Por João Paulo da Silva
Centenas de mortos, milhares de desabrigados, não sei quantos desaparecidos ou soterrados. Você e eu já vimos esse filme. Ele se repete todos os anos, numa espécie de déjà vu do caos anunciado. Irresponsavelmente, as autoridades continuam com a mesma política de sempre: só aparecem para recolher os corpos e jogar os sobreviventes em ginásios de esporte. Neste país, entretanto, a catástrofe humana que é morar em áreas de risco ou não ter onde morar não é um problema novo. É mais antigo do que a posição de... Bom, vocês sabem.
Não pretendo usar aqui os números reais das recentes tragédias do Rio de Janeiro e de outros estados brasileiros. Por uma razão muito simples. Mesmo se “apenas” uma única família tivesse morrido nos deslizamentos, nós já teríamos uma perda irreparável e injustificável, além de motivos suficientes para uma revolta armada. O número assustador de vítimas revela, tão somente, o quão pesado é o preço do abandono. Contudo, a conta do descaso nunca é paga por quem abandona, mas por quem é abandonado. E como mostrou emblematicamente o Rio, paga-se da pior forma possível.
Agora, como mais um requinte de sadismo, as autoridades responsáveis pelas tragédias – me refiro aos três patetas: Lula, Sérgio Cabral e Eduardo Paes – resolveram culpar os que moram nos morros pelas desgraças. Quer dizer, as pessoas que vivem em encostas, favelas e áreas de risco em geral fazem isso por vontade própria.
- Por que o senhor decidiu construir o seu barraco aqui nesse morro?
- Porque eu quis, ora. O governo até me ofereceu uma casa em um condomínio de luxo, mas eu recusei. Bom mesmo é morar em casa de lona, no meio das encostas.
- Mas o senhor não sabe que tudo pode desabar a qualquer momento?! Ainda mais com essas chuvas.
- Sei sim. Claro que sei.
- E então, meu senhor?! Por que você não sai daqui?
- Porque eu gosto de viver perigosamente, entende? Aqui a adrenalina é constante, praticamente um esporte radical. Sempre que chove, vem aquela tensão, sabe? Muito maneiro, cara! É uma sensação incrível saber que sua casa pode desabar enquanto você e sua família dormem.
- Mas isso é uma loucura!
- Loucura? Você não viu nada, cumpade! Bom é quando começa a chover e a entrar água e lama dentro de casa. A gente, que já não tinha nada, perde tudo. E a correria? Radical! Todo mundo tem que sair correndo de dentro de suas casas. Aí já viu, né? Os mais lentos... babau. A gente vive assim, em encostas e morros, porque a gente gosta. O nosso negócio é o perigo, é o desafio. Sabe como é, né? Brasileiro não desiste nunca.
Agora, responda você aí, que está lendo esse texto. O que impede o governo de retirar a população pobre das casas localizadas em áreas de risco? Falta de dinheiro? Parece que não. Pelo menos não faltou dinheiro quando Lula entregou R$ 370 bilhões a empresários e banqueiros durante a crise econômica.
Recentemente, Dilma Rousseff afirmou que, em uma década, seria possível acabar com a pobreza e o déficit habitacional do país. O PT de Lula e Dilma e o PSDB de FHC e Serra passaram quase duas décadas no comando do Brasil. E não resolveram. Sobre Marina e Ciro Gomes eu nem falo, que é pra não ter dor de cabeça.
Karl Marx costumava dizer que a História se repete. A primeira vez como tragédia e a segunda como farsa. Mais um ponto para o alemão.
Centenas de mortos, milhares de desabrigados, não sei quantos desaparecidos ou soterrados. Você e eu já vimos esse filme. Ele se repete todos os anos, numa espécie de déjà vu do caos anunciado. Irresponsavelmente, as autoridades continuam com a mesma política de sempre: só aparecem para recolher os corpos e jogar os sobreviventes em ginásios de esporte. Neste país, entretanto, a catástrofe humana que é morar em áreas de risco ou não ter onde morar não é um problema novo. É mais antigo do que a posição de... Bom, vocês sabem.
- Porque eu quis, ora. O governo até me ofereceu uma casa em um condomínio de luxo, mas eu recusei. Bom mesmo é morar em casa de lona, no meio das encostas.
- Mas o senhor não sabe que tudo pode desabar a qualquer momento?! Ainda mais com essas chuvas.
- Sei sim. Claro que sei.
- E então, meu senhor?! Por que você não sai daqui?
- Porque eu gosto de viver perigosamente, entende? Aqui a adrenalina é constante, praticamente um esporte radical. Sempre que chove, vem aquela tensão, sabe? Muito maneiro, cara! É uma sensação incrível saber que sua casa pode desabar enquanto você e sua família dormem.
- Mas isso é uma loucura!
- Loucura? Você não viu nada, cumpade! Bom é quando começa a chover e a entrar água e lama dentro de casa. A gente, que já não tinha nada, perde tudo. E a correria? Radical! Todo mundo tem que sair correndo de dentro de suas casas. Aí já viu, né? Os mais lentos... babau. A gente vive assim, em encostas e morros, porque a gente gosta. O nosso negócio é o perigo, é o desafio. Sabe como é, né? Brasileiro não desiste nunca.
4 comentários:
O pior, se é que há algo de menos ruim em tudo isso, foi ver o prefeito de Niterói dizendo numa sexta-feira que tiraria pessoas de outro terreno próximo a lixão na segunda-feira! Três dias de chuvas e com uma real possibilidade de morrer para alguém dizer "vocês aguentam até sgunda!".
Ninguém mora em áreas de risco porque quer, como vc bem colocou no texto. Parabéns!
Olha, sei que os governos têm sua culpa nisso, mas eu já morei e convivi com pessoas que tinham condições de sair de uma área de risco, de favelas, porém não queriam, pois alí o custo de vida era mais barato, porque são acomodados, essa é a verdade. Então, entendo o que Cabral quis dizer e apoio, pois a grande maioria quer fazer uma economia que no final acaba valendo a vida.Ainda bem que minha família teve condições, pensou diferente da maioria dos meus conhecidos e saímos de uma área de risco.
Gostei, Joãozinho... Muito bom mesmo. Fazia tempo q n passava por aqui. "Os mais lentos... babau." kkkkkkkkkkkkkkkkkkkk Essa parte foi foda.
O trecho "além de motivos suficientes para uma revolta armada" foi o que mais me chamou atenção no texto.
Confesso meu medo.
Abraço.
=***
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