segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Lista de presentes

Por João Paulo da Silva

Natal e réveillon são tempos de festa, paz, alegria e solidariedade. Tudo bem que no resto do ano o mundo tenha sido violento, desigual, triste, cheio de sofrimento e egoísta pra diabo. Mas no Natal e no réveillon, não né?! Aí não pode. O clima deve ser outro, entende? Esses são momentos de renovar as esperanças e o espírito de humanidade (dá pra acreditar nisso?!). O Natal e o réveillon, inclusive, são as épocas mais importantes e especiais para presentear as pessoas. Uma espécie de ritual alegórico, cujo objetivo, além da obviedade de oferecer algo que se esteja precisando, é demonstrar nosso apreço pelo outro. Por isso, resolvi fazer minha listinha de presentes de Natal e fim de ano, com os nomes das figuras para quem eu gostaria de revelar toda a minha consideração. Por motivos logísticos, não cheguei a concretizar a entrega das “oferendas”, mas acredito que já valeu pelo exercício de solidariedade. Confira aí.

1) Presidente Lula – Ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, eu daria a chance de voltar no tempo uns 20 ou 25 anos e desistir da ideia de se juntar aos grandes empresários para governar o país. Essa história de “unir um sindicalista com um grande empresário” não resolveu os problemas do Brasil. Ao contrário, manteve a mesma política do passado e ainda trouxe mais confusão.

2) Parlamentares – Aos espertalhões do Congresso Nacional, meu presente seria a troca de seus “baixos” salários pelo valor do nosso mínimo. Todos os trabalhadores do país passariam a ganhar R$ 26 mil, enquanto os parlamentares receberiam R$ 510, talvez R$ 540. Não sei ainda. Poderíamos negociar.

3) Vice-Presidente José Alencar – Para o empresário têxtil e ainda vice-presidente da República, decidi ser mais humano. De minha parte, José Alencar receberia um tratamento completo e especializado contra o câncer que enfrenta há mais de 10 anos. O tratamento seria pelo SUS, claro. Com direito a espera de um ou dois anos para marcar uma cirurgia.

4) Dilma Rousseff – Já que a presidenta eleita está preparando um presentinho de grego para o povo brasileiro logo no início de 2011, nada mais justo do que retribuir na mesma moeda. Para Dilma Rousseff, eu daria uma aposentadoria pelo INSS nos moldes de sua nova reforma da previdência.

5) José Serra – Sem sombra de dúvidas, ao Serra eu daria um Super Capacete Protector Tabajara, muito eficiente contra ataques de bolinhas de papel. Afinal, num país com atentados terroristas de tamanha magnitude, ninguém está seguro sem um capacete desses.

6) José Roberto Arruda – Para o ex-governador de Brasília, meu presente não poderia deixar de ser um grande panetone, da marca Panetonegate, fabricado exclusivamente no Distrito Federal e recheado com você sabe o quê.

7) José Beltrame – Para um homem de ideias arejadas, bom gosto e de intelecto refinado, como o Secretário de Segurança do Rio de Janeiro José Beltrame, eu daria o Mein Kampf (Minha Luta), de Adolf Hitler, além de um pôster em tamanho natural do autor do livro. Eu sei que ele adoraria.

8) Sarney, Renan Calheiros e Maluf – Aqui, o presente é triplo. Aos baluartes da corrupção brasileira, inspiração para tantos parlamentares, eu ofereceria a mesma camisa que veste os Irmãos Metralha. Traje que os três, inclusive, deveriam usar em todas as sessões no Congresso.

9) Silvio Berlusconi – O primeiro-ministro da Itália não merece outro presente que não seja um medieval cinto de castidade. Berlusconi ainda precisa de um legítimo sapato de couro italiano. Não para calçar, mas para enfiar na boca.


10) Papa Bento 16 – Este, sim, merece um bom presente. Um kit completo de sexo seguro, com camisinhas, pílulas do dia seguinte, anticoncepcionais e tudo mais que tiver direito. Obs.: deveria dividir o presente com padres católicos e com o ex-bispo Fernando Lugo, atual presidente do Paraguai.

11) Programa Pânico na TV – A todos os integrantes do programa Pânico na TV, da Rede TV, eu daria um cérebro. Penso que esta é uma ferramenta maravilhosa e que todos deveriam ter um, até mesmo esse pessoal.

12) Vanusa – Este não seria um presente só para a cantora Vanusa, e sim para todo o povo brasileiro. A ela, eu ofereceria, antecipadamente, cópias de todas as músicas que se proponha a cantar em qualquer parte do território nacional, principalmente se for o hino do país. É só para evitar constrangimentos. Na gente, claro. Não nela.

13) Mick Jagger – Para o líder dos Rolling Stones, meu presente seria um kit “xô pé frio”, contendo um trevo de quatro folhas, uma ferradura, uma carranca (além da dele!), dois pés de coelho, três figas, um galhinho de arruda, um olho grego e uma dezena de escapulários. Além, é claro, de um banho com sal grosso. Para quem não lembra, durante a Copa do Mundo de 2010, Mick Jagger consagrou-se como o maior pé frio de todos os tempos. Todas as seleções para quem ele torceu foram desclassificadas, incluindo a nossa.

14) Sílvio Santos – Ao Sílvio Santos, eu daria um joguinho do Banco Imobiliário, só pra ele ir treinando.

15) Deputado Tiririca – Bom, ao Tiririca meu presente seria educativo. Para o deputado mais votado em 2010, eu daria uma cartilha do programa Brasil Alfabetizado, do governo federal. Assim, ele poderia justificar que não aprendeu a ler pela mesma razão que os mais de 14 milhões de analfabetos do país também não aprenderam.

Feliz ano novo, abestado!

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Estado mínimo e Estado máximo

Por João Paulo da Silva

Nos anos 70, crescia e ganhava força a ideia de que o Estado deveria se desocupar de suas responsabilidades sociais e da prestação de serviços públicos gratuitos, como saúde e educação. Na época, diante de uma crise econômica profunda, os donos da “bufunfa” disseram que era preciso desinchar a máquina estatal e inchar os seus próprios bolsos. Sem essa de assistência social, investimentos em áreas não rentáveis e interferência do Estado nos negócios. A palavra-chave era liberdade. Mas para o mercado, não para as pessoas. Para fazer a economia voltar a crescer, era preciso reinventar o espírito de Robin Hood, só que às avessas: tirando dos pobres para dar aos ricos. Aí o FMI, o Banco Mundial e os governos se encarregaram do serviço. Privatizações e pagamentos regulares de juros de uma dívida impagável a banqueiros inauguraram o neoliberalismo e a conversa mole do Estado mínimo.

O Rio de Janeiro talvez seja um dos mais trágicos exemplos das consequências neoliberais do capitalismo, o que se confunde com o próprio conceito de capitalismo. A guerra nos morros cariocas é o reflexo manchando de sangue do encontro entre dois tipos de Estado. O Estado mínimo da assistência e o Estado máximo da violência. Só os responsáveis diretos pelos problemas sociais acreditam que a criminalidade é apenas um caso de polícia e que pode ser resolvida com a política do “mandar bala”. Lula e Sérgio Cabral estão combatendo o que eles e os governos anteriores mesmos criaram. A criminalidade não surge através de geração espontânea, assim como também ninguém nasce bandido, nem assaltante dá em árvore. A vida real não se movimenta pelo maniqueísmo barato dos filmes de ação e gibis de super-heróis, como gosta de fazer parecer a cobertura da imprensa. Nossos problemas vão além do bem e do mal, além da divisão entre mocinhos e vilões. A questão, na verdade, é de classe; de classes sociais, de quem tem acesso e de quem não tem acesso.

Se a repressão policial fosse a solução, o Brasil já seria pelo menos a Noruega. Afinal, as invasões policiais nos bolsões de miséria não podem ser contadas nos dedos, a não ser que você seja uma centopéia. Quando o assunto é garantir o atendimento às necessidades básicas do povo, como saúde, educação, emprego e moradia, o Estado se torna mínimo. Desaparece por completo, ao melhor estilo de “tudo o que é sólido se desmancha no ar”. Entretanto, quando a conversa é reprimir aqueles que foram empurrados para os braços do narcotráfico e da violência, aí o Estado é máximo. Aí tem Bope, Exército, Marinha, Aeronáutica e até Tropas Estelares. Aí vale revistar todo mundo, roubar trabalhador e atirar no primeiro preto pobre que correr.

Enquanto a única coisa que subir o morro for o fuzil, não haverá ponto final nessa história. Apenas cenas dos próximos capítulos.