domingo, 4 de setembro de 2011

De onde vem os bebês?

Por João Paulo da Silva

A Júlia tinha acabado de completar cinco anos. Uma gracinha, a garota. Super esperta, inteligente, atenta a tudo e a todos, até muito sagaz para a idade e, para o terror dos pais, questionadora ao extremo. Em geral, fazia mais perguntas do que um agente da CIA durante um interrogatório. Estava naquele momento da curiosidade excessiva pelo qual, normalmente, toda criança passa. Tudo indicava, porém, que com a Júlia as coisas eram um pouco diferentes, digamos, meio exageradas. Perguntas feitas por crianças são muitas vezes saudáveis, pois também são através delas que os pequeninos vão descobrindo o mundo. Afinal, é da dúvida que nasce a luz. “Ou as trevas.”, como diria o Roberto, o pai da garota, numa discussão com a esposa, logo depois de mais uma perigosa sessão de perguntas da filha.


Ao chegar da escola com a babá, a Júlia encontrou o pai em casa, tirando os sapatos no quarto, após outro dia de incessante trabalho. Nem esperou o pobre do Roberto tomar um banho para relaxar. Foi logo disparando sua metralhadora giratória de perguntas. Crianças não são apenas curiosas, são também imediatistas. Ou respondemos a elas na hora, ou começam um berreiro. E, na pior das hipóteses, até vão buscar respostas aonde não devem. Some-se a isso, claro, aquela tendência dos pais a esconderem dos filhos algumas verdades sobre o funcionamento do mundo, e está armada a confusão.

- Pai, como foi que eu nasci? – disparou a Júlia, sem dó nem piedade.
- Ora, minha filha. Da mesma forma que as outras crianças.
- Tá, isso eu sei. Não sou burra. O que eu quero saber é como acontece. Como foi que cheguei até aqui?
- Ah, sim, claro. Agora entendi. – tentou disfarçar o Roberto. – Bom, você veio pelo correio.
- Não, pai. Fala sério. Os correios não fazem esse serviço, que eu sei. Para de mentir e diz logo a verdade.
- Tudo bem, filha. Eu digo. Mas já te falaram sobre as cegonhas trazerem os bebês?
- Já sim. E eu também não engoli essa história idiota.
- Droga... que menina impossível... tempos difíceis esses... – suspirou o Roberto.
- Disse alguma coisa, pai?
- Quem? Eu? Nada não.
- Então para de me enrolar e conta logo de onde vem os bebês! Pode ser?!

Não havia saída. O Roberto teria de falar a verdade. Ele sempre soube que este momento um dia chegaria. Mas não esperava que fosse assim, de forma tão abrupta, sem tempo ao menos para uma preparação psicológica ou, quem sabe, para uma fuga do país.

- Ouça, vou contar como você chegou até aqui. Mas tem que me prometer que será forte. Certo?
- Tudo bem, pai. Eu aguento.
- Ok, lá vai então. – Roberto respirou fundo e disparou. – Você foi enviada para mim e para sua mãe por uma avançadíssima civilização alienígena, que teve seu planeta destruído...
- PAI! Para de mentir! Essa é a história do Super Homem. Que chato. Você vai me contar a verdade ou não?! Quer que eu vá pesquisar na internet?!
- NÃO! De jeito nenhum. Nada de internet. O que foi que eu lhe ensinei? Já esqueceu?
- Não, pai. Não esqueci. Você disse que eu sempre deveria procurar primeiro você ou a mamãe quando tivesse alguma dúvida.
- Exatamente. Muito bem.
- Pois então...
- Pois então procure a sua mãe.
- Nem conte com isso, querido. Tô fora. Resolva sozinho. – disse a Joana, esposa do Roberto, ao entrar no quarto para pegar uma toalha.
- Joana, não faça isso comigo. Não me deixe numa cilada dessas. Eu não fiz essa menina sozinho.
- Eu sei que não, querido. Mas fui eu quem a carregou sozinha na barriga por nove meses. Por isso, te vira. – rebateu a Joana, saindo do quarto em seguida.
- Filha da mãe... – xingou baixinho o Roberto.
- Pai, que história é essa de que vocês me fizeram?

Estava encurralado. Estava nas cordas, com o adversário socando sem parar, sem dar espaços ou tempo para respirar. Precisava fazer alguma coisa. E fez. Tomou uma decisão honrada. Decidiu falar a verdade. Não a verdade totalmente verdadeira, que isso não se faz com crianças de cinco anos.

- Veja bem, minha filha. Os bebês são gerados pelos próprios pais, por meio de uma espécie de cirurgia que eles mesmos fazem um no outro. É como brincar de médico. Entende?
- Não, não entendo.
- Meu Deus... como isso é difícil. Ouça, o papai tem uma pequena seringa, quer dizer, não chega a ser tão pequena assim... é uma seringa até considerável. Mas isso não é importante. O que interessa é que é através desta seringa que o papai coloca parte de uma sementinha dentro da mamãe. Aí esta parte da sementinha do papai encontra a outra parte que já está na mamãe. É como aplicar uma injeção.
- E o que acontece depois?
- Bom, depois que essas partes se juntam, elas formam uma só e vão para um lugarzinho chamado útero, que fica próximo da região da barriga da sua mãe. É lá que essa sementinha vai se desenvolver durante nove meses até se transformar num bebê. Pronto. Acho que já expliquei tudo.
- Não, pai. Espera. E essa injeção dói muito?
- Aaahhhhh, como vou explicar isso...? Olha, na primeira vez dói um pouquinho. Depois passa. Mas aí é melhor você perguntar pra sua mãe.
- E onde é que essa injeção é aplicada na mamãe?
- Pergunta pra sua mãe, filha. É melhor.
- E essa seringa, pai?
- O que é que tem?
- Onde ela fica?
- Sua mãe é que sabe.
- Mas a seringa não é sua, pai?
- É, é minha sim. Mas é a sua mãe que controla. É ela que diz quando posso ou não usá-la.
- E você deixa que ela faça isso?!
- Não tenho escolha, filha. Você sabe como sua mãe é controladora.
- É, eu sei. Mas... pai?
- O que é?
- E essas suas sementinhas?
- O que tem as minhas sementinhas agora?
- Onde ficam guardadas?
- Ai, meu Deus... mais essa. Tá. Presta atenção. Além da seringa, o papai também tem uma espécie de bolsinha, onde ficam guardadas as sementinhas, que são aplicadas na mamãe pela seringazinha. Mas, antes que você me pergunte, está tudo sob o controle da sua mãe. Ok? Agora chega, tá? Já perguntou demais.
- Não, pai. Só mais uma pergunta, por favor.
- Tudo bem. Mas vá com calma. Não quero ter um infarto.
- Se um dia eu quiser ter um filho, vai precisar de injeção?
- Pode ser que sim, pode ser que não. Existem outras formas. Mas isso ainda vai demorar muito. E, se depender de mim, nem tão cedo você verá uma seringa. Talvez só depois que eu morrer. Agora, pelo amor de Deus, vá brincar lá fora.

Quando já estava de saída, a curiosa Júlia ainda perguntou da porta:
- Mas, pai, essa história toda que você me contou não tem nada a ver com sexo não, tem?

O pobre Roberto não tinha mais forças. A menina era impossível. Não havia jeito de esconder nada dela. Acabou se rendendo e confessando a verdade entre um suspiro e outro.
- Tem, minha filha. Tem sim. É esse o nome certo que se dá.
- Nossa, deve ser uma chatice.

E lá se foi a Júlia.

6 comentários:

Júlio Arantes disse...

E que tal essa versão aqui: http://www.facebook.com/photo.php?fbid=10150419703662306&set=a.10150152575367306.346385.702077305&type=1&theater ?? hehehe...

Bruno Martins disse...

Muito bom. A "seringa de tamanho considerável" foi muito engraçado.

Pedro Rodolpho disse...

kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk... A seringazinha foi inspirada em vc mesmo, kbça! kkkkkkkkkkkk. Muito engraçado! hahaha

Anderson Santos disse...

kkkkkkkkkkkkkkkk

Muito legal!

Vinicius disse...

huahuahua

O pai se sentiria aliviado, não? huahua

Júlio Arantes disse...

acho que o link não deu muito certo... aí vai http://twitpic.com/6km6o6