domingo, 27 de maio de 2012

O pesadelo

Por João Paulo da Silva

Numa noite dessas, tive um pesadelo terrível. Muito pior do que a derrota do Brasil para o Uruguai na final da Copa de 1950, em pleno Maracanã. Mais absurdo do que ver o Flamengo perder um campeonato carioca diante do Vasco. Mais torturante do que ser obrigado a comer quiabo e maxixe todos os dias. Não, não, não. Estou sendo generoso demais. Isso é muito pouco. Tive um sonho tão bizarro quanto saber que alguém pagou US$ 18 mil por uma calcinha da rainha da Inglaterra, aquela velhota que não faz outra coisa a não ser comer e bufar. Um sonho mais desesperador do que nadar à noite com tubarões em mar aberto ou ser perseguido pelo Freddy Krueger. Pensando bem, acho que não há precedentes piores para o meu mais recente pesadelo. Nele, eu chego em casa do trabalho e encontro meu filho, já com uns sete anos, às voltas com um brinquedo que não foi dado por mim, nem pela mãe ou por qualquer outro parente. Intrigado, eu digo: “Oi, filho. Brinquedo novo, é? Quem te deu?”. Ao que ele me responde sem constrangimento: “Foi o Carlinhos Cachoeira, papai.”. Nesse instante, eu acordo assustado e lavado de suor, desejando do fundo do coração estar no meio do Maracanã, nadando com tubarões vascaínos que não comem maxixe e ainda com a rainha da Inglaterra pendurada no meu pescoço, só de calcinha, chamando pelo Freddy Krueger.

domingo, 20 de maio de 2012

O casamento

Por João Paulo da Silva

Por que é mesmo que os casamentos acabam, hein? Uma amiga minha costuma dizer que o casamento é uma instituição social falida. Não sei. Talvez até seja mesmo. Mas imagino que ela esteja se referindo àquela tradicional e conservadora forma de casamento, surgida de uma das costelas da propriedade privada, lá nos primórdios da humanidade. Um tipo de matrimônio que previa a união entre um homem e uma mulher com o objetivo principal de garantir um herdeiro ao marido para que este não perdesse suas propriedades para o vizinho. No fim das contas, uma espécie de negócio. Vale lembrar, ainda, que essa era a única razão para que as mulheres fossem obrigadas a casar virgens (algo hoje bem mais fraco, é verdade). A história de manter a pureza do corpo até as núpcias e todo o blábláblá as religiões idealizaram depois. A exigência da virgindade era só para que o homem tivesse a certeza de que ao menos o primeiro filho seria seu. Quer dizer, quando inventaram a propriedade privada e o casamento monogâmico (este só para a mulher, é claro), inventaram também, de quebra, o machismo. Bom, mas a julgar pelo positivo avanço das atuais formas de união, inclusive homossexuais, talvez seja aquele casório démodé que tenha se tornado, sim, uma instituição social falida e com os dias contados.

domingo, 13 de maio de 2012

Que vexame, meu Deus!

Por João Paulo da Silva

Um amigo até me falou que era bobagem. Machismo da minha parte e coisa e tal. Eu até concordo. Mas é que... sei lá. Ficou um clima chato, sabe? Maior constrangimento, pô! Fiquei todo sem jeito na hora.

Eu tinha ido ao urologista. O motivo? É melhor poupá-los dos detalhes. Posso dizer apenas que o problema se tratava de uma dor que eu estava sentindo numa região estratégica. Mas a situação era dura, confesso. Sem trocadilhos maldosos, por favor.

O certo mesmo é que fui tomado pelo nervosismo. Me angustiava só de pensar no que o médico poderia dizer. Uma porção de hipóteses passava pela minha cabeça medieval.
- Hum...
- É grave, doutor?
- Grave?! Gravíssimo, meu caro!
- Ai, meu Deus do céu! O que é que eu tenho?!
- Você faz sexo regularmente?
- Regularmente? Bom, até as 20 horas funciono regularmente. Depois... já não garanto.
- Hum...
- O que foi?
- Vamos ter que amputar.
- O quê?! Amputar?! Mas por quê?!
- Por falta de uso.

domingo, 6 de maio de 2012

O padeiro

Por João Paulo da Silva

Quando chegou em casa, a mulher o recebeu com um beijo e uma notícia:
- Querido, estou grávida!
- O quê?!
- Isso mesmo! Estou esperando um filho.
- Mas que maravilha! Isso é ótimo, meu amor!

Emílio sempre foi um sujeito trabalhador, o melhor funcionário da repartição. Rita, sua esposa, trabalhava em casa e era uma mulher de beleza notória, extremamente atraente. O casal vivia um momento mágico. Seus rostos esbanjavam contentamento. A chegada de um filho abriria uma nova etapa em suas vidas. Emílio não queria perder tempo e tratou logo de contar a novidade para os amigos do trabalho.
- Sabem da nova? Vou ser papai!