
Despojada do mínimo de afeto humano, Luciene é refém de um chantagista emocional, a quem ela chama de “amor”. “Ele sempre diz que vai me abandonar se eu não voltar logo pra casa.”, diz ela, angustiada por ainda não poder receber alta. A filha mais velha, de cinco anos, uma vez ligou para reclamar a ausência da mãe. “Ela me disse que vai acabar perdendo o ano na escola porque eu não estou lá pra levar ela.”, diz Luciene, que não tem família nenhuma. A mãe morreu. E o pai nem merece ser chamado assim. Depois de uma briga com a filha, ele parou de pagar a água da casa em que ela mora.
Luciene não vive nem sobrevive. Ela apenas recebe o Bolsa Família. São R$ 90 destinados a garantir o impossível. Com esta quantia, nem se come direito. O próprio presidente, que se orgulha desta institucionalização da miséria, gasta bem mais do que R$ 90 consigo mesmo em um único dia. As pessoas que recebem o Bolsa Família, assim como Luciene, não continuam vivas por causa deste dinheiro, pois isto é na verdade impraticável. Permanecem respirando apenas por insistência própria, talvez por obra de alguma espécie de pacto misterioso com seus estômagos.
Há bem mais tristezas na história de Luciene. Mas que não continuarão a ser ditas por uma razão muito óbvia. Luciene não quer ser literatura, não quer ser notícia, muito menos crônica. Luciene quer apenas que alguém se importe com ela. O que até agora ainda não aconteceu.