! Tá com o ouvido cheio de cera.
- Sério? Cheio
de cera?
- É. Tá uma
porqueira só.
- Ai meu Deus,
que bom! Quem tem muita cera no ouvido é sinal de que vai ficar rico.
- MÃE!!!!
3 comentários:
kkk muito bom! no ponto.
Muito bom!!!
Gostei,parabéns.Você é criativo e desenvolve a narrativa muito bem.
Abraços.
Oscar Nora
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