domingo, 28 de março de 2010

Mata de orgulho

Por João Paulo da Silva

Há algum tempo o Brasil é motivo de orgulho. Para os ricos, é claro. A Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos, por exemplo, a serem realizados em terras tupiniquins vão encher de ilusões os olhos do povo, e de “money” os bolsos dos magnatas. A entrega, feita por Lula, de R$ 300 bilhões dos cofres públicos para salvar empresários e banqueiros da crise econômica também foi motivo para morrer de orgulho. Só quem perdeu o emprego e continua na rua da amargura sabe do que estou falando. Entretanto, o país já tem outra grande razão para se orgulhar. O nobre deputado federal Paulo Maluf entrou para uma importante lista internacional: a de procurados pela Interpol.

Maluf foi incluído na lista a pedido da Promotoria de Nova York. Há três anos, a Justiça americana determinou a prisão do nosso medalha de ouro em corrupção pelos crimes de conspiração, auxílio na remessa de dinheiro ilegal e roubo de dinheiro público em São Paulo. O malandro é acusado de desviar recursos de obras e remetê-los para Nova York. Depois, para a Suíça, Inglaterra e Ilha de Jersey, outro paraíso fiscal. Uma parte do dinheiro roubado pelo recordista olímpico Maluf ainda foi investida na Eucatex, uma empresa do ex-prefeito de São Paulo. Ah, já ia esquecendo. O filho do deputado, Flávio Maluf, também é acusado pelos mesmos crimes. Estima-se que o roubo chegue a mais de US$ 11 milhões. Me mata de orgulho esse rapaz. E de fome e na porta dos hospitais o restante do Brasil.

Foi pensando nessa nova razão para nos orgulharmos que eu resolvi propor uma homenagem ao Maluf. Afinal, um homem que já nos deu tantas alegrias merece um pouco de reconhecimento na vida. Minha proposta é a seguinte: quando o Maluf morrer – que isso não demore, pelo amor de Deus – penso que ele não deve ser cremado ou sepultado. Defendo que o Maluf seja empalhado e exposto no MASP (Museu de Arte de São Paulo), numa sessão especial que receberá o título de “Grandes Mestres da Corrupção Mundial". Acho, inclusive, que esta obra-prima da bandidagem deve viajar em exposição pelos principais museus da Europa e da América do Norte. Convenhamos, meter a mão no dinheiro público é uma arte que exige muito talento, possível apenas em democracias como a nossa.

Mas isso não é tudo. Também vou defender que o Maluf se torne patrimônio da cultura nacional. E que a biografia do notório ladrão seja disciplina obrigatória em todas as escolas do país, com o objetivo de que as futuras gerações saibam exatamente que tipo de exemplo não seguir. Outra importante proposta é instituir o Dia do Tomate no Maluf. A ideia é criar um feriado nacional, no qual todos os brasileiros teriam a oportunidade de acertar um tomate na cara do Maluf. Bom, ideias não me faltam. Até ele morrer, eu já terei acumulado uma Bíblia de propostas.

Ah, uma última coisa. Agora que é sócio de uma das mais importantes listas de procurados do mundo, Paulo Maluf pode ser preso a qualquer momento, basta entrar em um dos 181 países que são membros da Interpol. Tá aí. Essa eu pago pra ver.

domingo, 7 de março de 2010

O lugar da mulher

Por João Paulo da Silva

Como prova de que este cronista odeia ver injustiças, hoje pretendo esclarecer algumas mentiras a respeito das mulheres. Você, obviamente, já escutou (ou até mesmo já disse) que “lugar de mulher é em casa, cuidando dos filhos e do marido”. Ou ainda que determinada ocupação “não é trabalho para uma mulher”. Ou talvez muito pior: “por natureza, a mulher é um sexo inferior ao homem”.

Durante vários séculos, milênios até, bravatas como essas foram difundidas mundo afora. Na verdade, foram tão espalhadas que mesmo algumas mulheres acreditaram nessas lorotas. Entretanto, nada mais justo do que mostrar os fatos e revelar o real lugar das mulheres na sociedade. E eu dou oitenta chibatadas naquele que disser que é a cozinha.

Para não me acusarem de leviano, tudo o que eu disser aqui estará amparado por estudos antropológicos de gente importante, como Lewis Morgan, J.J Bachofen, Robert Briffault, Gordon Childe e Tufton Mason. Bom, é só um aviso para os machistas de plantão.

A vida humana na Terra tem mais ou menos 1 milhão de anos. Deste tempo, quase 99% diz respeito ao período da pré-história, na qual as sociedades primitivas reinavam absolutas, sem nenhuma forma de desigualdade social e sem qualquer tipo de abuso sobre as mulheres. A civilização, como nós a conhecemos, com a divisão em classes sociais, o casamento monogâmico e o machismo, é praticamente um bebê na história da humanidade. Tem pouco mais que 5 mil anos. Isto significa dizer que nem sempre a sociedade foi como é hoje. E, claro, nem sempre foram os homens que deram as ordens. Não fossem as mulheres, os homens ainda estariam se balançando em galhos e a humanidade não teria chegado aonde chegou.

Nas sociedades primitivas, a economia era comunitária e ninguém era dono de nada. Tudo o que fosse colhido ou produzido pertencia a toda a tribo. Essa forma de organização social garantia a igualdade entre todos, sob todos os aspectos. Neste período, por exemplo, as mulheres gozavam de prestígio, respeito e eram sexualmente livres. Não precisavam casar para ter o sustento do dia a dia.

Em nossa sociedade de classes, costuma-se dizer que por causa de suas funções reprodutoras a mulher é um ser frágil e inferior. Antigamente, porém, as coisas não funcionavam assim. Era justamente em razão de sua maternidade que a mulher era tão importante na sociedade primitiva. Era o famoso matriarcado.

A responsabilidade pela perpetuação da espécie estava nas mãos dela. Se morressem vários homens, isso não representava um grave problema. Entretanto, se morressem muitas mulheres, aí o negócio complicava. Exatamente por isso que em várias tribos a caça era uma atividade masculina. Não por uma questão de vigor físico e habilidade, mas de importância.

Foi o fato de ficarem nas aldeias para cuidarem da tribo que transformou as mulheres em produtoras e organizadoras da vida social. Você não faz ideia do que nós devemos às mulheres. Mas vou resumir.

Como os homens passavam dias caçando e correndo atrás de mamutes, as mulheres começaram a desenvolver a colheita de frutos. Afinal, não dava pra confiar que os machos voltariam com comida para a tribo. Às vezes, nem eles mesmos voltavam. Assim, a colheita era uma garantia maior.

Depois, as mulheres passaram para uma horticultura bem rudimentar até chegarem ao cultivo mais especializado da terra com a agricultura. Isso permitiu que elas desenvolvessem a maior parte dos instrumentos, conhecimentos e técnicas de conservação de alimentos que temos notícia. Mas não pararam por aí.

Enquanto a gente corria atrás dos mamutes, elas criavam utensílios e galpões para armazenar a comida produzida. Desenvolveram a cerâmica, a curtição de peles, a tecelagem e a construção de habitações. As primeiras descobertas e experiências da botânica, da química e da medicina também foram obras das mulheres. “Ficando em casa”, elas edificaram o progresso social.

Foram elas as primeiras agricultoras, trabalhadoras industriais, engenheiras e professoras, já que era necessário desenvolver a inteligência para passar toda a herança cultural para as outras gerações. Até o domínio do fogo e a domesticação de animais são responsabilidades delas, que aprenderam com isso a caçar pequenos roedores. As mulheres fizeram tudo. E nós, homens, onde estávamos? Correndo atrás de mamutes, claro.

As primeiras mulheres passaram quase 1 milhão de anos trabalhando no desenvolvimento da base de tudo que conhecemos. Entre descobertas e experiências, as mulheres fizeram a humanidade avançar. Garantiram, inclusive, a emancipação dos homens, que pegaram uma baita de uma carona em todo o trabalho feito pelas mulheres. Até mesmo o mérito da criação de nossa linguagem articulada pertence a elas. Como estavam sempre juntas trabalhando e nós, homens, precisávamos ficar em silêncio para caçar, as mulheres acabaram por desenvolver a fala. Não é por acaso que hoje elas são as melhores oradoras e escritoras.

Um último exemplo, muito emblemático por sinal. Aquela história de que, por natureza, as mulheres são fisicamente inferiores aos homens também é lorota. Como trabalhavam duro, elas desenvolveram os músculos e muitas vezes carregavam pesos que nenhum outro homem da tribo conseguia carregar.

Só há um aspecto da evolução humana, na época das sociedades primitivas, em que as mulheres falharam: a depilação. Segundo alguns estudos, o hábito feminino de se depilar surgiu apenas no período da civilização e Cleópatra teria sido a primeira mulher no mundo a fazer depilação. Quer dizer, por quase 1 milhão de anos as mulheres foram seres peludos.

Bobagens a parte, resta dizer que toda essa organização social regida pelas mulheres primitivas foi usurpada e deturpada pelos próprios homens, que se apoderaram de tudo o que foi desenvolvido e fundaram a propriedade privada, as classes sociais, o machismo, o casamento monogâmico e toda essa porcaria de sociedade que temos hoje.
Enfim, o verdadeiro lugar da mulher é no comando do mundo. Hora de devolvê-lo a elas. Às trabalhadoras, claro.