domingo, 24 de junho de 2012

O ronco

Por João Paulo da Silva

Chamar o ronco do Osvaldo de ronco era eufemismo. Ronco é o ruído que você e eu fazemos dormindo. Não era o caso do Osvaldo. O dele estava mais para aquele barulho que motor de caminhão velho faz. Não, minto. Era pior. Sabe o som que vem de dentro das cavernas nos filmes de dragão? Pronto. Algo semelhante. Uma coisa horrorosa. De tão alto, ouvia-se até do lado de fora da casa. Dava a impressão de que iria derrubar as paredes. Com exceção da dona Margarida, casada com o Osvaldo há 40 anos, ninguém agüentava o ronco estrondoso. Os filhos, assim que puderam, casaram e saíram de casa. Dona Margarida não tinha essa opção. Quer dizer, até tinha, porém o amor foi maior do que o ronco. Por mais incrível que isso possa parecer nos dias de hoje. De certa forma, a esposa acabou se acostumando com a sinfonia apocalíptica do marido. A resignação, evidentemente, veio com o tempo, como quase tudo na vida. Os anos se encarregaram de tornar habitual a poluição sonora do Osvaldo. Chegou uma época, inclusive, em que dona Margarida era capaz de acordar com uma buzina na rua, mas não mais com os rugidos do marido. E ainda há gente que diz que a rotina não tem seu lado bom...

domingo, 10 de junho de 2012

10 coisas para fazer antes do fim

Por João Paulo da Silva

Todo mundo vai morrer um dia, independente da forma. Tiro, facada, acidente, infarto, câncer, atropelamento, queda de avião, intoxicação alimentar ou mesmo falência múltipla de órgãos, que é bem mais chique. Se o sistema público de saúde funcionasse direito, é verdade que não morreriam tantas pessoas como morrem atualmente, com certeza não bateriam as botas por falta de assistência médica. Mas ainda assim elas morreriam, porque morrer é o curso natural da vida, pelo menos por enquanto. Obviamente, não descarto outras possibilidades para o nosso fim, como a destruição completa do planeta, seja por uma guerra nuclear, invasão alienígena, impacto de um meteoro gigante ou a continuidade do capitalismo. Esta última, inclusive, sendo a hipótese mais provável, caso os trabalhadores não consigam fazer o mundo mudar de sistema. Bom, o certo é que vamos virar poeira em algum momento. Pode ser amanhã ou daqui a bilhões de anos. Sem dúvida, a segunda opção é melhor.

domingo, 3 de junho de 2012

Paternidade

Por João Paulo da Silva

Dizem que ser mãe é padecer no paraíso. É uma imagem curiosa, intrigante, metafórica e repleta de significados, para o bem ou para o mal. Mas se isso é verdade, ser pai é o quê, então?! Qual a função da figura paterna na vida de um filho? No que consiste a essência da paternidade? Afinal de contas, pra quê serve um pai? Essas foram algumas das perguntas que brotaram na minha cabeça logo depois que o pequeno João Gabriel inundou os meus dias. A resposta para estas questões é uma só, e eu estou descobrindo-a aos poucos, no dia a dia, passo a passo, pedacinho por pedacinho, como num quebra-cabeça de um trilhão de peças. Embora existam muitos manuais ensinando “como ser um bom pai”, o que apenas demonstra a obsessão da humanidade por manuais, nenhum livro é capaz de decifrar aquilo que só se conhece por inteiro na prática. É verdade que se aprende um macete ou outro com algumas pesquisas no Google, mas nada substitui as primeiras descobertas, o espanto diante do desconhecido, ou até mesmo a epifania de uma fralda suja de cocô. Como se sabe, a prática é o critério da verdade.