domingo, 15 de fevereiro de 2009

Da série "Notícias da Carochinha"

Caçador mata Lobo Mau e salva menina de capuz vermelho

Manoel Chumbinho disparou duas vezes para impedir que o Lobo devorasse a garota

Por João Paulo da Silva,
enviado especial ao Reino das Alagoas

No final da tarde de ontem, num canavial próximo ao vilarejo Reino das Alagoas, o caçador Manoel Chumbinho, de 45 anos, evitou que uma tragédia ocorresse. Com dois tiros de espingarda calibre doze, Manoel abateu o Lobo Mau no momento em que a fera se preparava para devorar uma menina conhecida como Chapeuzinho Vermelho, de apenas dez anos.

“Eu estava passando perto do canavial quando ouvi os pedidos de socorro. Aí corri desembestado na direção dos gritos. O Lobo ia comer a garotinha. Mas eu meti dois balaços no bicho e ele caiu esticado.”, disse o caçador.

De acordo com a polícia local, que chegou minutos depois do ocorrido, tudo aconteceu porque a menina foi desobediente. A mãe de Chapeuzinho havia pedido que ela levasse uns doces para sua vovozinha doente, moradora de uma pequena casa nas proximidades do canavial do vilarejo.

A garota foi orientada pela mãe a contornar o canavial por causa do lobo, mas preferiu cortar caminho pelo meio da plantação de cana. “Quando passava pelo canavial, encontrei o Lobo e ele me perguntou o que eu levava na minha cestinha e aonde eu estava indo. Eu respondi que eram doces e que estava indo para a casa da vovozinha.”, contou Chapeuzinho.

A menina disse ainda que o Lobo também tentou enganá-la. “Ele chegou primeiro na casa e comeu minha avó. Vestiu as roupas dela e deitou na cama para me esperar. Eu estranhei aqueles olhos, orelhas e aquela boca grande. Aí quando ele disse que ia me devorar eu saí correndo e gritando. Minha sorte foi o Seu Chumbinho ter aparecido na hora.”, desabafou a menina.

Depois de ter matado o Lobo, o caçador Manoel Chumbinho abriu a barriga do animal para retirar a vovozinha. Ela sofreu alguns ferimentos graves e foi levada para o hospital geral do vilarejo, mas não corre risco de morte.

Segundo o delegado Roberval Papai Urso, os vizinhos chegaram a notar certa agitação dentro da casa, mas não imaginaram que se tratava de um ataque do Lobo Mau. A polícia quer saber agora se o lobo que foi morto é o mesmo que está sendo procurado por ter destruído as casas de três porquinhos do povoado vizinho, na semana passada.

domingo, 8 de fevereiro de 2009

Andando na prancha

Por João Paulo da Silva

Embora a História Oficial tenha documentado apenas um caso deste tipo de prática (no ano de 1829), reza a lenda que os piratas costumavam executar seus prisioneiros fazendo com que eles andassem sobre uma prancha até o encontro mortal com os tubarões. Se o método era uma forma recorrente ou não entre os corsários, pouco me importa neste momento. O que me interessa nessa história toda é a metáfora.

De tempos em tempos, o capitalismo é colocado para andar na prancha. Rebuliços econômicos, como este de agora, fazem parte de sua natureza paradoxal de produzir mais do que a sociedade pode consumir. A crise econômica é uma espécie de Frankenstein do capitalismo, responsável por agendar encontros periódicos entre o criador e a criatura. Quando isso acontece, os donos da festa vêem seus lucros diminuírem. E aí começa o pandemônio. Mas o fato dos capitalistas estarem andando na prancha não significa que, finalmente, eles vão nadar com os tubarões.

Demissões em massa, fechamento de empresas e redução de salários e direitos são algumas das formas encontradas pelo capitalismo para salvar a própria pele e retomar um novo período de lucros. É claro que o custo disso tudo é altíssimo, mas não tão alto para os magnatas. O aumento do desemprego, da fome, da miséria e da violência é sempre debitado na conta dos trabalhadores. Na história das crises do capitalismo, quem cria o problema não paga por ele. Faz os outros pagarem.

E pagar é realmente o termo que melhor se encaixa nessa tragédia toda. Desde que a turbulência econômica começou, o mundo já torrou trilhões na tentativa de salvar bancos e empresas de uma catástrofe maior. Detalhe: usando dinheiro público. Uma riqueza que não existe quando o assunto é aumentar os investimentos sociais. É incrível como esse pessoal sabe fazer mágica.

Nos últimos meses, executivos e governantes de muitos países vêm fazendo discursos efusivos, conclamando todos a se sacrificarem para tirar a economia mundial do buraco. Curioso: enquanto os bancos e as empresas estavam ganhando fortunas, ninguém chamou os trabalhadores para repartir o bolo. Agora, quando velhos fantasmas voltam a atormentar, eles aparecem com essa conversa de dividir os prejuízos.

Todos os dias o agravamento da crise faz o capitalismo andar um pouco mais sobre a prancha da História. Mas, para vê-lo realmente nadar com os tubarões, só falta mesmo alguém que dê um “empurrãozinho”.

domingo, 1 de fevereiro de 2009

O mistério de Carlinha

Por João Paulo da Silva

O universo é um lugar estranho e misterioso. E parece que quanto mais estranhas são as coisas com as quais nos deparamos mais misterioso e inexplicável ele fica. As incógnitas que atormentam a humanidade sempre me fizeram pensar no absurdo avassalador que é estar diante do incompreensível.

Nada mais perturbador do que a pergunta sem resposta, do que o ilógico e irracional. Tudo aquilo que não faz sentido na vida nos impõe a estupefação resumida em questionamentos bastante comuns. Cara a cara com o imponderável, dizemos: “por quê?”, “como assim?”, “isso não tem o menor cabimento!”, “não é possível!”, “deve haver alguma explicação!” etc, etc, etc.

A verdade é que não suportamos o enigmático. O que havia antes do universo? Existirá vida inteligente em outros planetas? Por que José Alencar não morre? Como o Brasil perdeu a Copa de 1950? Michael Jackson é humano? De que forma está vivendo Pinochet no inferno? Ou ainda – no caso dos mais angustiados – por que diabos Obama levou a sogra para morar com ele na Casa Branca? Talvez a gente nunca descubra. Enfim, não há respostas para todas as questões do universo.

Mas, atualmente, estes não são os enigmas que mais me afligem. Hoje, a charada que ocupa minha cabeça chama-se Carla Bruni, ex-modelo, cantora, compositora e atual esposa do presidente francês Nicolas Sarkozy.

A beleza desta franco-italiana é daquelas que fazem ateus se perguntarem: será que Deus realmente não existe? Será que aquela história do “design inteligente” não é mesmo verdade? Eu já tenho minhas dúvidas. Até me pego pensando que se realmente a moça fosse obra de Deus, eu não hesitaria em dizer ao Todo-Poderoso: Aê, cumpade! Caprichou, hein!

Por esses dias andei escutando as músicas da Carlinha Bruni e imaginei como eu reagiria àqueles olhos azuis e àquela voz sussurrada de ninfeta do Nabokov, cantando em francês no meu ouvidinho: “Mon amour, quand je rêve c'est de toi. Mon amour, quand je chante c'est pour toi. Mon amour, je ne peux vivre sans toi”. Fico todo arrepiado só de pensar.

Há algum tempo, quando me perguntavam qual era o meu maior desejo, eu respondia: ganhar na Sena. Agora respondo que é ter a sorte de ficar preso num elevador com a Carla Bruni. O problema é que a chance de um dos desejos ocorrer é praticamente a mesma. Ou seja, é de uma em um milhão. De qualquer forma, eu já sei o que vou pedir de presente no Natal desse ano.

Mas a pergunta que “lascadamente” não quer calar (pelo menos para mim) é a seguinte: o que cargas d’água a Carla Bruni viu no chauvinista, xenófobo, conservador, narigudo e orelhudo Nicolas Sarkozy?! Compreendem a minha perplexidade?!

E tem outra! Para aumentar ainda mais a complicação do imbróglio, no domingo passado ela afirmou, em entrevista, ser ideologicamente de esquerda. O que só piora as coisas. Linda, inteligente, sensível e de esquerda – quer dizer, perfeita, né? –, mas casada com o Sarkô. Eis aí o mistério de Carlinha. Inconcebível, inexplicável, inaceitável.

O Sarkozy deve ter feito algum tipo acordo com o capeta. Só pode ser isso. Ou, então, não há resposta para o enigma e o universo não faz o menor sentido.