domingo, 12 de junho de 2011

Heróis e vilões

Por João Paulo da Silva

A maioria de vocês, assim como eu, provavelmente acompanhou nos gibis ou nos cinemas as aventuras de conhecidos super-heróis, imortalizados pela cultura pop, como Homem-Aranha, Super-Homem, Capitão América, X-Men etc etc etc. Gente que utiliza super poderes para salvar vidas, impedir o fim do mundo e lutar por justiça e liberdade. Gente que pode voar, desviar de balas, escalar paredes com as próprias mãos e levantar toneladas. Longe da ficção e da fantasia, essa gente não existe. Na vida real, os heróis são outros. São de carne e osso, sangram, pagam contas, recebem salários de fome, andam em ônibus lotados e passam horas em filas de hospitais. Mas, entre os personagens dos gibis e os humanos da realidade, existe ao menos uma semelhança: todos eles possuem terríveis vilões para enfrentar.

No universo das histórias em quadrinhos, os inimigos querem dominar o planeta, fazer experimentos perigosos e mirabolantes e espalhar maldade por todos os lados. No mundo real, é um pouco diferente, mas não menos terrível. Os vilões já controlam o mundo, através de bancos, grandes empresas, latifúndios e governos opressores. Exploram o trabalho da maioria dos povos e fazem guerras para garantir lucros altos. Com uma ganância sem limites, os inimigos da vida concreta ainda cortam verbas dos serviços públicos essenciais, só para alcançar um superávit primário maior e encher cada vez mais os próprios bolsos de dinheiro. O desemprego, a fome, a miséria e a violência são as consequências que vêm com os atos dos verdadeiros vilões.

Assim como os super-heróis dos gibis, os heróis de carne e osso também lutam todos os dias. Lutam para salvar vidas de incêndios, lutam para salvar vidas em hospitais, lutam para guiar vidas nas salas de aula e lutam pela própria sobrevivência. Mas quando estes heróis decidem lutar cruzando os braços em defesa de melhores salários e condições de trabalho, os vilões da História, da mesma forma como nos gibis, respondem com ações inescrupulosas e violentas. Chamam os mocinhos de vândalos, bandidos e delinquentes, além de convocar a polícia para reprimir.

No entanto, igualando-se aos super-heróis das histórias em quadrinhos, os heróis que sangram e recebem salários de fome também resistem e enfrentam seus inimigos. Às vezes perdem, às vezes ganham. Mas sempre retiram lições importantes de suas batalhas. Descobrem que, ao contrário dos super-heróis dos gibis, eles não podem vencer seus próprios vilões sozinhos. Precisam estar juntos, unidos como um time, um grupo, uma liga, uma classe.

Os bombeiros do Rio de Janeiro e todos os trabalhadores que fazem greves neste país e enfrentam seus inimigos mostraram ao mundo que é possível lutar, que é possível vencer. Mesmo sem possuir super poderes.

4 comentários:

Rosane Cristina disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Rosane Cristina disse...

Caro João, há muito tempo não via uma categoria se rebelar contra um governo como nossos bravos bombeiros do Rio de Janeiro. Quando houve a tragédia das chuvas na região serrana do Rio, alguns bombeiros morreram, deram suas vidas pela população. Não é justo, que quando reivindicam melhores salários e condições de trabalho, sejam chamados de vândalos e bandidos pelo governador. Mas, me orgulho de ser do Rio de Janeiro, ser professora do estado, de estar em greve também e de saber que a sociedade apoiou o movimento dos bombeiros e o governador teve que se calar. Obrigada pelas belas palavras de apoio aos nossos heróis bombeiros!!!

Mário Júnior disse...

João, tanta foto do homem-aranha e você pegou a mais tosca pra ilustrar a postagem... quanta vontade de ser brega, hein. :p

Sobre o texto, é verdade que os que possuem tarefas profissionais mais árduas (como os bombeiros) e recebem em troca salários aviltantes merecem nosso apoio e compreensão quando protestam contra essa condição de vida a que são submetidos.

É verdade, também, que greve (ou aquartelamento, quando no caso dos militares, que legalmente não possuem tal direito) é um dos direitos dos que vendem a força de trabalho para sobreviver. Um protesto de bombeiros ou professores com R$930 de salário serve como denúncia do paradoxo que é nossa sociedade: ao mesmo tempo que não se tem verba para remuneração do funcionalismo público, tem para aumentar (de forma vergonhosa, diga-se!) os salários dos parlamentares e comissionados. Na mesma medida que construir hospitais e escolas se torna escasso, vemos R$430 milhões de dinheiro público ser dado ao Corinthians para fazer um estádio de futebol.

A reação contra esse tipo de conduta dos nossos gestores, que até chega a ferir o princípio da moralidade pública, ainda é muito pequena. Até na hora do voto, ela pouco se expressa.

No entanto, nem vou dizer que colocar tal intelectual de esquerda no lugar da Dilma vai ser a solução. A verdade é que não adianta só reclamar, é necessário fazer e fazer bem feito.

E a esquerda, vide as experiências que ela mesmo protagoniza, só tem sido boa em fazer críticas, apontar problemas etc. Para saná-los é tão ruim (ou até pior) que a direita! Isso quando não dão a volta pra direita depois de eleitos...

Como diz o senhor Omar: trágico!

PS: Os cômico é que hoje os sindicatos fazem campanha de solidariedade aos militares. Amanhã, num protesto qualquer, esses mesmos militares vão reprimir os sindicalistas que foram solidários a eles... como organizar isso? Todo mundo insatisfeito com o governo, mas não existe unidade.

Bruno MGR disse...

Esse é o João esbanjando crítica à sociedade! Concordo contigo vírgula por vírgula. Abraço.