domingo, 8 de abril de 2012

O medo da morte

Por João Paulo da Silva

Nietzsche dizia que existir é doloroso porque o mundo é doloroso. O filósofo alemão, entretanto, também afirmava que muito pior do que a dor da existência é a dor do “deixar de existir”. A verdade é que nós nos apegamos bastante ao que a vida tem de melhor; e talvez seja por isso que não queiramos morrer. Mesmo com as contradições sociais do mundo tornando difícil a nossa existência, nós gostamos de viver, e a possibilidade da morte é sempre uma aflição que nos persegue. Fazemos de tudo a fim de retardar o irremediável. Evoluímos a medicina, a nutrição, os exercícios físicos, as condições de vida, etc etc etc. Brigamos com a natureza de todos os seres e com o planeta para garantir maior longevidade. Mas, para afugentar a dor que vem com o destino final e com a perda, não fazemos outra coisa a não ser criar uma porção de ilusões místicas e religiosas. É fato: não lidamos bem com a morte.

Parece que nunca estamos preparados para encontrar o próprio fim ou mesmo para perder alguém querido. Ainda que esta pessoa esteja muita velha, doente e com os dias contados, a morte sempre nos pega de surpresa, de assalto. Não é nada fácil aceitar que aqueles que morrem não vão poder mais estar conosco. Nunca mais. Pelo menos não pessoalmente. Pior do que isso só a certeza avassaladora de que realmente não há nada depois da morte. Tudo se encerra naquele momento final, como num sono profundo e sem sonhos. A ideia é um pouco perturbadora, eu sei. E é por isso que para aliviar a dor, a dor do “deixar de existir”, a maioria das pessoas busca dar e receber conforto através de fantasias espirituais. “Calma, chegou a hora dele”, “Foi Deus que resolveu chamá-lo”, “Ele está num lugar melhor do que a gente”, “A vida eterna começa agora”. Exemplos não faltam. A verdade, porém, é que projetamos toda essa alegoria tranquilizadora justamente porque ainda não conseguimos enxergar aquilo que de fato nos importa e que está bem diante dos nossos olhos.

Buscamos proteção, paz, alegria, felicidade. Imaginamos um pai zeloso, um deus, que cuida de nós, nos observa, perdoa nossas falhas e nos promete, para depois da morte, tudo o que não tivemos na vida. Acreditamos nisso porque estamos muito sós. Sentimos falta da humanidade, sentimos falta daquilo que ainda podemos ser. Queremos alguém que nos proteja simplesmente porque não encontramos abrigo nos outros. Enganamos a nós mesmos com a promessa da vida eterna porque ainda não vislumbramos as possibilidades que podemos alcançar com a vida que passa. Quem disse que é preciso aceitar o sofrimento para ser feliz depois? Quem disse que as dificuldades do mundo são provações divinas para testar a nossa fé? Quem disse que a vida não pode ser plena, justa e humana, ainda que um dia ela tenha de acabar? Só tememos a morte porque desconhecemos o que pode ser feito enquanto estamos vivos.

Quando compreendermos que não precisamos ser prisioneiros do destino natural de todos os seres, que nenhum homem ou mulher precisa servir a nenhum senhor, seja na terra ou nos céus, que o único propósito de estarmos aqui é aquele que nós quisermos e o que for melhor para todos, aí as ilusões religiosas não farão mais o menor sentido. A proteção, a paz, a alegria e a felicidade que buscamos não estão depois da morte ou nas mãos de um zelador do universo. Estão, na verdade, na possibilidade real de uma humanidade livre de todo tipo de exploração e opressão, na qual o outro não seja visto como um trampolim para o lucro e a satisfação individuais. Mas, necessariamente, como a única alternativa viável para a realização da plena vida humana.

Quando fizermos de nossa existência uma odisséia bela e completa, o medo da morte será irrelevante.

2 comentários:

MicaEla ~* disse...

Ah não, Jão...eu ainda não rompi com a idéia de que vou morrer e pronto acabou. não aceito essa tristeza, ow :/

quero ir pro céu, pro inferno, pra algum lugar que seja open bar.

essa vida já é tão difícil que não aceito não ter nada do lado de lá.....

:P

MicaEla ~* disse...

ps: a primeira coisa que pensei quando li o título da postagem foi:

'O amor comeu minha paz e minha guerra. Meu dia e minha noite. Meu inverno e meu verão. Comeu meu silêncio, minha dor de cabeça, meu medo da morte.'

e cheguei a conclusão que se houver amor na vida, do outro lado da morte deve ter alguma coisa também.