Aconteceu um dia
desses em Mossoró, no interior do Rio Grande do Norte. Eu tinha viajado a
trabalho, como de costume. Talvez você não saiba, mas sou jornalista, embora
isso não queira dizer muita coisa. Bom, era noite. E eu tinha acabado de fechar
algumas matérias para o jornal. Estava cansado. Precisava relaxar. Foi aí que resolvi
dar um pulo no bar da esquina pra tomar uma cerveja e arejar um pouco as
ideias. Mas não pretendia demorar muito. Afinal, queria voltar a tempo para ver
a minha novela das nove. Por isso, pedi apenas uma gelada e um pequeno
aperitivo. Iscas de peixe. Adoro iscas de peixe, ainda mais com um limãozinho
por cima. Enfim, eu estava querendo aliviar as tensões. Ficar tranquilo. Nada
de estresse. Mas a vida é dura e às vezes o pastel vem estragado.
Na mesa da frente, havia um sujeito esquisito. Magro, alto, cabeçudo. Feio pra cacete. Fumava um cigarro atrás do outro. De vez em quando me olhava, como se quisesse puxar conversa. Eu fingia que não via. Queria silêncio, paz, cerveja e iscas de peixe. Nada de papo. Queria ficar na minha. Na hora, pensei: hoje dou conversa apenas pra Scarlett Johansson, e ainda assim só se ela pagar a conta. Eu estava cansado. Mas o magricela começou a olhar insistentemente, como quem está prestes a falar alguma coisa. Primeiro perguntou se a fumaça do cigarro dele atrapalhava. Respondi que não. Na verdade, nem falei. Só balancei a cabeça, pra não encorajar o cara. Não teve jeito. Depois, quando me dei conta, o chato já falava pelos cotovelos. O tempo, o calor, as nuvens. Começa assim. Puta merda!
Na mesa da frente, havia um sujeito esquisito. Magro, alto, cabeçudo. Feio pra cacete. Fumava um cigarro atrás do outro. De vez em quando me olhava, como se quisesse puxar conversa. Eu fingia que não via. Queria silêncio, paz, cerveja e iscas de peixe. Nada de papo. Queria ficar na minha. Na hora, pensei: hoje dou conversa apenas pra Scarlett Johansson, e ainda assim só se ela pagar a conta. Eu estava cansado. Mas o magricela começou a olhar insistentemente, como quem está prestes a falar alguma coisa. Primeiro perguntou se a fumaça do cigarro dele atrapalhava. Respondi que não. Na verdade, nem falei. Só balancei a cabeça, pra não encorajar o cara. Não teve jeito. Depois, quando me dei conta, o chato já falava pelos cotovelos. O tempo, o calor, as nuvens. Começa assim. Puta merda!
- Não me leve a
mal, mas no quê o senhor trabalha? – perguntou ele.
- Sou
jornalista. – pensei em dizer que era pistoleiro.
- Hum... Interessante.
Então você deve lidar com muitas informações.
- Algumas.
- Deve ser um
homem que sabe de muita coisa.
- O suficiente. –
tentei usar respostas monossilábicas, na esperança de que ele desistisse de falar.
- Bom, eu também
trabalho com informações. Informações que talvez possam lhe interessar.
- E o quê poderia
me interessar?
- Tenho vídeos e
documentos secretos. Coisa quente. De gente importante. Comprometedores.
- É mesmo? De quem,
por exemplo?
- Guardo comigo
segredos graúdos de ministros do STF.
- Sei... do
Supremo? – o cara era maluco. Com aquele papo de doido, só podia ser.
- Sim. Do
Supremo. Sei muita coisa também envolvendo o alto escalão do governo. Informações
que podem derrubar muita gente e abalar o regime.
- Entendo. E por
que resolveu contar isso logo pra mim? – resolvi entrar no jogo do magricela.
- Fui com a sua
cara. Essas informações poderiam ser úteis pra você, já que é jornalista.
- E do que se
trata? – só podia ser brincadeira. Acabei dando corda.
- Não posso
dizer aqui. Temos que marcar um encontro, em outro lugar. Aí lhe passo o
material.
- Sei... –
desconfiei que o sujeito quisesse me comer. Ou, no mínimo, me roubar.
- Posso anotar
seu telefone e email? – insistiu o cabeçudo.
- Claro. – ditei
número e endereço falsos. Tenho apenas a cara de besta.
- É coisa
pesada. Garanto.
- Imagino. Como
consegue as informações?
- Tenho meus
contatos. Pessoas certas, nas horas e locais certos.
- Muitas
informações podem fazer de você um homem perigoso. – insinuei. Já me divertindo
com o maluco.
- Perigoso para
quem?
- Depende das
circunstâncias. Mas você é quem deve saber. Lembre-se que coisas desse tipo
também fazem de você um alvo. – falei sério, com o rosto fechado, embora estivesse
explodindo em gargalhadas por dentro.
- Isso é um
aviso pra mim?! – ele se assustou.
- Não, não, não.
Fique tranquilo. Eu não mando avisos. Eu sou o aviso. – dei uma de James Bond.
- Você é
esperto, mais do que eu imaginei. – o magricela sorriu. Faltavam-lhe três dentes,
pelo menos.
- Não tanto
quanto você, eu suponho.
- Olha, quer
saber a verdade?
- Sempre.
- Trabalhei para
o Mossad por três anos. Você sabe o que é o Mossad, não sabe? – foi a gota d’água.
Definitivamente, o cara era maluco. De todo modo, pus a mão na faca em cima da
mesa e pedi a conta.
- Claro que sei.
Mas, se me permite, posso lhe fazer uma última pergunta?
- Sim. À
vontade.
- Conhece aquele
ditado popular que diz: “o peixe morre pela boca”?
- Isso agora é
uma ameaça pra mim, não é? – ele esbugalhou os olhos, assustado novamente. Enquanto
respondia a pergunta, fui levantando lentamente da cadeira.
- Você não
deveria falar demais, muito menos para alguém que nem conhece direito. Mas
fique tranquilo. Você não vai morrer hoje. Não pelas minhas mãos. Até outro
dia. – toquei o ombro dele e sai do bar, com um sorriso no canto da boca.
Um espião do
serviço secreto israelense em Mossoró?! E ainda por cima banguela?! Francamente.
Amadores... essa gente não se emenda.
Um comentário:
A diversão às vezes vem qnd menos queremos kkk é cada amador louco, louco amador
Postar um comentário