segunda-feira, 27 de julho de 2009

Ter ou não ter diploma? Eis a questão!

Por João Paulo da Silva

Vou entrar na polêmica. E não é apenas porque diz respeito a minha profissão. Escrevo porque o assunto tem mais relevância do que aparenta. Estou opinando com um pouco de atraso, é verdade. Mas ainda em tempo de pegar os patrões e o STF pelo pescoço e dizer umas verdades.

A discussão da obrigatoriedade do diploma não é recente, já tem um tempo. Entretanto, ganhou um importante destaque nos últimos anos, fazendo muita gente opinar sobre o assunto. Do meu canto, eu acompanhava todo tipo de argumento utilizado para defender o fim da obrigatoriedade.

A decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), no dia 17 de junho deste ano, motivada por uma ação protocolada pelo Sindicato das Empresas de Rádio e Televisão do Estado de São Paulo, veio coroar uma verdadeira rasteira nos trabalhadores da área.

O ponto chave da resolução é que agora as empresas têm o caminho livre para fazer o que quiserem. Isto significa, necessariamente, demitir e rebaixar salários sem ter que dar satisfações a ninguém, nem mesmo aos sindicatos. Tudo o que os patrões sempre desejaram. E, coincidentemente, o ataque ocorre durante a maior crise econômica desde 1929. Intrigante, não?

Para esconder os reais motivos da determinação e legitimar a trapaça, as empresas, o STF e uma porção de jornalistas picaretas inventaram todo tipo de argumento fajuto. O espertalhão do Gilmar Mendes, por exemplo, afirmou, assim como tantos outros, que a exigência do diploma era um obstáculo à liberdade de expressão. Eis aqui um aspecto curioso.

Aqueles que dizem que o diploma fere a liberdade de expressão deveriam, então, em primeiro lugar, enfrentar o capitalismo. Este, sim, impede os indivíduos de expressarem suas ideias em qualquer lugar. É preciso ser muito mau-caráter para afirmar que os jornalistas podem escrever o que bem entendem nos jornais.

O Cláudio Abramo tem uma frase interessante: “A liberdade de imprensa é a liberdade do dono do jornal”. É verdade. Não é a exigência do diploma que impossibilita alguém de escrever e expressar suas opiniões, e sim os interesses econômicos. É aquela velha história: negócios são negócios. Até há espaços nos jornais dedicados a pessoas que não são jornalistas, onde é possível escrever sobre o assunto de sua preferência. Desde que não fira os... bem, você sabe.

Pegando carona nos devaneios do Gilmar Mendes, o ministro Cezar Peluso alegou que o diploma em jornalismo não garante a eliminação do mau exercício da profissão, da deficiência de caráter e da falta de ética. Na hora pensei que ele estivesse brincando. Mas acho que alguém deveria ter perguntado ao ministro qual o curso que assegura toda essa moralidade no trabalho. Não conheço nenhum.

Me impressionou, também, o argumento de que nos EUA, na Alemanha e na França o diploma não é obrigatório. Sobre este ponto, direi apenas o que mamãe dizia quando queria me ensinar a pensar por minha própria cabeça. “Se alguém mandar você comer cocô, você vai comer, infeliz?!”.

Outra questão do debate, que cheguei a ouvir e ler em alguns lugares, é a seguinte: já que as escolas de jornalismo são ruins e não formam um profissional qualificado, então por que cargas d’água é preciso um diploma? Não há nenhum problema em discutir o nível dos cursos que formam um sem-número de jornalistas todos os anos. Mas este não é o X da questão. A culpa não é do diploma. No caso das universidades públicas, é do governo. Já nas privadas a culpa é do dono, que fez da educação um negócio.

Entretanto, talvez nada seja tão irritante quanto a ladainha que insiste em reduzir o jornalismo a um punhado de técnicas e a um amplo conhecimento geral. Basta escrever bem e ler bastante para ser um excelente jornalista. Isso, sim, é de um reducionismo vergonhoso. Golpe baixo.

Não tenho dúvidas de que o desenvolvimento dos meios técnicos, das forças produtivas e o aumento da complexidade social exigem do jornalista uma capacitação de nível superior. Assim como outras áreas do conhecimento humano, o jornalismo não é estático e necessita de um tratamento científico em sua elaboração. Ninguém vai à universidade só para aprender técnicas. Quem já foi a uma sabe do que estou falando.

Enfim, não há nada capaz de justificar a sentença do STF. A não ser, claro, os interesses escusos. A questão, aqui, não é de fetiche com o diploma, muito menos da vontade de colocá-lo numa moldura na parede. Trata-se “apenas” da defesa de uma categoria de trabalhadores e da sua qualidade de formação.

8 comentários:

Sandra Sena disse...

Pois é... mais que certo a frase de que liberdade de expressão é do dono... claroooOO! É por essas e outras que temos no jornal local alguns Jeferson Morais da vida. E agora como fica o futuro que eu desejava? :(

DAMINISMO disse...

SAUDAÇÕES DAMINISTAS! SALVE, SALVE JOÃO, RELMENTE... ACHO INCLUSIVE IMPORTANTE A DESMISTIFICÇÃO DO DIPLOMA COMO UM CARTÃO DE STATUS. ESSA NÃO É REALMENTE A QUESTÃO, MAS OS CANAIS CONSERVADORES DE SEMPRE DÃO A ENTENDER ISSO. AO MEU OLHAR ESSA MEDIDADA REPRESENTA UM PERIGO AINDA MAIOR NO NORDESTE. AQUI A 'CULTURA' DOS 'JORNAIS' POLICIALÓIDES; DO 'TABÃO' DE FAMÍLIA (AS MESMAS DE SEMPRE); A 'SIMPLIFICAÇÃO DA DESGRAÇA', ETC FAZEM PARTE DO COTINIANO. MACEIÓ, RECIFE, NATAL...CADA ESTADO COM SUA OLIGARQUIA E SEU CRISTIANO MATEUS, JEFERSON MORAIS, CÍCERO ALMEIDA... CREIO QUE A MEDIDA DA 'JUSTIÇA' VAI PROPORCIONAR UMA BANALIZAÇÃO AINDA MAIOR.

P.S: VC ESTAVA CERTO...OBINA É REALMENTE MELHOR QUE ETO'O!

Anderson Santos disse...

Acho que deveríamos dar uma importância maior à formação sim. Até porque sabemos que com uma boa formação, principalmente enquanto comunicador SOCIAL - e não na questão técnica -, poderemos sair profissionais mais próximos ao que dá para fazer de ético na sociedade capitalista.

Querendo ou não, pelo que eu observo, a categoria sempre pensou mais em si mesma do que na sua relação com os demais trabalhadores. Leia-se questões salariais.

Anderson Santos disse...

Sobre a decisão do diploma em si, é claro que é uma perda muito grande para os trabalhadores jornalistas, já que sua vida depende dos patrões, ainda mais do que antes.

O pior foi ouvir o Gilmar Mendes igualar a informação numa "sociedade democrática" com o cozinhar. Realmente, nem a tradicional hipocrisia ele soube ter.

André Luis disse...

Caro João, esperava sua opinião oficial para me expressar sobre isso. Esperava também alguma argumentação sua sobre o porque da necessidade do diploma, nisso fiquei a ver navios.
Eu acredito que não há liberdade de expressão, bem sabemos disso.
Também sei da real intenção ao retirar a obrigatoriedade do diploma, precarizar as condições de trabalho, rebaixar os salários, tudo isso, eu sei.
Bom, aqui em Alagoas vemos muitos jornalistas se formando e não tendo emprego. E tem muito jornalista antigo, ruim, que se apegava ao fato de que o sindicato garantia sua estabilidade pelo fato de que apenas os que tinham diploma poderiam exercer a profissão.

Veja bem, eu sou da opinião de que qualquer pessoa, que for considerada boa o suficiente para ser empregada como jornalista, que seja.
A medicina não pode ser exercida por qualquer um, pois existe uma técnica específica, tornando necessária a universidade nesse caso. Não me parece ser o caso de jornalismo.
O meu curso, Administração, por exemplo, não tem nenhuma lei que obrigue as empresas a contratar o administrador para administrar. Qualquer pessoa que se mostrar capaz pode exercer a função.
Você toca numa questão importante, a defesa dos trabalhadores.
Sabemos que a desregulamentação da profissão foi feita com o propósito de atacar a classe. Eu sou a favor da desregulamentação, enquanto não sou convencido do contrário, mas por outros motivos.
A defesa da classe João, não pode ser feita através do apego ao diploma, isso sim me parece manter a classe acomodada. Somente a mobilização da classe é que poderá ir em defesa da profissão, incluindo inclusive outras pautas.

Enfim, espero novos capítulos deste bom debate.

André Luis Santos Freitas

Bruno MGR disse...

Cara, eu sempre soube que algo amparado pela classe patronal só podia ser uma roubada descarada.
Parabéns por trazer o tema à tona.
Abração!

Estêvão dos Anjos disse...

Tava curioso em saber sua opinião sobre isso, afinal vc nos abandonou ne?
agora ja sei :)

AF Sturt Silva disse...

O bom texto sobre o assunto.Concordo contigo.
Valeu...