domingo, 22 de abril de 2012

Doadores

Por João Paulo da Silva

“Você desmaia quando vê sangue? Tem gente que morre porque não vê.” Jurandir tinha visto este anúncio publicitário não sabia onde. Numa revista, talvez. Mas já fazia um tempo. Era uma dessas campanhas de incentivo à doação. Achou criativa. Ele nunca tinha doado sangue na vida. Pelo menos até a semana passada. Não que fosse um sujeito egoísta, mas é que sempre foi um daqueles que desmaia quando vê sangue. Principalmente se for o próprio sangue.

domingo, 8 de abril de 2012

O medo da morte

Por João Paulo da Silva

Nietzsche dizia que existir é doloroso porque o mundo é doloroso. O filósofo alemão, entretanto, também afirmava que muito pior do que a dor da existência é a dor do “deixar de existir”. A verdade é que nós nos apegamos bastante ao que a vida tem de melhor; e talvez seja por isso que não queiramos morrer. Mesmo com as contradições sociais do mundo tornando difícil a nossa existência, nós gostamos de viver, e a possibilidade da morte é sempre uma aflição que nos persegue. Fazemos de tudo a fim de retardar o irremediável. Evoluímos a medicina, a nutrição, os exercícios físicos, as condições de vida, etc etc etc. Brigamos com a natureza de todos os seres e com o planeta para garantir maior longevidade. Mas, para afugentar a dor que vem com o destino final e com a perda, não fazemos outra coisa a não ser criar uma porção de ilusões místicas e religiosas. É fato: não lidamos bem com a morte.

domingo, 1 de abril de 2012

E o humor ficou órfão...

Por João Paulo da Silva

Tudo o que ele fez foi sucesso de crítica e público. Em mais de 70 anos de carreira, usou sua inteligência corrosiva e seu humor fulminante para escrever, “sem borracha”, o próprio nome entre os maiores intelectuais e artistas do Brasil. Foi jornalista, desenhista, cartunista, humorista, dramaturgo, escritor, fabulista, frasista, tradutor e inventor. Foi dele a ideia do frescobol. A única prática esportiva sem vencedores ou perdedores. Era dono de um gênio tão inquieto quanto brilhante. Uma daquelas cabeças que não veremos nunca mais. Millôr Fernandes era um homem múltiplo, de múltiplos talentos, de múltiplas facetas. E foi assim até na hora do adeus definitivo. Morreu aos 88 anos de falência múltipla dos órgãos.