domingo, 31 de julho de 2011

Enfim, a fama

Por João Paulo da Silva

Tinha dúvidas de que ela um dia realmente fosse chegar. Ainda mais sendo eu um sujeito desprovido de nome artístico. Afinal, assino minhas crônicas como João Paulo da Silva, nome bastante comum escolhido por meus pais. E, convenhamos, ninguém pode ficar famoso com um nome desses, a não ser que você seja o Papa. Não que seja feio. Ao contrário, acho o nome até bonito. Mas é diferente de assinar como Luis Fernando Veríssimo, Carlos Drummond de Andrade, Graciliano Ramos, Pablo Neruda, T.S Elliot, etc etc etc. Sempre achei que parte da popularidade de um escritor vinha do nome. Artista tem que ter nome de impacto. Se uma parte dos leitores compra livros por causa da capa, outra parte deve comprar pelo nome do autor. Óbvio que o mais importante é o conteúdo da obra, e que muitas pessoas buscam a sinopse antes de qualquer coisa. Entretanto, o nome devia ter alguma influência no sucesso ou fracasso de um escritor. Bom, era o que eu pensava até bem pouco tempo, quando tive meu primeiro encontro com ela. Aquela doce e cruel senhora de quem todo mundo deseja tirar uma lasquinha. Enfim, encontrei a fama. Contrariando todas as previsões.

domingo, 24 de julho de 2011

Esse tal de mercado

Por João Paulo da Silva

Era uma bela manhã de sábado. Eu estava assistindo ao futebol de areia pela televisão quando minha mulher gritou da cozinha:
- Querido, venha cá!

Levantei-me com relutância. O jogo estava emocionante e eu não queria perder nenhum lance.
- O que foi, meu amor? – eu disse.
- Querido, eu estou querendo fazer uma macarronada, mas não temos massa de tomate. Você poderia ir comprar?
- Logo agora que estamos metendo três na seleção de Portugal?! Não pode deixar isso pra depois?!
- Não! Tem que ser agora!
- Tá. Tudo bem. Eu vou.

domingo, 3 de julho de 2011

Seu Neco e o Apocalipse

Por João Paulo da Silva

Conheci o Seu Neco quando eu ainda era menino. Ninguém sabe ao certo o dia ou o ano em que o homem chegou ao lugar – uma periferia lá pelas bandas de Maceió. Todo mundo diz a mesma coisa:
- Sei não. Quando cheguei, ele já morava aqui.

Até a Dona Zefa, que vive há oitenta e oito anos na região, chegou ao bairro e o Seu Neco já estava pelas redondezas. E – pasmem! – já era homem feito. A idade do sujeito permanece uma incógnita, nunca descobriram. Seu Neco é bastante conhecido entre as pessoas da comunidade, os moradores admiram a sua sabedoria popular e encontram nele resposta para qualquer problema.