segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Lista de presentes

Por João Paulo da Silva

Natal e réveillon são tempos de festa, paz, alegria e solidariedade. Tudo bem que no resto do ano o mundo tenha sido violento, desigual, triste, cheio de sofrimento e egoísta pra diabo. Mas no Natal e no réveillon, não né?! Aí não pode. O clima deve ser outro, entende? Esses são momentos de renovar as esperanças e o espírito de humanidade (dá pra acreditar nisso?!). O Natal e o réveillon, inclusive, são as épocas mais importantes e especiais para presentear as pessoas. Uma espécie de ritual alegórico, cujo objetivo, além da obviedade de oferecer algo que se esteja precisando, é demonstrar nosso apreço pelo outro. Por isso, resolvi fazer minha listinha de presentes de Natal e fim de ano, com os nomes das figuras para quem eu gostaria de revelar toda a minha consideração. Por motivos logísticos, não cheguei a concretizar a entrega das “oferendas”, mas acredito que já valeu pelo exercício de solidariedade. Confira aí.

1) Presidente Lula – Ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, eu daria a chance de voltar no tempo uns 20 ou 25 anos e desistir da ideia de se juntar aos grandes empresários para governar o país. Essa história de “unir um sindicalista com um grande empresário” não resolveu os problemas do Brasil. Ao contrário, manteve a mesma política do passado e ainda trouxe mais confusão.

2) Parlamentares – Aos espertalhões do Congresso Nacional, meu presente seria a troca de seus “baixos” salários pelo valor do nosso mínimo. Todos os trabalhadores do país passariam a ganhar R$ 26 mil, enquanto os parlamentares receberiam R$ 510, talvez R$ 540. Não sei ainda. Poderíamos negociar.

3) Vice-Presidente José Alencar – Para o empresário têxtil e ainda vice-presidente da República, decidi ser mais humano. De minha parte, José Alencar receberia um tratamento completo e especializado contra o câncer que enfrenta há mais de 10 anos. O tratamento seria pelo SUS, claro. Com direito a espera de um ou dois anos para marcar uma cirurgia.

4) Dilma Rousseff – Já que a presidenta eleita está preparando um presentinho de grego para o povo brasileiro logo no início de 2011, nada mais justo do que retribuir na mesma moeda. Para Dilma Rousseff, eu daria uma aposentadoria pelo INSS nos moldes de sua nova reforma da previdência.

5) José Serra – Sem sombra de dúvidas, ao Serra eu daria um Super Capacete Protector Tabajara, muito eficiente contra ataques de bolinhas de papel. Afinal, num país com atentados terroristas de tamanha magnitude, ninguém está seguro sem um capacete desses.

6) José Roberto Arruda – Para o ex-governador de Brasília, meu presente não poderia deixar de ser um grande panetone, da marca Panetonegate, fabricado exclusivamente no Distrito Federal e recheado com você sabe o quê.

7) José Beltrame – Para um homem de ideias arejadas, bom gosto e de intelecto refinado, como o Secretário de Segurança do Rio de Janeiro José Beltrame, eu daria o Mein Kampf (Minha Luta), de Adolf Hitler, além de um pôster em tamanho natural do autor do livro. Eu sei que ele adoraria.

8) Sarney, Renan Calheiros e Maluf – Aqui, o presente é triplo. Aos baluartes da corrupção brasileira, inspiração para tantos parlamentares, eu ofereceria a mesma camisa que veste os Irmãos Metralha. Traje que os três, inclusive, deveriam usar em todas as sessões no Congresso.

9) Silvio Berlusconi – O primeiro-ministro da Itália não merece outro presente que não seja um medieval cinto de castidade. Berlusconi ainda precisa de um legítimo sapato de couro italiano. Não para calçar, mas para enfiar na boca.


10) Papa Bento 16 – Este, sim, merece um bom presente. Um kit completo de sexo seguro, com camisinhas, pílulas do dia seguinte, anticoncepcionais e tudo mais que tiver direito. Obs.: deveria dividir o presente com padres católicos e com o ex-bispo Fernando Lugo, atual presidente do Paraguai.

11) Programa Pânico na TV – A todos os integrantes do programa Pânico na TV, da Rede TV, eu daria um cérebro. Penso que esta é uma ferramenta maravilhosa e que todos deveriam ter um, até mesmo esse pessoal.

12) Vanusa – Este não seria um presente só para a cantora Vanusa, e sim para todo o povo brasileiro. A ela, eu ofereceria, antecipadamente, cópias de todas as músicas que se proponha a cantar em qualquer parte do território nacional, principalmente se for o hino do país. É só para evitar constrangimentos. Na gente, claro. Não nela.

13) Mick Jagger – Para o líder dos Rolling Stones, meu presente seria um kit “xô pé frio”, contendo um trevo de quatro folhas, uma ferradura, uma carranca (além da dele!), dois pés de coelho, três figas, um galhinho de arruda, um olho grego e uma dezena de escapulários. Além, é claro, de um banho com sal grosso. Para quem não lembra, durante a Copa do Mundo de 2010, Mick Jagger consagrou-se como o maior pé frio de todos os tempos. Todas as seleções para quem ele torceu foram desclassificadas, incluindo a nossa.

14) Sílvio Santos – Ao Sílvio Santos, eu daria um joguinho do Banco Imobiliário, só pra ele ir treinando.

15) Deputado Tiririca – Bom, ao Tiririca meu presente seria educativo. Para o deputado mais votado em 2010, eu daria uma cartilha do programa Brasil Alfabetizado, do governo federal. Assim, ele poderia justificar que não aprendeu a ler pela mesma razão que os mais de 14 milhões de analfabetos do país também não aprenderam.

Feliz ano novo, abestado!

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Estado mínimo e Estado máximo

Por João Paulo da Silva

Nos anos 70, crescia e ganhava força a ideia de que o Estado deveria se desocupar de suas responsabilidades sociais e da prestação de serviços públicos gratuitos, como saúde e educação. Na época, diante de uma crise econômica profunda, os donos da “bufunfa” disseram que era preciso desinchar a máquina estatal e inchar os seus próprios bolsos. Sem essa de assistência social, investimentos em áreas não rentáveis e interferência do Estado nos negócios. A palavra-chave era liberdade. Mas para o mercado, não para as pessoas. Para fazer a economia voltar a crescer, era preciso reinventar o espírito de Robin Hood, só que às avessas: tirando dos pobres para dar aos ricos. Aí o FMI, o Banco Mundial e os governos se encarregaram do serviço. Privatizações e pagamentos regulares de juros de uma dívida impagável a banqueiros inauguraram o neoliberalismo e a conversa mole do Estado mínimo.

O Rio de Janeiro talvez seja um dos mais trágicos exemplos das consequências neoliberais do capitalismo, o que se confunde com o próprio conceito de capitalismo. A guerra nos morros cariocas é o reflexo manchando de sangue do encontro entre dois tipos de Estado. O Estado mínimo da assistência e o Estado máximo da violência. Só os responsáveis diretos pelos problemas sociais acreditam que a criminalidade é apenas um caso de polícia e que pode ser resolvida com a política do “mandar bala”. Lula e Sérgio Cabral estão combatendo o que eles e os governos anteriores mesmos criaram. A criminalidade não surge através de geração espontânea, assim como também ninguém nasce bandido, nem assaltante dá em árvore. A vida real não se movimenta pelo maniqueísmo barato dos filmes de ação e gibis de super-heróis, como gosta de fazer parecer a cobertura da imprensa. Nossos problemas vão além do bem e do mal, além da divisão entre mocinhos e vilões. A questão, na verdade, é de classe; de classes sociais, de quem tem acesso e de quem não tem acesso.

Se a repressão policial fosse a solução, o Brasil já seria pelo menos a Noruega. Afinal, as invasões policiais nos bolsões de miséria não podem ser contadas nos dedos, a não ser que você seja uma centopéia. Quando o assunto é garantir o atendimento às necessidades básicas do povo, como saúde, educação, emprego e moradia, o Estado se torna mínimo. Desaparece por completo, ao melhor estilo de “tudo o que é sólido se desmancha no ar”. Entretanto, quando a conversa é reprimir aqueles que foram empurrados para os braços do narcotráfico e da violência, aí o Estado é máximo. Aí tem Bope, Exército, Marinha, Aeronáutica e até Tropas Estelares. Aí vale revistar todo mundo, roubar trabalhador e atirar no primeiro preto pobre que correr.

Enquanto a única coisa que subir o morro for o fuzil, não haverá ponto final nessa história. Apenas cenas dos próximos capítulos.

domingo, 21 de novembro de 2010

De volta ao estado de natureza selvagem

Por João Paulo da Silva

Acho que foi o Rousseau, aquele filósofo francês do século XVIII, que disse que no início de tudo o estado de natureza selvagem do homem garantia a sua liberdade plena. Guiado apenas pelos próprios instintos, o ser humano precisava somente satisfazer as necessidades mais básicas. Comer e dormir, por exemplo. Com o surgimento da civilização e de todas as suas moléstias sociais, como a sociedade de classes, o casamento monogâmico e o capitalismo, nós teríamos nos distanciado de nossa condição natureba, e, portanto, dado adeus ao estado de liberdade. Excetuando-se o romantismo do Rousseau, talvez essa história de estado de natureza dos homens garantisse mesmo uma vida menos aprisionada, na qual fosse permitido o gozo de uma existência sem grandes preocupações. Resumindo: o direito de comer e dormir tranquilamente. Bom, foi nisso em que eu estava pensando quando me refugiei no meio do mato, num feriadão desses aí.

O refúgio foi o sítio de uma amiga, no município de Rio do Fogo, litoral norte do Rio Grande do Norte, a 85 km de Natal. Para fugir do corre-corre da cidade, das buzinas, da poluição e do ritmo alucinante de trabalho, era preciso voltar ao nosso estado natural de vida. Para reconquistar a liberdade usurpada, era necessário retornar à existência selvagem, ao convívio com os animais, aos braços da mãe natureza. Enfim, não podia haver contato com o mundo moderno e suas loucuras. Era um isolamento. Nada de celular nem internet. Entretanto, é claro que eu também não estava querendo viver como um autêntico homem das cavernas. E por isso a casa em que me hospedei possuía geladeira, fogão e TV. Afinal, tudo tem limite. Mas as experiências vividas longe da civilização me proporcionaram descobertas fantásticas sobre mim e o mundo selvagem ao qual renunciamos.

Logo que cheguei ao sítio percebi, rapidamente, o estrago que a distância da natureza havia feito comigo. Caminhando pelo terreno e contemplando alguns bichos, tive dificuldades para distinguir uma ovelha de uma cabra, assim como também não soube dizer o que eram tetas ou testículos em um desses animais. Mas com cavalos foi diferente, não tive grandes problemas. Inclusive, durante o meu refúgio, cheguei a montar um. Experiência fascinante. Parecíamos um só, era como se fôssemos da mesma família. Porém, apenas a mãe dele era uma égua, e que isso fique bem claro.

Com o equino devidamente selado (me refiro ao cavalo, não a mim), calcei as botas de vaqueiro e saltei no lombo do pobre. Confesso que demorei um pouco para descobrir qual das rédeas era o freio e qual era o acelerador. Depois, foi moleza. E quando percebi que para fazer o bicho disparar bastava dar umas batidinhas com os calcanhares e dizer “heyah, heyah”, aí então foi um sucesso. Cavalgando no meio da mata, com chapéu de cowboy, eu me sentia o próprio Clint Eastwood ou até mesmo o José Mayer, numa daquelas novelas de peão bruto. Mas minha investida equestre também trouxe consequências dolorosas. A falta de prática na montaria me deixou todo assado e com praticamente uma “gemada” entre as pernas. A cada galope, uma esmagada. Se é que vocês me entendem.

Outras situações da vida natureba também foram marcantes para mim, como a difícil convivência durante a noite com as muriçocas pré-históricas do sítio. Sim, porque com certeza elas pertenciam ao período Jurássico da Era Mesozóica, e não aos dias atuais. Eram dinossauros, sem a menor dúvida. Avalio que cada uma daquelas criaturas deveria medir pelo menos umas duas ou três polegadas, com ferrões do tamanho de uma seringa veterinária. Enquanto as muriçocas voavam ao meu redor, em busca de um local para picar, era possível ouvir não só o bater de suas asas como também o piscar de seus olhos. Quero cegar, se estiver mentindo. Cada “toc” que eu ouvia, era uma piscada que elas davam. Posso dizer, com toda segurança, que as bichas não picavam não. Elas mordiam mesmo. E não tinha repelente que resolvesse. A sorte da humanidade é que as muriçocas vivem apenas alguns meses. Se vivessem mais, dominavam o mundo.

Entretanto, a experiência mais reveladora que vivi nesse meu retorno ao estado de natureza selvagem foi, certamente, um rápido (mas intenso!) contato com um de nossos ancestrais primitivos. Já no final da manhã, um pouco antes do almoço, saí andando pelas redondezas do sítio em busca de árvores frutíferas. Na tentativa de encontrar uma boa fruta para um suco ou uma sobremesa, percorri alguns bananais e meio mundo de mato. Até que finalmente avistei um graúdo cajueiro, onde os cajus mais pareciam cocos, de tão grandes que eram. E que eu cegue do outro olho se estiver mentindo.

Levei um tempinho para subir na árvore, dadas as minhas condições físicas e ao fato de não existirem equipamentos apropriados, como uma escada, por exemplo. Agora, você veja o que é a civilização. Há uns dois milhões de anos, nossa espécie subia em árvores tão bem quanto qualquer chimpanzé. Hoje, sem uma forcinha da tecnologia, é uma complicação da peste. Acho que perdemos um pouco mais do que a liberdade quando nos afastamos do estado de natureza. Bom, enfim, o importante é que subi na árvore.

Eu já havia pego alguns cajus, mas fiquei hipnotizado por um bem grande e vermelho, quase no topo da árvore. Aí fui subindo um pouquinho mais, me pendurando aqui e acolá, quando ouvi uns guinchos e assobios. Instintivamente, me virei na direção do som e dei de cara com um terrível e ameaçador sagui. Ele estava a uma distância de mais ou menos uns cinco ou seis metros, o que não me impediu de perceber nos olhos do animal que minha presença não era bem-vinda ali.

- Opa, seu sagui! Então, assim, tô só passando pra pegar uns cajuzinhos. Na boa, na paz, sem conflito. – comecei a argumentar.

Mas o pequeno símio não quis conversa. Mostrou os dentinhos afiados e começou a guinchar e assobiar novamente. Aí eu também resolvi engrossar.

- Peraí, meu camaradinha. Não é assim não, hein! Tem que compartilhar as coisas, rapaz. Larga de ser egoísta. Só quero uns cajus e pronto.

Nisso, ele se enfureceu de vez e partiu na minha direção, pulando de galho em galho e guinchando com os dentes de fora. Dessa vez, quem não quis papo fui eu. Desci numa velocidade tão grande e desesperada que acabei me arranhando todinho pelo caminho, provando que o medo, em alguns casos, pode ser uma das mais poderosas forças motrizes do mundo. Foi uma cena ridícula, eu sei. Mas o fato humilhante já estava posto e era irrefutável. Eu havia levado uma carreira de um sagui, o menor de todos os primatas.

Durante dias, já de volta à civilização, fiquei pensando em todas as experiências vividas no meio da natureza selvagem, principalmente no episódio do pequeno macaco. Cheguei a duas conclusões. A primeira é a de que a ideia de propriedade privada está tão impregnada no mundo que acabou contaminando até um sagui potiguar. Do contrário, teria permitido a retirada de alguns cajus. A segunda, e talvez mais grotesca, diz respeito a minha reputação. Ter fugido da forma como fugi, diante das ameaças de um simples macaquinho, faz de mim um péssimo representante da raça humana, o que possivelmente acarretará no meu rebaixamento para outra categoria de mamíferos. Ou talvez algo pior.

Meu pai era quem tinha razão, quando muitas vezes me perguntou inconformado: “Você é um homem ou um rato?”. Sem comentários.

domingo, 7 de novembro de 2010

Sem saúde

Por João Paulo da Silva

Se você não é o Eike Batista, não é dono de banco, não acertou na loteria, vive de salário (principalmente se for o mínimo), é pobre ou está desempregado, então seja bem-vindo ao clube. Você e eu fazemos parte de um “seleto” grupo de milhões de brasileiros que não têm acesso aos serviços mais básicos para qualquer ser humano. Assim como numerosos outros companheiros, você e eu não temos direito a uma boa alimentação, a boas roupas, boa moradia, boa educação, boa saúde e um imenso etc., tão longo quanto a Muralha da China.

Quando não nos negam tudo, nos negam a qualidade de tudo. E isso só acontece porque você e eu, além de mais da metade do país, não temos dinheiro suficiente. Ou, na pior das hipóteses, não temos nem o suficiente. No Brasil e no mundo, a lógica do “pegue e pague” se impõe. Quem não tem como pagar fica à mercê do público. E o público, como se sabe, é sabotado pelos governos justamente para não funcionar e jogar você e eu nas mãos do privado, ou da privada.

Veja, por exemplo, o meu caso. Dia desses descobri, da pior forma possível, que eu tinha cálculo renal (popularmente conhecido como pedra nos rins). Tive uma crise dolorosa, mais parecia que estava parindo, e fui levado para um hospital público. Depois de um rápido exame de urina, o médico que me atendeu constatou o que a dor já havia anunciado. Em seguida, ele pediu um raio-x do abdômen para ver o tamanho do “problema” e decidir qual tratamento aplicar.

- Mas você vai ter que fazer na clínica particular aqui ao lado. A máquina do hospital está quebrada. – falou o médico.
- Quebrada? Há quanto tempo, doutor?
- Ah... deixa ver... 2, 3, 4, 5... ahhh... Bom, deixa pra lá. Há muito tempo.

Resultado? Novas consultas, exames e tratamento não puderam ser feitos no setor público. Meu cálculo renal não podia esperar seis meses por uma consulta especializada nem meu bolso aguentaria pagar novos exames particulares sempre que fossem solicitados. Mas não havia com o que se preocupar. Os planos de saúde já estavam de braços abertos, esperando por mim com todo carinho e atenção. E lá fui eu para o privado. Fiz um plano caro e tratei logo de marcar uma nova consulta. O médico passou uma bateria de exames, dos quais eu só pude fazer a metade. A outra parte, a carência do plano impedia. Mas isso eu só descobri na hora.

- Sinto muito, o plano do senhor ainda não permite a realização de raio-x do abdômen. – disse a atendente do laboratório.
- Como não?! Por quê?
- Porque a doença do senhor é preexistente. Ou seja, o senhor já tinha cálculo renal quando fez o plano.
- Mas é claro que eu já tinha! Só fiz o plano porque fiquei doente e a saúde pública não funciona, ora! Se não tivesse doente, não tinha feito o plano, cacete!
- Pois é, senhor. Nesse caso, por causa da carência do plano, o senhor só poderá fazer o raio-x do abdômen daqui a 24 meses. Mas o senhor já tem direito a raio-x do antebraço.
- E pra quê que eu quero raio-x do antebraço, moça?! Eu estou doente é dos rins!
- Infelizmente, só quando o plano de saúde completar 24 meses.
- Mas daqui a 24 meses eu não terei mais pedra nos rins, moça. Terei é o Everest nos rins! Isso é um absurdo! A gente paga a saúde privada porque a pública não funciona. Aí quando precisa usar o serviço privado, que já está pagando, não pode usar! Que loucura, meu Deus!
- Todo plano de saúde tem sua carência, senhor. É uma garantia financeira para as seguradoras.
- Garantia do quê?! De que eu não vou usar todos os serviços e depois dar um calote em vocês?!
- Exatamente.
- Ah! Então, agora eu sou caloteiro?! Era só o que me faltava.
- Acalme-se, senhor. Aceita uma água, um cafezinho?
- Aceito. Mas vão servir agora ou daqui a 24 meses?! Hein, hein!

Como não poderia ficar sem tratamento nenhum, procurei uma senhora que vende umas ervas no centro da cidade. Ela me vendeu uma planta para fazer um chá e disse que era tiro e queda contra cálculo renal. É um escândalo, eu sei. Mas se você não é pobre, não está desempregado, não vive de salário, e ainda por cima é o Eike Batista ou um banqueiro, então não precisa se preocupar. Essa não é a sua vida.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Presidente ou presidenta?

Por João Paulo da Silva

Eu poderia ter feito duas crônicas diferentes, uma para cada resultado da eleição. Mas me poupei do trabalho inútil e desgastante, já que é difícil escrever sobre diferenças entre iguais. Com Dilma ou Serra, os vencedores não seriam muitos. Nada mais do que um punhado de grandes empresários e alguns investidores de Nova Iorque. Aliás, estes têm sido os vencedores há muito tempo. A eleição de Dilma não impediu o retorno da direita ao poder. Por um motivo muito simples: a direita nunca saiu do poder. No Brasil, há oito anos a burguesia descobriu a melhor maneira de manter os trabalhadores quietos e continuar controlando o país. Trouxe o PT e sua principal liderança para o governo. Em troca, pediu que aquela história de esquerda, socialismo e luta de classes fosse deixada de lado. E foi.

Em oito anos, Lula foi um replay de Fernando Henrique. Só que mais “eficiente”. Fez os bancos e as empresas lucrarem mais do que na época dos tucanos, algo que o próprio presidente admite sem o menor constrangimento. Enquanto os lucros dos donos da festa cresciam quatro vezes mais com Lula do que com FHC, o salário mínimo crescia no mesmo ritmo daquele personagem dos Trapalhões, o Ananias. Ou, se preferirem, como gostam de fazer os trapaceiros na hora de repartir a riqueza: “quatro pra mim, meio pra você.”. Governar para todos onde as classes sociais têm interesses contrários só poderia dar nisso. Alguém tem que sair perdendo, ainda que pareça estar ganhando.

Os petistas dizem que a vitória de Dilma impediu a volta ao passado, que a vitória da ex-ministra fortalece o projeto da esquerda, que favorece a continuação das mudanças de Lula. Palavras e conceitos confundem, mas fatos e ações esclarecem. Governos de esquerda (ou dos trabalhadores, como quiserem) não enviam tropas militares para massacrar um povo de outro país, principalmente se este for o povo mais miserável das Américas. Governos de esquerda não pagam dívidas com banqueiros enquanto pessoas morrem em filas de hospitais públicos, sobretudo quando as dívidas já foram pagas uma dezena de vezes. Governos de trabalhadores não permitem demissões durante crises econômicas, não reduzem impostos para empresários e não doam R$ 370 bilhões para meia-dúzia de ricos em falência. Governos de trabalhadores não fazem reformas da previdência para dificultar a aposentadoria de quem passou a vida inteira trabalhando, muito menos vetam o fim de fatores previdenciários. Governos de esquerda não chamam latifundiários e usineiros de heróis, tampouco reprimem ocupações de terra e não fazem reforma agrária. Governos de esquerda não organizam mensalão nem mensalinho e não governam com corruptos, principalmente se eles forem Sarney, Collor e Renan Calheiros. Governos de trabalhadores não aceitam privatizações do patrimônio público, não fazem leilões de petróleo, nem dividem o pré-sal com empresas privadas. Governos de trabalhadores não permitem que um milhão de mulheres realizem abortos clandestinos e sem segurança todos os anos, correndo o risco de morrer ou ficar com seqüelas, ainda que isso incomode católicos e evangélicos. Governos de esquerda não chamam de distribuição de renda um programa que oferece apenas R$ 130,00 por mês para uma família inteira sobreviver. Governos de esquerda, depois de oito anos, não permitiriam a existência de mais de 50 milhões de pessoas vivendo abaixo da linha da pobreza, sobretudo num país que é a oitava maior economia do mundo.

Bom, de fato existe, sim, uma diferença entre Dilma e Serra. Ele seria presidente, ela será presidenta. E é só.

Obs.: Por problemas de preguiça crônica, o blog As Crônicas do João só fez sua postagem hoje, e não no domingo como de costume. Próximo domingo tudo volta ao normal.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Sobre direita, esquerda e bolinhas de papel

Por João Paulo da Silva

Nada me intriga mais do que constatar que, nas eleições, a direita desaparece. Durante a campanha eleitoral, pelo menos na aparência, ninguém é de direita. Todo mundo vira de esquerda, até mesmo a própria direita. Todo mundo tem história de vida bonita para mostrar, enfrentando a ditadura e liderando as lutas de estudantes e trabalhadores. Todo mundo é contra a fome, o desemprego, a desigualdade social, os baixos salários e a exploração. Todo mundo defende a educação e a saúde públicas, a construção de escolas e hospitais, o saneamento básico, a ampliação dos direitos sociais, a construção de moradias e a reforma agrária. Agora, claro, isso só durante as eleições. Depois, todo mundo volta a ser de direita. Afinal, não pega bem ser de esquerda a vida toda, como Lula e o PT demonstraram de maneira insofismável. Quer dizer, não pega bem só se você for um dos amigos de Wall Street.

Fazem de tudo para parecer de esquerda, para se parecer com o povo. Colocam crianças no colo, beijam recém-nascidos, abraçam pobres, muito embora essas não sejam tradições entre a esquerda. Em seus programas de TV, Dilma e Serra gostam de mostrar apenas os trabalhadores, apenas o povo que é “gentem como a gente”. Nas propagandas, aparecem sempre o João Pedreiro, a Maria Costureira, o Joaquim Operário, a Josefa Professora, a Beatriz Enfermeira e por aí vai. Em nenhum dos programas de Serra e Dilma os grandes empresários e banqueiros aparecem. O que é bastante curioso, já que foram exatamente estes senhores que mais lucraram e enriqueceram nos últimos dezesseis anos no Brasil. E não sou eu que digo isso, é o próprio presidente. Já imaginou o Eike Batista no programa da Dilma?! Ou o Olavo Setúbal Jr. pedindo voto para o Serra?! Não iria dar certo. Mas há uma explicação para o caso. Se depois das eleições pega mal ser de esquerda, muito pior é parecer de direita enquanto se pede o voto dos trabalhadores. Aí já viu, né?! Qualquer encenação vira ópera-bufa.

Minha vó era quem tinha razão: conhece-se alguém mais pelo que faz do que pelo que diz. E o que o PSDB e o PT fizeram nos últimos anos não tem nada a ver com a esquerda. Vejamos, por exemplo, uma das mais recentes polêmicas entre os dois candidatos neste segundo turno: a responsabilidade sobre as privatizações. Dilma acusa o governo de FHC e Serra de ter vendido as estatais brasileiras para empresas estrangeiras, o que de fato é verdade. Em contrapartida, Serra acusa o governo de Lula e Dilma de vender o pré-sal para estrangeiros, o que também é verdade. Tão estranho quanto ver o Serra denunciar privatizações é ver a Dilma escandalizada com o brechó que o PSDB fez no país. Ora, se o PT é realmente tão contra as privatizações, por que Lula não reestatizou as empresas vendidas por FHC?

Mas deixem eu me ocupar, por um instante, com as implicações do uso “violento” das bolinhas de papel, rolos de fita crepe e balões de água. Ao que tudo indica, estas são as mais novas armas de destruição em massa utilizadas na reta final da campanha. As primeiras foram confetes e serpentinas, já que a festa estava quase confirmada. Dilma não fez o mesmo escarcéu que o Serra, verdade seja dita, mas fez questão de frisar que por pouco não foi atingida por um poderosíssimo balão de água. Se fosse durante o carnaval, ela não teria reclamado. O PT não queria festa?! Então, nada melhor do que balões para começar a brincadeira. Porém, ver a histeria do Serra em relação ao ataque fulminante da bolinha de papel foi realmente impagável. Ainda que depois ele tenha sido atingido por um rolo de fita crepe, nada justifica o espetáculo dantesco do tucano com aquela história de tonturas e até tomografia. Quando não há diferenças no programa de governo, os candidatos apelam para todo tipo de circo, mas a verdade é que os palhaços são outros.

O episódio da bolinha de papel, do rolo de fita crepe e do balão de água só prova uma coisa: somos muito atrasados. No mundo mulçumano, eles atiram sapatos contra pessoas não muito queridas. Não com a mesma pontaria que nós, é verdade. Mas ainda assim são mais avançados. Convenhamos: bolinha de papel e balão de água é uma vergonha, gente. Sapato neles, pô!


Obs.: Por problemas técnicos, o blog As Crônicas do João só fez sua postagem hoje, e não no domingo como de costume.

domingo, 3 de outubro de 2010

O voto útil

Por João Paulo da Silva

Essa quem me contou foi um amigo. É sobre o peso de nossas decisões e as ironias da vida. Ou sobre a nossa consciência de classe.

Seu Zeca trabalhava há vários anos na companhia energética pública de seu Estado. Era esse trabalho que garantia o seu sustento e o de sua família. A estabilidade do serviço público lhe dava, inclusive, certa tranquilidade no ofício e a doce ilusão de ver afugentado o fantasma do desemprego. Seu Zeca sempre teve orgulho do seu trabalho porque através dele ajudava a iluminar as vidas de centenas de milhares de pessoas. Em sua inocência, até se arriscava a dizer que era feliz. Aí veio a eleição para governador do Estado. O ano era 1994.

Seu Zeca, assim como a maioria do povo, entendia que era preciso votar em quem tinha chances de ganhar. Não valia a pena escolher um candidato que mal aparecia nas pesquisas e que não conseguiria vencer a eleição. Era o mesmo que jogar o voto fora. Afinal, voto tinha que ser útil. Por isso, Seu Zeca não pensou duas vezes e optou pelo candidato que estava liderando as preferências, um legítimo cacique da política no Estado e um representante dos interesses de grandes empresários. Seu Zeca era um trabalhador, mas escolheu votar no patrão.

Entretanto, o funcionário da companhia energética poderia ter tomado outra decisão. Na rua em que ele morava, em um bairro popular da cidade, havia um trabalhador que também era candidato ao governo e que sempre falava coisas sobre a esquerda, o socialismo e a importância da classe trabalhadora governar. Mas este trabalhador/candidato não tinha dinheiro para gastar nas eleições e nem o mesmo tempo de TV dos outros. Por isso, aparecia sempre em último nas pesquisas.

- Pois é, Seu Zeca. Eleição não muda nada. Mas a gente também não pode votar nos candidatos daqueles que nos exploram, não é verdade? Trabalhador tem que votar em trabalhador pra fortalecer a nossa luta em defesa da nossa classe. Pra gente um dia poder governar e deixar de ser explorado. – dizia o candidato da esquerda.

- Mas eu não vou estragar o meu voto votando em quem não tem condições de se eleger, rapaz. Se tem dois candidatos na frente das pesquisas, eu tenho que escolher é um dos dois pra não perder meu voto! – afirmava o funcionário da companhia energética.

O trabalhador/candidato ainda tentou argumentar, mas Seu Zeca estava decidido. Iria mesmo votar naquele que estava liderando a campanha e que tinha condições de ganhar. E foi o que aconteceu. O candidato que representava os grandes empresários e que foi escolhido por Seu Zeca venceu as eleições para o governo do Estado.

- Tá vendo aí?! Meu candidato foi eleito, rapaz! E eu não perdi meu voto!

Depois de eleito, uma das primeiras medidas do novo governador foi privatizar a companhia energética pública, onde Seu Zeca trabalhava. Com a venda da estatal para um grupo de empresários, muitos trabalhadores foram demitidos para que os gastos da empresa reduzissem e os lucros aumentassem. Entre os dispensados, estava o Seu Zeca, que acabou, desgraçadamente, perdendo muito mais do que o voto.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Os símbolos da decadência

Por João Paulo da Silva

A propaganda eleitoral gratuita na TV me diverte e desespera ao mesmo tempo, embora me pareça que quando a inventaram a função não fosse exatamente a de garantir entretenimento ou desânimo para milhões de brasileiros. Há algo de errado nisso tudo, eu sei. Quer dizer, algo não. Tudo mesmo. Da política econômica à falsa democracia. Mas não se pode negar que muitos candidatos estão mais para personagens folclóricos do que para postulantes a um cargo público. Parte da disputa eleitoral oscila entre o cômico e o absurdo, numa caricatura teatral da decadência.

Na verdade, eu tenho uma teoria sobre esses tipos medonhos que durante as eleições nos divertem pela telinha da TV. Esses candidatos possuem uma determinada função social: a de arrancar risadas dos que vão passar os próximos dois ou quatro anos chorando por causa das políticas aprovadas em todas as esferas do poder. É uma forma de usar o ridículo para entorpecer. Ou, na melhor das hipóteses, tudo não passa de esculhambação. Mas deixemos as análises de lado por um momento e vejamos os tipos mais comuns nas eleições. Fiz uma pequena lista.

O Biográfico: é o candidato que acredita que sua história de vida daria mais que um livro. Daria até voto. “Amigo eleitor, sou Aderbal dos Grudes. Nasci na baixa da égua, mas morei e me criei na capital. Sou formado em Ciências Econômicas, fiz mestrado e doutorado em Gestão Pública. Sou casado e tenho dois filhos. Há vinte anos sou professor universitário, ao longo dos quais publiquei três livros, todos traduzidos para cinco idiomas. Por isso, nestas eleições, não se engane. Vote em quem tem história.”.

O Crente: pretensiosamente, é o candidato direto do Todo Poderoso na Terra. “Meus irmãos evangélicos, mais uma vez entro numa batalha contra gigantes, assim como Davi. Recebi um chamado de Deus para esta missão. Sou candidato a deputado estadual para ampliar o império do Senhor Jesus aqui na Terra. Essa é uma guerra que precisamos vencer, pois o inimigo está sempre por perto atentando os cordeiros de Deus. Vote no pastor Agenor. A mão do Pai está aqui.”.

O Família: é o candidato que põe toda a família no programa para falar das qualidades dele como chefe de casa. Em geral, o sujeito é apresentado como bom pai, bom marido e o programa sempre termina com um dos filhos dizendo “votem em papai”.

O Mudo: esse é um clássico. Passa o programa inteiro em silêncio ao lado de alguém que diz as razões pelas quais devemos votar no candidato. “Caro eleitor, esse aqui é o Rodinei. Homem honesto, trabalhador, pai de família. Esse eu conheço desde criança. Possui vários projetos na área da educação e da segurança. É a sua alternativa nestas eleições. Não se esqueça. Para deputado federal, vote no meu amigo Rodinei.”.

O Pedinte: esse é o candidato mendigo. Já começa pedindo ajuda. “Meus amigos e minha amigas, me ajudem a chegar lá. Só peço uma chance, me dê um voto de confiança. Muitos já passaram e não fizeram nada. Agora chegou a minha vez. Com a sua ajuda, vamos mudar essa realidade.”.

O Amoroso: é o candidato que acredita que só amor pode mudar o mundo e é por isso que, estranhamente, deseja entrar para a política. “Você sabe o que falta para os outros gestores públicos? Amor, meus amigos. Uma administração sem amor não pode resolver os problemas da população. Eu tenho uma vida que sempre se pautou pelo amor às pessoas e o carinho pelos mais pobres. No meu governo, a prioridade vai ser o amor.”.

O Garçom: é o candidato cujo ofício sempre foi servir às pessoas. E por isso mesmo julga-se o melhor candidato, já que servir é a principal característica de um político. A quem? Aí já é outra história. “Olá, sou o garçom Ademar. Há trinta anos trabalho servindo em restaurantes. Agora quero servir ainda mais no Congresso Nacional. Por isso, vote em quem sabe servir.”.

São os símbolos da decadência. Acredito, realmente, que o fim deve estar próximo. Arrependei-vos enquanto há tempo.

domingo, 12 de setembro de 2010

O Brasil que eu não conheço

Por João Paulo da Silva

Estas eleições estão particularmente muito chatas. “Nunca antes na história desse país” a cara de um foi tão semelhante ao focinho do outro. Mesmo com nove candidatos disputando a Presidência da República, embora a grande imprensa não mostre todos, os que estão liderando as pesquisas não passam de trigêmeos da mesma política dos últimos vinte anos. Enquanto isso, os demais candidatos, principalmente os da esquerda, precisam se virar nos cinqüenta segundos que dispõem na TV para fazer a diferença. Isso porque entre o PT de Lula e Dilma e o PSDB de FHC e Serra, não há distinções quanto ao programa de governo. Eles mesmos admitem o fato ao defenderem um modelo econômico idêntico.

Pior do que isso talvez só Marina Silva, que sem constrangimento algum reivindica Lula e FHC ao mesmo tempo. Dessa forma, fica difícil acreditar em disputa. Em democracia, então, nem se fala. De todo modo, estou convencido de que o correto deveria ter sido a união de Dilma, Serra e Marina em torno de uma única candidatura. É claro que ainda assim não haveria qualquer mudança para o Brasil, até porque o projeto defendido pelos três já foi aplicado antes e não mudou o país. Mas pelo menos seria mais honesto politicamente.

Além das semelhanças siamesas entre Dilma e Serra, outro aspecto dessa campanha vem despertando minha inquietação. Os programas de TV do horário eleitoral estão apresentando um Brasil que eu não conheço. São hospitais, escolas, universidades, estradas, postos de saúde, remédios para todos, geração de empregos, distribuição de renda, salário digno, construção de moradias etc, etc, etc. Tudo funcionando na mais tranqüila e absoluta perfeição. Como assim?! Transformaram o Brasil num país escandinavo e ninguém me disse nada?! Quer dizer que o Haiti não é mais aqui? Agora é a Noruega que é aqui?! Onde estão as favelas e os 52 milhões de brasileiros que vivem abaixo da linha da pobreza? E as 40 mil crianças que morrem de fome todos os anos? E os mais de 8 milhões de desempregados? Para onde foi todo mundo? Para onde foram os mais de 14 milhões de analfabetos? E os baixos salários? O que fizeram com as filas e as macas nos corredores dos hospitais? E a falta de merenda nas escolas? Onde cargas d’água enfiaram a metade da população brasileira que vive sem tratamento de esgoto? Não há mais pobres nesse lugar? Nem miseráveis? Que país é esse?!

Instigado pelo instinto da investigação jornalística, decidi ir às ruas para ver de perto se o Brasil havia mesmo se transformado na Noruega. Mas nem foi preciso ir muito longe. Bastou dar uma volta no bairro e alguns telefonemas para retornar ao subdesenvolvimento e à tragédia social. Nas proximidades de onde moro, a realidade não havia mudado. As escolas caindo aos pedaços, os postos de saúde sem médicos, o esgoto a céu aberto. Estava tudo lá, do jeito que os brasileiros conhecem. Até o Google Earth eu usei para confirmar se as favelas ainda estavam no mesmo lugar. É claro que estavam. Só senti falta mesmo das condições dignas de vida, que continuam tão distantes quanto a Noruega. Pelo telefone, fontes seguras me informaram que a situação permanecia a mesma em todas as regiões do país. Mamãe, por exemplo, que mora em Maceió, me ligou pedindo dinheiro, já que o salário sempre acaba antes do fim do mês.

O Brasil mostrado nos programas de TV de Dilma e Serra não existe. Aquilo só pode ser Hollywood. Eu não ficaria surpreso se depois das eleições descobrissem que todas as cenas foram gravadas em estúdios da Warner Brothers e que os marqueteiros do PT e do PSDB foram assessorados pelo James Cameron. Efeitos especiais não faltam.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Democracia? Onde?! Onde?!

Por João Paulo da Silva

“A liberdade de eleição permite que você
escolha o molho com o qual será devorado.”
(Eduardo Galeano)

Como é estranha e complexa esta coisa que os homens do poder chamam de democracia. Dizem que em nossa sociedade, a cada dois anos, somos chamados a exercitar o tão proclamado e inalienável direito de votar. Tão inalienável que mesmo aquele que não deseja votar é obrigado a fazê-lo. Essa obrigação, que de tempos em tempos os donos da bola decidem proibir, faz parte do jogo da democracia, já que é através dela que elegemos nossos representantes. Ou não. Bom, pelo menos é o que dizem.

Na democracia, dizem também que qualquer um pode ser candidato e que os eleitores têm o direito de conhecer as ideias e as propostas de todos aqueles que se candidatam. Agora, claro, que se um determinado candidato tem dez minutos de propaganda na TV, durante o horário eleitoral gratuito, e os outros têm apenas um minuto ou menos para apresentarem suas opiniões, isso já não é problema da democracia. Tem a ver com o posicionamento dos astros, as fases da lua e o ciclo de menstruação dos galináceos. Mas não com os direitos democráticos ou coisa parecida. O mesmo vale para as regras dos debates.

A legislação eleitoral, que também faz parte da democracia, obriga as emissoras a convocarem para os debates todos os candidatos dos partidos que possuem representação na Câmara Federal, mas não obriga a convocação dos que não possuem nenhum representante. De modo que convocar os párias das eleições fica a critério de cada emissora. TVs e rádios recebem concessões públicas para funcionar, mas decidem sozinhas quem participa ou não dos debates. É claro que se essa decisão diminui as chances dos partidos que não possuem representação alcançarem uma cadeira na Câmara Federal, isso também não é problema da democracia.

Desde o período da redemocratização, nunca tivemos tantos candidatos à Presidência da República como temos nestas eleições. Ao todo, são nove os que disputam o comando do país. Entretanto, você não conhecerá o que pensam e o que propõem cada um deles. Não porque três meses sejam insuficientes para isso. Mas porque já escolheram os candidatos em que você pode votar. São os que estão liderando as pesquisas, os que vão aos debates e os que possuem mais tempo na propaganda eleitoral gratuita. E, curiosamente, são exatamente estes que recebem as pomposas “doações” dos donos do jogo democrático.

Esta coisa que os homens do poder chamam de democracia é tão estranha e complexa que não consegue nem mesmo garantir o que se propõe a garantir. Em todas as épocas da história da humanidade, quando algo não funcionava mais como deveria funcionar, precisou ser substituído. Em nosso caso, o que necessita ser trocado já está fedendo. Seja porque é sujo ou porque é podre demais.

domingo, 1 de agosto de 2010

O professor e o ladrão

Por João Paulo da Silva

O professor e mestre iluminado Marcony é um inominável contador de histórias. Lembro-me, carinhosamente, de uma das mais hilárias aventuras que ele viveu. Eu ainda estava no colégio quando ele narrou o fato, o ano de 2000 findava.

O amado guru voltava para casa, no humilde bairro do Santos Dumont, depois de dar sua última aula num curso pré-vestibular, não me lembro qual. Já era tarde da noite. Ele caminhava, cautelosamente, por entre as ruas escuras e fétidas do bairro, trajava sua roupa feita de pano de saco de farinha, diga-se de passagem, bem original. Estava próximo de casa quando um homem saltou em sua frente com um canivete na mão, havia saído de dentro de um terreno baldio. Tinha os cabelos desgrenhados e uma barba de três dias. O bandido gritava desesperadamente:
- Passa a carteira, meu irmão! Me dá o dinheiro, rápido!

A principio Marcony se assustou, pois as ruas estavam vazias e ele não havia visto o bandido. Mas logo em seguida recuperou sua calma de mestre hindu e, olhando nos olhos do ladrão, fez o que nenhum ser humano em estado normal faria: soltou uma gargalhada. O ladrão não estava entendendo bulhufas, Marcony continuava rindo. Não agüentando mais, o homem explodiu:
- Perdeu a noção do perigo, cara?! Tá rindo de quê?
- Você sabe quem eu sou? – perguntou Marcony com um ar desleixado.
- Não, por quê? Você é policial? – o ladrão tinha o rosto contraído.
- Não, não, não! Eu sou professor. Como é que você quer assaltar um professor? Sabe quanto ganha um professor neste país? Uma miséria, meu companheiro.
- Ah, meu irmão, vai querer me enrolar agora? Passa a carteira pra cá e deixa de conversa fiada. – disse o ladrão um tanto impaciente.
- Tá bom! Eu vou lhe dar a carteira, mas tire só o dinheiro. Você sabe que para retirar novos documentos é uma complicação da “bexiga”! – disse o mestre.

O ladrão apanhou a carteira e começou a vasculhá-la. Já estava prestes a ter outro surto de raiva quando encontrou um bolso fechado por zíper, deu umas batidinhas e ouviu o tilintar das moedas. Retirou-as e passou a contá-las. Havia cinco reais em miúdos. O bandido ficou possesso.
- Mas o que é isso?! – esbravejou.
- Eu bem que lhe avisei, eu lhe disse que era professor. – replicou Marcony com um risinho sarcástico.
- Mas isso é um absurdo! É inadmissível que um professor só tenha cinco reais na carteira, nós estamos no começo do mês. Que país é esse? – o ladrão estava indignado.
- Veja bem, tudo isso é fruto do sistema em que estamos inseridos, há uma larga concentração de renda em nosso país, sem mencionar que temos um governo insipiente e que não respeita os trabalhadores. Sobretudo eu, que sou um formador de opinião. – disse Marcony com um ar de intelectual.


Longo silêncio. O bandido parecia pensativo.
- É verdade, professor. Me perdoe por não ter compreendido o senhor. A vida me deixou um pouco insensível, mas o problema é que eu tô desempregado e tenho mulher e filhos pra cuidar. O senhor entende, não é? – o ladrão estava comovido.
- Claro que entendo! – disse o mestre. – Você é só mais uma vítima desse mundo cão.
Marcony já recomeçava seu caminho quando o ladrão pediu para acompanhá-lo até em casa, argumentando que as ruas eram perigosas àquela hora da noite. Os dois caminhavam lado a lado, ainda conversando sobre a situação social e política do país. Já na porta da casa o ladrão olhou para as moedas em suas mãos e falou:
- Bom, professor, enquanto a gente conversava eu pensei bem e percebi que a sua situação é semelhante a minha, não é justo que eu leve todo o seu dinheiro. Proponho uma divisão, eu fico com R$2,50 e o senhor com os outros R$2,50, feito?

O mestre sempre foi um homem com o pensamento vinculado ao social e de um apego invejável para com a solidariedade humana, não podia deixar de aceitar a oferta. O ladrão, satisfeito com o negócio, já estava se despedindo:
- Professor, foi um prazer conhecê-lo. Muito obrigado pelo dinheiro, precisando é só chamar. – apertaram-se as mãos e o ladrão se afastou.
Marcony ficou parado na porta por um tempo, pensando em tudo que lhe acabara de acontecer. Riu levemente e entrou em casa. A vida era realmente imprevisível.

Dizem as más línguas que hoje, praticamente todos os finais de semana, o mestre costuma tomar alguns chopes com o ladrão e que eles se tornaram grandes amigos.

domingo, 25 de julho de 2010

Assaltos

Por João Paulo da Silva

Há situações na vida que possuem propriedades interessantíssimas. Encruzilhadas cotidianas em que as pessoas acabam por demonstrar quem realmente são. Na cama, ao volante, na prática política... São todas ocasiões de grande revelação. Outro dia, porém, me deparei com uma situação que talvez seja a mais reveladora de todas. O assalto! Eis o instante em que a moral burguesa é ofendida. Eis o encontro do capitalismo com seu Frankenstein. O criador e a criatura. Cara a cara! O assalto oscila entre a celebração do ridículo e o extremismo da barbárie. Pelo menos em alguns casos.

I

Eram 18 horas. Eu voltava pra casa tranquilo. Quando subia a ladeira da Catedral de Maceió, fui abordado por dois sujeitos. Um baixinho e um magricela.
- E aí, bicho? Me arranja um dinheiro aí pra eu comer qualquer coisa. – falou o baixinho, tentando a via pacífica.
- Pô. Você me pegou num dia ruim. Tô sem nenhum. – respondi.
- Que mané “tô sem nenhum”, rapá! Passa logo pra cá o celular que tá no teu bolso. Se não passar, te dou uma facada! – falou o magricela, bem menos diplomático.

Era a primeira vez que eu estava sendo assaltado. Tentei manter a calma, mas confesso que quase me borrei todo.
- Calma aí, amigo. Vamos conversar. Essa não é a melhor maneira de resolver os problemas. – falei sentindo um nó nas tripas.
- Olha, é só você entregar o celular e nós te deixamos em paz. – argumentou o baixinho, visivelmente um sujeito com muito mais tato pra essas coisas. Simpatizei logo com ele.
- Pô, cara. Meu celular não. Te dou todo o dinheiro que tenho na carteira. Mas o celular não. Preciso dele pra trabalhar. – menti.

Os dois hesitaram. O magricela resolveu:
- Tá, tá, tá! Me dá logo esse dinheiro antes que eu te fure todo.
Mal sustentando as pernas, abri a carteira e entreguei os únicos R$ 5,00 que eu tinha.
- Que porra é essa, malandro?! Tá querendo me enrolar?! – disse o magricela.
- É tudo que tenho.
- Toma essa bosta de volta! Num quero não! Que que vou fazer cum cinco conto, rapá?! Passa logo o celular senão te encho de bala!
- Bala? Não era uma facada? – perguntei, meio sem entender.
Os dois trocaram olhares confusos.
- É... que... ahhh... bom, era uma facada. Mas agora vai ser uma bala. Mudança de planos, sabe? – adiantou-se a explicar o baixinho.
- É isso mesmo. Mudança de planos. Agora passa o celular, os cinco conto e esse tênis aí. – ordenou o magricela.
Não me contive.
- Ah, não! Assim não! – disse eu, já invocado e resolvido a me espalhar – Agora não vão levar mais nada não! Tão pensando o quê?! Não é assim não, cara! Ou uma coisa ou outra! Palhaçada!

Às vezes a pessoa tem que se impor. Continuei:
- Eu tô na mesma situação que vocês! Não podem levar minhas coisas. – menti de novo, dessa vez descaradamente. – Por que não vão roubar o Renan, o Lula e o Zé Dirceu?! Garanto que vocês terão cem anos de perdão.

Nesse instante, para meu alívio (nunca pensei que fosse dizer isso!), apareceu no topo da ladeira um policial. O militar perguntou:
- O que tá acontecendo aí?
- Né nada não! Né nada não! – gritaram os assaltantes.
- É sim, seu guarda! É sim! É um assalto! – disse eu desesperado.
O baixinho e o magricela puseram-se a correr, desaparecendo numa esquina.

Voltei pra casa com todos os meus pertences. Mas voltei com a moral burguesa ofendida. Esta experiência mostrou-se bastante reveladora para mim. É praticamente uma tragicomédia perceber a quantidade de mentira e descaramento que cada um de nós carrega ao longo da vida. Hoje, analisando minha reação durante o assalto, não consigo me olhar no espelho e não ver o FHC.

Sou um canalha.

II

Essa aconteceu com um ex-cunhado. Mesmo com sua vasta experiência em ser assaltado (umas dez vezes, eu acho), flagrou-se outra vez diante do nosso Frankenstein social. Já era tarde da noite. Ele voltava da escola apressado, e as ruas do centro da cidade estavam vazias.

O sujeito caminhava em sua direção, vindo da outra extremidade da rua. Meu ex-cunhado já sabia o que estava pra acontecer.
- Muito bem. Isso é um assalto! – disse o sujeito com uma arma apontada na direção da vítima.
- Ok. Estou acostumado. O que vai ser essa noite? – quis saber o assaltado.
- Passa logo a bolsa!
- Calma aí. Não é assim. Vamos negociar. Pra que você quer minha bolsa? Ela só tem livros. Pra que você vai querer meus livros?

O assaltante ficou pensativo. Concluiu:
- Tá. Beleza então. Não levo a bolsa. Mas me dá a carteira.
- Não. Também não é assim. Vamos negociar. Pra que você quer minha carteira? Só tem meus documentos. Pra que você quer meus documentos?

Nova reflexão do bandido, desta vez mais profunda.
- Olha, tudo bem. Não vou levar a carteira. Mas me passa pelo menos o dinheiro que está na carteira, né?
- Agora sim. Agora estamos começando a nos entender. Veja, tudo bem que nos assaltem. Mas que tenham o mínimo de critério. Você não acha?

Meu ex-cunhado tinha R$ 20,00 na carteira. Tirou apenas dez.
- Ah, não! Que que isso, maluco?! Tá querendo me passar a perna?! Deixa de doidice e me passa os outros dez que eu já vi daqui! Nada de trapacear. Fair play, brother. Fair play.
- Tá. Tá bom. Foi mal. – disse o ex-cunhado, entregando os outros dez.

Eu ia terminar o texto aqui. Mas preciso fazer uma reflexão. Só pra constar.

Olha, tenho certeza de que a situação não pode ficar pior. Chegamos ao ponto mais alto da civilização. Já estamos criando regras para o “bom” funcionamento da barbárie. O fair play da barbárie. De fato evoluímos. Não somos mais a sociedade de consumo, nem a sociedade da informação. Somos mesmo é a sociedade do vexame. Vou escrever uma tese sobre isso. Ah, vou!

segunda-feira, 19 de julho de 2010

A Copa que a África do Sul não viu

Por João Paulo da Silva

Mesmo depois de seu fim, a primeira Copa do Mundo de futebol realizada no continente negro ainda será assunto durante algum tempo. Mais pelas contradições do que pelos acertos e pelo espetáculo. Foi uma Copa ímpar, uma Copa dos paradoxos. Gerou-se muita expectativa em tudo. Na seleção brasileira e na sua imbatível superioridade, como de costume, mesmo com o Dunga; no belo futebol e nos gols espetaculares de craques mundiais; nos jogos emocionantes e disputadíssimos; no desenvolvimento econômico que o maior evento esportivo do mundo traria para a África do Sul. Desgraçadamente, nada disso foi visto. Um tolo engano, como uma profecia de araque. A Copa da África do Sul só não foi pior por causa do polvo vidente, das peripécias do Maradona à beira do gramado e da musa paraguaia Larissa Riquelme. O resto, futebolisticamente falando, foi lamentável.

Dunga e seu esquema tático burocrático conseguiram anular o talento dos craques brasileiros. Isso quando os próprios “craques” não se anulavam sozinhos. Muitas vezes parecia que a seleção mandava ofícios aos adversários solicitando permissão para atacar. Não fomos desclassificados pela Holanda porque esta era superior ao Brasil. Só caímos porque não voltamos para o segundo tempo contra os mecânicos holandeses. Dunga esqueceu-se de dizer aos seus meninos que no futebol joga-se, no mínimo, dois tempos de 45 minutos. E o pior de tudo (incompreensível, meu Deus do céu!): o que fazia o Felipe Melo naquela Copa?

Foi uma das copas mais chatas de se ver, na qual os pernas-de-pau da competição acharam logo um bode expiatório: a pobre da Jabulani. Quer dizer, também foi uma Copa desonesta. Quem não sabe jogar sempre põe a culpa na bola. A baixa média de gols não foi o resultado da existência de defesas intransponíveis. Mas da falta de talento, aliada ao futebol de resultado (salvo raras exceções). Grandes seleções, como Itália e Inglaterra, foram precocemente mandadas para casa, contrariando todas as previsões. Foi uma Copa tão incomum que a única seleção a não ser derrotada foi a Nova Zelândia, que nem sabe direito o que é futebol. Só tiro o meu chapéu para Gana e Uruguai. Pela força e habilidade. Sobre a final, não poderíamos esperar outra coisa. Mero reflexo do nível do mundial.

Entretanto, nada chamou mais minha atenção do que a bola nas costas que a África do Sul levou. O país da Copa esperava ver os craques, as jogadas, os gols. Enfim, a Copa. Mas não viu. Pior: para que a competição fosse possível, nos moldes da FIFA e dos grandes investidores, muitos sul-africanos precisaram perder suas casas. As famílias que viviam no local onde hoje é o Soccer City foram empurradas para barracos de zinco. Elas não viram a Copa. Os operários que ergueram os templos do futebol, ganhando pouco mais de R$ 1,00 por hora, também não viram o espetáculo. Os meninos pobres de Soweto, que sonham todos os dias em serem como os craques brasileiros, não chegaram nem perto. As pessoas que assistiram aos jogos dentro dos estádios eram, majoritariamente, brancas. O Apartheid acabou, mas a realidade de “cada macaco no seu galho” ainda permanece.

Propositalmente, a imprensa mundial relativizou a situação dos sul-africanos. “Tudo bem que vocês tenham recordes de aidéticos e de miseráveis, mas vocês têm a Copa! Sorriam!” Esse era o espírito.

Entretanto, a Copa do Mundo, que é o maior evento do mais popular esporte do planeta, não pôde ser vista pelo povo sul-africano. Se a FIFA, o governo e os empresários farão com o Brasil em 2014 o mesmo que fizeram com África do Sul, então devemos reivindicar pelo menos a construção de um grande estádio de futebol no lugar do Congresso Nacional e do Palácio do Planalto. É só uma sugestão.

domingo, 20 de junho de 2010

Ninguém se importa com Luciene

Por João Paulo da Silva

Luciene tem 30 anos, duas filhas e uma infecção hospitalar, contraída após a cesariana que trouxe sua segunda filha ao mundo. Luciene mora na zona rural de uma cidade pequena, não tem emprego, é pobre e infeliz. No hospital em que está internada, com a recém-nascida no colo, ela contou sua história para a enfermeira da maternidade. Nada de novo, nada que não já se conheça. A história de Luciene é igual a de milhões de outras pessoas, um plágio da miséria e do abandono cotidiano, diferente apenas em seus detalhes de tristeza particular. Luciene, assim como várias Marias, Joanas, Ritas e Denises, é o retrato amarelado e subnutrido da ausência de qualquer vestígio de dignidade.

Despojada do mínimo de afeto humano, Luciene é refém de um chantagista emocional, a quem ela chama de “amor”. “Ele sempre diz que vai me abandonar se eu não voltar logo pra casa.”, diz ela, angustiada por ainda não poder receber alta. A filha mais velha, de cinco anos, uma vez ligou para reclamar a ausência da mãe. “Ela me disse que vai acabar perdendo o ano na escola porque eu não estou lá pra levar ela.”, diz Luciene, que não tem família nenhuma. A mãe morreu. E o pai nem merece ser chamado assim. Depois de uma briga com a filha, ele parou de pagar a água da casa em que ela mora.

Luciene não vive nem sobrevive. Ela apenas recebe o Bolsa Família. São R$ 90 destinados a garantir o impossível. Com esta quantia, nem se come direito. O próprio presidente, que se orgulha desta institucionalização da miséria, gasta bem mais do que R$ 90 consigo mesmo em um único dia. As pessoas que recebem o Bolsa Família, assim como Luciene, não continuam vivas por causa deste dinheiro, pois isto é na verdade impraticável. Permanecem respirando apenas por insistência própria, talvez por obra de alguma espécie de pacto misterioso com seus estômagos.

Há bem mais tristezas na história de Luciene. Mas que não continuarão a ser ditas por uma razão muito óbvia. Luciene não quer ser literatura, não quer ser notícia, muito menos crônica. Luciene quer apenas que alguém se importe com ela. O que até agora ainda não aconteceu.

domingo, 30 de maio de 2010

Mortos

Por João Paulo da Silva

- Diga-me, Seu João, por que pensa que está morto?
- Existem evidências, doutor.
Pausa reflexiva do médico.
- O senhor trabalha?
- Sou operário.
- Gosta do que faz?
- Deveria? Está claro que o doutor não percebe as evidências, não é?
- Infelizmente, não. Mas se o senhor estiver disposto a dividi-las comigo, posso tentar perceber.
Nova pausa.
- Algum problema, Seu João? Sente-se à vontade?
- Não muito.
- Quer que feche a janela?
- Não, não, não! Seria o mesmo que fechar a tampa do caixão e pôr a última pá de terra.
- Por que ainda insiste nessa história? Por que pensa que está morto?
- Porque realmente estou.
O médico coça o queixo, intrigado.
- Se está verdadeiramente morto, como posso vê-lo? O senhor é um espírito?
- Não se trata desse tipo de morte.
- De que tipo então?
O paciente deixou um riso debochado escorrer pelo canto da boca. Após um suspiro, provavelmente de impaciência, o médico continuou:
- Diga-me, Seu João, o senhor já amou?
- E o que é o amor? Como é que se sabe quando é amor?
- Bom, o amor é gostar de estar perto, é querer bem o outro ser, é poder completar a si mesmo no outro... essas coisas.
- Isso é pieguice, nada mais.
Silêncio. O médico e o paciente se estudam através de olhares. Por fim, o paciente fala:
- Diga-me, doutor, o senhor “cheira”?
- Já cheirei. Influência freudiana.
- O senhor fuma?
- Dois maços.
- Bebe?
- Socialmente.
- Trepa?
- Não me parece um termo técnico, nem adequado.
- Trepa ou não?
- Às vezes.
- O senhor...
- Espere aí! Receio que o psicanalista aqui seja eu.
- Não, doutor. Todos somos.
Médico sem palavras. O paciente prossegue.
- É por isso, doutor, que pensa que está vivo?
- Isso o quê?
- Fumar, beber, trepar. É por isso?
- Talvez.
- Ouça, doutor, nunca sentiu olhos a lhe vigiar?
- Não.
- Nunca sentiu que lhe controlam a vida? Nunca se sentiu como um cordeiro num rebanho qualquer?
- Isso é absurdo! Ninguém controla minha vida.
O paciente soltou uma risada longa e gorda.
- O senhor me diverte com sua inocência, doutor. Ouça, a sua vida é programada desde o nascimento até o óbito. O senhor faz parte de um sistema, assim como eu e todas aquelas pessoas lá fora. Acordar, comer, trabalhar, votar, fumar, beber, amar, dormir. Estamos presos. Há tempo para tudo, e tudo está delimitado. Mas isso não é o pior. O pior é saber que os outros cordeiros desconhecem o fato, isso realmente é pior. Compreende?
- Eu não sei o que di...
- Não. Não diga nada, doutor. Eu sei como é. Venha comigo até a janela. Olhe lá fora. Vê? As pessoas estão sempre apressadas, atrasadas, ocupadas demais para notar. Vê aquele mendigo ali? E aquele menino no sinal? E aquele sujeito correndo para pegar o coletivo? Vai chegar atrasado na senzala. Venha, vamos nos sentar novamente. Aceita um copo d’água, doutor? Onde fica a geladeira?
- Ali. Ponha um pouco de açúcar, sim?
O médico bebe a água com açúcar que o paciente lhe oferece. Um suspiro longo e um leve arroto, o médico diz:
- Quem controla?
- A resposta para essa pergunta está presente no dia-a-dia, nas relações de “Sim, senhor” e “Não, senhor”. Mas acho que a pergunta que deseja fazer não é quem, e sim por quê?
- Então, por quê?
- Existe uma ordem a ser mantida, doutor.
- E que ordem é essa?
- Ordem e progresso, o meu fracasso é o teu sucesso.
O médico está pálido. O paciente pergunta:
- Ainda se sente vivo, doutor?
- Não muito.
- É, eu sei bem como é estar morto. Venha cá, doutor. Vamos voltar à janela.
Longa pausa. Silêncio entre eles, quebrado apenas pelos barulhos externos. Apitos, buzinas, gritos, gemidos, palavrões, ruídos de fábricas, mãos trabalhando e dedos em máquinas de escrever.
- Você viu, doutor?
- O quê?
- Já passou.
- O quê?
- A vida, doutor. A vida.

domingo, 9 de maio de 2010

A mulher amada

Por João Paulo da Silva

Para a mulher amada fazemos de tudo. Reservamos o que há de melhor em nós mesmos e amamos ao extremo. Porque se não for assim não vale a pena. Um homem não pode passar pela vida e não amar uma mulher, não dar a ela sua cota de humanidade. A mulher amada é aquela que se inscreve em nosso sangue com a força de uma queimadura. É a essa mulher que entregamos nossos olhos, mãos, boca, sexo, sonhos e coração.

Para a mulher amada, cedemos o peito todas as noites para que durma tranquila, sempre garantindo a ela que estaremos vigiando seu sono a fim de que não haja sobressaltos. Para a mulher amada só se fala a verdade, pois mentir é constatar a ausência de amor. A ela, dizemos “eu te amo” em todas as línguas, ainda que com erros de ortografia. Fazemos cafuné e massagem no pé. Antes, durante e depois do café. Mesmo para as que têm caspa e frieira. Para a mulher amada, é preciso fazer um poema a cada amanhecer, porque só com a literatura é possível registrar os amores.

Para a mulher amada, levamos flores e bombons, como faziam os sábios antigos. Só para ela mandamos cartões de amor com corações vermelhos e abobalhados. É só para esta mulher que ao homem é permitido transforma-se em menino, correr nu pela praia e subir na mesa do bar para gritar eu te amo. Pela mulher amada fazemos sacrifícios. Saímos para comprar jaca de madrugada, aprendemos a comer linhaça e a gostar do Paulo Coelho. Em casos extremos, até deixamos de torcer pelo Flamengo. Mas isso pode ser negociado.

Pela mulher amada, nós nos rendemos à pieguice, criamos apelidos cômicos e fazemos todo tipo de dengo para cativá-la. Mandamos inúmeras cartas perfumadas, mesmo morando uma rua depois dela. Porque só o ridículo salva o amor da frieza do mundo. Pela mulher amada, invadimos a casa do vizinho para roubar as mais belas flores, que dinheiro nenhum seria capaz de pagar. Trocamos o dia pela noite, só para ficar horas observando o jeitinho bonito que ela tem de dormir, e aceitamos todos os cutucões durante a noite para pararmos de roncar. Por fim, pela mulher amada, esperamos o tempo que for preciso. Sem vacilar.

domingo, 18 de abril de 2010

O preço do abandono

Por João Paulo da Silva

Centenas de mortos, milhares de desabrigados, não sei quantos desaparecidos ou soterrados. Você e eu já vimos esse filme. Ele se repete todos os anos, numa espécie de déjà vu do caos anunciado. Irresponsavelmente, as autoridades continuam com a mesma política de sempre: só aparecem para recolher os corpos e jogar os sobreviventes em ginásios de esporte. Neste país, entretanto, a catástrofe humana que é morar em áreas de risco ou não ter onde morar não é um problema novo. É mais antigo do que a posição de... Bom, vocês sabem.

Não pretendo usar aqui os números reais das recentes tragédias do Rio de Janeiro e de outros estados brasileiros. Por uma razão muito simples. Mesmo se “apenas” uma única família tivesse morrido nos deslizamentos, nós já teríamos uma perda irreparável e injustificável, além de motivos suficientes para uma revolta armada. O número assustador de vítimas revela, tão somente, o quão pesado é o preço do abandono. Contudo, a conta do descaso nunca é paga por quem abandona, mas por quem é abandonado. E como mostrou emblematicamente o Rio, paga-se da pior forma possível.


Agora, como mais um requinte de sadismo, as autoridades responsáveis pelas tragédias – me refiro aos três patetas: Lula, Sérgio Cabral e Eduardo Paes – resolveram culpar os que moram nos morros pelas desgraças. Quer dizer, as pessoas que vivem em encostas, favelas e áreas de risco em geral fazem isso por vontade própria.


- Por que o senhor decidiu construir o seu barraco aqui nesse morro?

- Porque eu quis, ora. O governo até me ofereceu uma casa em um condomínio de luxo, mas eu recusei. Bom mesmo é morar em casa de lona, no meio das encostas.

- Mas o senhor não sabe que tudo pode desabar a qualquer momento?! Ainda mais com essas chuvas.

- Sei sim. Claro que sei.

- E então, meu senhor?! Por que você não sai daqui?

- Porque eu gosto de viver perigosamente, entende? Aqui a adrenalina é constante, praticamente um esporte radical. Sempre que chove, vem aquela tensão, sabe? Muito maneiro, cara! É uma sensação incrível saber que sua casa pode desabar enquanto você e sua família dormem.

- Mas isso é uma loucura!

- Loucura? Você não viu nada, cumpade! Bom é quando começa a chover e a entrar água e lama dentro de casa. A gente, que já não tinha nada, perde tudo. E a correria? Radical! Todo mundo tem que sair correndo de dentro de suas casas. Aí já viu, né? Os mais lentos... babau. A gente vive assim, em encostas e morros, porque a gente gosta. O nosso negócio é o perigo, é o desafio. Sabe como é, né? Brasileiro não desiste nunca.


Agora, responda você aí, que está lendo esse texto. O que impede o governo de retirar a população pobre das casas localizadas em áreas de risco? Falta de dinheiro? Parece que não. Pelo menos não faltou dinheiro quando Lula entregou R$ 370 bilhões a empresários e banqueiros durante a crise econômica.


Recentemente, Dilma Rousseff afirmou que, em uma década, seria possível acabar com a pobreza e o déficit habitacional do país. O PT de Lula e Dilma e o PSDB de FHC e Serra passaram quase duas décadas no comando do Brasil. E não resolveram. Sobre Marina e Ciro Gomes eu nem falo, que é pra não ter dor de cabeça.


Karl Marx costumava dizer que a História se repete. A primeira vez como tragédia e a segunda como farsa. Mais um ponto para o alemão.

terça-feira, 6 de abril de 2010

Aquele estranho bilhão que nunca chega

Por João Paulo da Silva

Em março, a revista americana Forbes divulgou a sua tradicional lista anual de bilionários, aquela minoria absurda da qual você e eu nunca faremos parte. O Brasil, graças ao empenho e à política econômica do presidente Lula, possui o maior número de ricaços da América Latina. São 18 brasileiros com fortunas acima de US$ 1 bilhão, reinando absolutos sobre quase 190 milhões de homens e mulheres comuns, cheios de dívidas e contas atrasadas.

Segundo a revista, o brasileiro mais rico é o empresário Eike Batista, que acumula uma bobagem monetária de US$ 27 bilhões. E o mais absurdo: em apenas um ano, o patrimônio de Batista aumentou US$ 19,5 bilhões. Nem nos melhores sonhos os trabalhadores brasileiros imaginaram seus salários subindo nessa proporção. O povo deve agradecer a Lula pelos R$ 510 do salário mínimo e pelos R$ 120 do Bolsa Família. Enquanto isso, Batista também agradece ao presidente, só que pelos bilhões. Nunca antes na história desse país a distribuição de renda foi tão bem feita.

A lista da Forbes aponta, ainda, o mexicano Carlos Slim, do ramo das telecomunicações, como o homem mais rico do mundo, com uma fortuna estimada em US$ 53,5 bilhões. Agora, o detalhe mais importante dessa festa toda. Dos quase sete bilhões de habitantes do planeta, apenas 1.011 concentram uma riqueza bilionária. Destes, somente os dez mais ricos possuem juntos a bagatela de US$ 342 bilhões. Quer dizer, ou aquela história de que o capitalismo dá oportunidades iguais a todos é conversa pra boi dormir ou o mundo está repleto de incompetentes que não sabem aproveitar as chances da vida. Fico com a primeira opção. De uma forma ou de outra, você e eu continuamos contemplando aquele estranho bilhão que nunca chega.

Obviamente que estas cifras estratosféricas não surgiram do nada. Alguém precisou gerar toda essa riqueza. E, claro, quem a gerou sequer foi convidado a tirar uma lasquinha, visto que nunca tivemos tantos famintos, desempregados e mal pagos como hoje. Se você ainda não sacou quem criou toda essa riqueza da qual estou falando, vou dar uma dica: vivem de salários e são a maioria da população.

Quando eu era mais jovem, me disseram que enriquecer licitamente sob o capitalismo era impossível. Agora entendo o porquê.

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Obs.: Em decorrência do excesso de ovos de Páscoa, este cronista só pode postar sua crônica hoje, e não no domingo como de costume.

domingo, 28 de março de 2010

Mata de orgulho

Por João Paulo da Silva

Há algum tempo o Brasil é motivo de orgulho. Para os ricos, é claro. A Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos, por exemplo, a serem realizados em terras tupiniquins vão encher de ilusões os olhos do povo, e de “money” os bolsos dos magnatas. A entrega, feita por Lula, de R$ 300 bilhões dos cofres públicos para salvar empresários e banqueiros da crise econômica também foi motivo para morrer de orgulho. Só quem perdeu o emprego e continua na rua da amargura sabe do que estou falando. Entretanto, o país já tem outra grande razão para se orgulhar. O nobre deputado federal Paulo Maluf entrou para uma importante lista internacional: a de procurados pela Interpol.

Maluf foi incluído na lista a pedido da Promotoria de Nova York. Há três anos, a Justiça americana determinou a prisão do nosso medalha de ouro em corrupção pelos crimes de conspiração, auxílio na remessa de dinheiro ilegal e roubo de dinheiro público em São Paulo. O malandro é acusado de desviar recursos de obras e remetê-los para Nova York. Depois, para a Suíça, Inglaterra e Ilha de Jersey, outro paraíso fiscal. Uma parte do dinheiro roubado pelo recordista olímpico Maluf ainda foi investida na Eucatex, uma empresa do ex-prefeito de São Paulo. Ah, já ia esquecendo. O filho do deputado, Flávio Maluf, também é acusado pelos mesmos crimes. Estima-se que o roubo chegue a mais de US$ 11 milhões. Me mata de orgulho esse rapaz. E de fome e na porta dos hospitais o restante do Brasil.

Foi pensando nessa nova razão para nos orgulharmos que eu resolvi propor uma homenagem ao Maluf. Afinal, um homem que já nos deu tantas alegrias merece um pouco de reconhecimento na vida. Minha proposta é a seguinte: quando o Maluf morrer – que isso não demore, pelo amor de Deus – penso que ele não deve ser cremado ou sepultado. Defendo que o Maluf seja empalhado e exposto no MASP (Museu de Arte de São Paulo), numa sessão especial que receberá o título de “Grandes Mestres da Corrupção Mundial". Acho, inclusive, que esta obra-prima da bandidagem deve viajar em exposição pelos principais museus da Europa e da América do Norte. Convenhamos, meter a mão no dinheiro público é uma arte que exige muito talento, possível apenas em democracias como a nossa.

Mas isso não é tudo. Também vou defender que o Maluf se torne patrimônio da cultura nacional. E que a biografia do notório ladrão seja disciplina obrigatória em todas as escolas do país, com o objetivo de que as futuras gerações saibam exatamente que tipo de exemplo não seguir. Outra importante proposta é instituir o Dia do Tomate no Maluf. A ideia é criar um feriado nacional, no qual todos os brasileiros teriam a oportunidade de acertar um tomate na cara do Maluf. Bom, ideias não me faltam. Até ele morrer, eu já terei acumulado uma Bíblia de propostas.

Ah, uma última coisa. Agora que é sócio de uma das mais importantes listas de procurados do mundo, Paulo Maluf pode ser preso a qualquer momento, basta entrar em um dos 181 países que são membros da Interpol. Tá aí. Essa eu pago pra ver.