segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

De férias. Só por hoje.

Por João Paulo da Silva

Hoje não vou escrever. Quer dizer, não vou escrever sobre assuntos relevantes. Nada de política, economia (eu acho que escrevo sobre isso), cenas do cotidiano etc. Quis me dar uma folga nesse final de semana. Afinal, ontem, 17 de janeiro, foi meu aniversário.

Cheguei aos 24 anos com certa tranqüilidade, relativamente ileso. Ainda não tenho aquela barriga saliente, típica do descuido que vem com o tempo. Voltei a me exercitar. Corro uns sete ou oito quilômetros todas as manhãs, pelo menos em tese. Quanto à perda de cabelos, já estou tomando remédio. Não vou me render. Até aceito perder os cabelos aos 40 anos. Mas aos 24 não.

Ao completar mais uma primavera, duas sensações me assaltam. A primeira é de felicidade por ter chegado até aqui. A segunda é de leve aflição por estar ficando mais velho. Por exemplo, ano que vem farei 25 anos. Ou seja, 1/4 de século. E aí já viu, né? Dos 25 aos 30, é um pulo. Depois, cada ano que passar será uma década. 40, 50, 60, 70... Isso porque estou sendo bem otimista.
Aqui em casa teve um bolinho para comemorar meu aniversário. Poucas pessoas, todas especiais. Mas parece que sempre nos falta algo ou alguém. Na hora de apagar as velinhas, fiz um pedido lindo. Claro que não vou contar o desejo. Corro o risco de não vê-lo realizado.

Bom, quero aproveitar muito esses meus vinte e poucos anos. E vou começar me divertindo. É que chegou aqui no bairro um circo bem pequenininho, muito precário mesmo. Mas parece ser feito da mesma matéria dos sonhos, o que às vezes é o mais importante.
Dentre as principais atrações, está o fabuloso e destemido domador de bodes.
E eu não vou perder isso por nada nesse mundo.

domingo, 4 de janeiro de 2009

Sobre nosso déjà vu e escolhas infames

Por João Paulo da Silva

Déjà vu. A expressão é de origem francesa e quer dizer, literalmente, “já visto”. Usando uma explicação bem simples, o fenômeno pode ser definido como uma reação psicológica que causa a sensação esquisita de estarmos revivendo experiências do passado. Ficamos com uma impressão de estranheza na cabeça. “Isto já aconteceu antes?” – nos perguntamos muitas vezes.

A cada ano que passa, Maceió vive um déjà vu. O último ocorreu no dia 31 de dezembro de 2008. Com o decreto que estabeleceu o novo valor da passagem de ônibus na capital alagoana para R$ 2,00, o prefeito Cícero Almeida ofereceu a seus eleitores mais uma daquelas incômodas impressões de repetição. Mas há um problema nisso tudo.

O déjà vu maceioense não é um déjà vu clássico. Possui uma diferença. Além do conhecido efeito repetitivo, nossa sensação do “já visto” provoca também um reajuste de preço. Há quatro anos é o mesmo déjà vu, mas sempre com um peso a mais no bolso. Penso, inclusive, que Almeida deveria ter ido a Pequim. Só em 2008 foram dois aumentos de passagem de ônibus. De fato, um recorde. Um déjà vu olímpico.

O novo valor do transporte urbano imposto por Cícero fez com que 2009 já nascesse maculado. Como se não bastassem a crise econômica e as demissões feitas pelas empresas com a permissão dos governos, Almeida ainda resolveu dar uma forcinha para aprofundar a miséria em Maceió. Não é apenas um novo aumento de passagem que está sendo imposto.

Cícero está impondo também uma opção. Agora, os trabalhadores e pobres de Maceió terão de fazer uma escolha infame: colocar mais comida em suas mesas ou pegar um ônibus para ir ao trabalho. Isso para aqueles que possuem algum tipo de renda, claro. Porque para todo o resto não há nem escolhas, o que não deixa de ser infame.

Parece que “2000inove” não será tão inovador assim. Tudo indica que os mais de 8,6 milhões de passageiros que por mês utilizam os coletivos continuarão se espremendo na insuficiente frota de 648 ônibus de Maceió. Com uma única diferença: vão pagar mais caro por isso.

A justificativa para o aumento da tarifa do transporte é uma velha desculpa esfarrapada: a elevação do preço dos insumos. Debitando na conta do povo os gastos com diesel, pneus e peças, o lucrativo setor do transporte coletivo realimenta uma conhecida máxima: privatizar os lucros e socializar os prejuízos. Há quase vinte anos utilizo os ônibus de Maceió e nunca vi os empresários pagarem a conta.
Esse ano será déjà vu atrás de déjà vu. E cada um mais infame que o outro.