Por João Paulo
da Silva
Gente... na boa,
já tá ficando feio isso. Constrangedor, até. Mais falso do que os sorrisos do José
Serra, Geraldo Alckmin e Aécio Neves juntos. Se é pra mentir, convém mentir
direito, né?! Ninguém mais pode criticar os governos do PT, Lula e Dilma, sem
ser imediatamente acusado de “fazer o jogo da direita”, “querer o retorno do
PSDB”, ou “reproduzir o discurso da mídia golpista”. Assim fica difícil,
pessoal!
(...)
(...)
Os petistas e os
“comunistas” desbotados do PCdoB reprisaram o programa político e econômico dos
tucanos mais do que a rede Globo reprisou o filme Lagoa Azul. Em certos
aspectos, foram e são tão neoliberais quanto os próprios neoliberais. “O PT é o
PSDB de barba.”, resumiu o escritor Luis Fernando Veríssimo numa entrevista,
ainda no governo Lula.
Infelizmente, depois
de 10 anos no governo, o PT não passou de um “Não Vale a Pena Ver de Novo”, quando
deveria ter sido um "Vale a Pena Ver o Novo".
Criticar os
governos petistas não é um privilégio da direita tradicional, que, aliás, até
enfrentou uma crise por não saber o que falar quando o PT deu um
“Ctrl+C/Ctrl+V” programático. Os tucanos e as legendinhas “mamãe, eu sou reaça”
se entreolharam, perguntando: “E agora, José? O programa acabou. O petismo
mudou. E agora, José?”. Não é verdade que a tucanada e os petistas estão em
lados opostos. A disputa é apenas para ver quem administra o negócio, e não para
mudar de ramo ou rumo. No fim das contas, puxam a corda para o mesmo canto.
Bolsa Família, ampliação
do crédito e criação de empregos precários e com baixos salários não provam o
contrário. Não é porque agora posso comprar uma TV de LED, dividida em sabe-se
lá quantas prestações, que o Brasil mudou. Eu não quero o retorno do PSDB e do
DEM. Mas também não quero o PT ou as velhas formas estampadas nas carrancas de
Marina Silva e Eduardo Campos. Tudo bem que os governistas não suportem a
realidade, mas falsificá-la já é vandalismo. Afinal de contas, quem é mesmo que
faz o jogo da direita?
Vamos pensar um
pouco...
Para chegar ao
governo, o PT fez alianças que deixariam o mais pelego dos pelegos envergonhado.
Isso, claro, se os pelegos tivessem vergonha de alguma coisa. Assim como o
PSDB, para governar, o Partido dos “Trabalhadores” uniu-se a figuras escandalosas
da política brasileira, como Renan Calheiros, Collor e Sarney, por exemplo. Ah,
o mesmo Sarney que apoiou a ditadura civil e militar. A vice-presidência do
país ficou nas mãos de um mega empresário; o governo foi repartido entre
diversas legendas representantes da burguesia nacional.
Quando era presidente,
Fernando Henrique Cardoso (PSDB) criou o Fator Previdenciário, mecanismo que
dificulta a aposentadoria dos trabalhadores. Em seu governo, Lula manteve o
fator e ainda fez uma reforma da previdência que piorou a situação. O PSDB
privatizou quase tudo no Brasil: siderurgia, mineração, telefonia e o setor de
energia. Aí veio o PT e... surpresa! Fez a mesma coisa. Privatizou portos,
aeroportos, estradas e o petróleo do Pré-sal. A Dilma chamou até o exército para
garantir que ninguém iria “melar” a venda do nosso “passaporte para o futuro”.
No governo dos
tucanos, o Fernando Henrique “pagou” direitinho as intermináveis dívidas
externa e interna do Brasil com banqueiros nacionais e internacionais. Dívidas que
já foram pagas dezenas de vezes e que roubam, todos os anos, os recursos da saúde,
educação, moradia, transporte, etc etc etc. Sobre isso, o que fez o PT quando
chegou ao governo? Continuou pagando, ué. Não é certo dar calote em agiota. Concorda
comigo, Delfim?
Hoje a
presidente Dilma usa 47,19% de todo o orçamento nacional para pagar os juros e
amortizações da dívida. Mas os investimentos em saúde e educação, juntos, não somam
nem 10% do orçamento do país. Normal, pô. É como se, numa casa, os pais
decidissem que é melhor usar metade da renda para pagar os juros abusivos do
cartão de crédito do que garantir a escola e os remédios das crianças.
Com o PSDB, os
bancos lucraram muito e os latifundiários tinham um governo cachorro louco
contra os sem-terra. Com o PT, os bancos lucraram ainda mais (nunca ganharam tanto
dinheiro na vida, como o próprio Lula disse), os usineiros viraram heróis nacionais
e nunca mais se ouviu aquela história de “fazer reforma agrária na terra dos latifundiários”.
Nas eleições, os
tradicionais partidos da direita, como o PSDB, DEM, PMDB, PTB, PDT, PP, PR, PSB
etc, são financiados por bancos, construtoras e grandes empresas. Depois, “ganham”
os contratos com o estado. Afinal, se representam. E no caso do PT, como é que
é? Igualzinho, ora essa. Em geral, nas campanhas, os mesmos financiadores
privados da direita financiam também os petistas. Assim, “eles ganham a corrida
antes mesmo da largada”.
E se o
financiamento é o mesmo, a roubalheira não poderia ser diferente. O PT não inventou
a corrupção. “Apenas” copiou da direita, do Collor, do Maluf, dos tucanos. A única
“injustiça” do mensalão foi os dirigentes petistas corruptos irem para a cadeia
antes dos corruptos tradicionais do PSDB e companhia. Em outra sociedade,
certamente estariam dividindo a mesma cela agora.
Ah, outra coisa.
O PT também copiou a forma de reprimir da direita. Depois que os protestos de junho
de 2013 sacudiram o país, surpreendendo tucanos, petistas e todo o resto, os
governos federal, estaduais e municipais resolveram colocar as garras de fora. Começou
o “balé quebra nós”. É spray de pimenta, bala de borracha, prisão, acusação por
“formação de quadrilha”, Lei de Segurança Nacional, lei que enquadra
manifestante como terrorista, etc etc. E tudo isso por quê? Simplesmente porque
as pessoas foram às ruas cobrar que os serviços públicos recebam o mesmo
tratamento dado pelos governos à Fifa.
O curioso é que
o PT surgiu assim, dessas multidões nas ruas, dos trabalhadores exigindo seus
direitos. Mas aí... se misturou com quem não presta (leia-se burguesia) e...
deu no que deu. Agora, enquanto a saúde e a educação estrebucham no chão da
sala, o Brasil torra R$ 20 bilhões dos cofres públicos em um evento privado de
uma organização bilionária e corrupta. Aí os governistas, nervosinhos que estão,
estranham os protestos e esperneiam: “Cuidado com esse pessoal que vai pra rua
tentar melar a Copa!”, “Querem derrubar o governo!”, “Querem a volta da
direita!”.
Agora me diga
aí, cara pálida. Depois de tudo o que o PT fez (ou não fez), das esperanças que frustrou,
das lutas que traiu, da gente com quem se aliou, sou eu mesmo que faço “o jogo
da direita”? Tem certeza? Então tá “serto”.
Mas se você é
daqueles que ainda sonha com uma profunda mudança socialista no Brasil, para
acabar com o poder dos bancos e grandes empresários, garantindo ampla
democracia para os trabalhadores, saúde, educação, transporte, moradia etc, então
você não tem mais nada pra fazer no PT nem no PCdoB (e muito menos na direita
de sempre!). Volte pras ruas, onde tudo começou. Vamos fazer diferente dessa
vez.
2 comentários:
Bastante didático, concordo plenamente. É impossível fazer o jogo da direita, uma vez que é a direita que está no governo representando pelo seu mais novo sócio, o PT.
Bastante didático, concordo plenamente. É impossível fazer o jogo da direita, uma vez que é a direita que está no governo representando pelo seu mais novo sócio, o PT.
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