segunda-feira, 28 de maio de 2007

Um segundo a mais de amor


Ando tão cansado
De sorrir para todos,
Me engasgo de garganta vazia,
Rezo antes do suicídio,
E sinto que morro sempre ao nascer do dia.

Ando me arremessando contra um sol
Que invade meu corpo,
Mistura-se ao sangue
E faz queimar as cinzas
Dos quadros que estavam na parede.

Ando com a epiderme petrificada,
De onde brota o vermelho translúcido do sangue,
Já não sinto mais os impulsos de minha garganta seca e cortada
Que transpira sangue
Por falta de suor.

Espero que uma chuva fina caia
Para beijar as feridas,
Pois já é possível ver o vazio do prato fundo.
Enquanto meu corpo explode num grito mudo,
Lá fora o mundo me implora
Um segundo a mais de amor.

segunda-feira, 21 de maio de 2007

Tão medíocre ser humano


Os murmúrios dos invisíveis
Alimentam o desespero
Dos nossos estouros cotidianos.
Vestidos e sem flores nos olhos,
Diante dos espelhos,
Somos todos marcianos.
O tempo rasga-me os sonhos
E o mundo espreme as minhas ilusões
Entre o céu e o inferno de cada coração.
Carrego em meu peito
A angústia comum a todos os solitários
Enquanto os meus olhos transbordam as águas de outros corpos.
Sinto-me tão apertado em meus novos sapatos
Que a estrada em que sigo nem me importa,
A perfeição se mostra tão medíocre
Que é impossível ser humano ao meio-dia.