domingo, 10 de junho de 2012

10 coisas para fazer antes do fim

Por João Paulo da Silva

Todo mundo vai morrer um dia, independente da forma. Tiro, facada, acidente, infarto, câncer, atropelamento, queda de avião, intoxicação alimentar ou mesmo falência múltipla de órgãos, que é bem mais chique. Se o sistema público de saúde funcionasse direito, é verdade que não morreriam tantas pessoas como morrem atualmente, com certeza não bateriam as botas por falta de assistência médica. Mas ainda assim elas morreriam, porque morrer é o curso natural da vida, pelo menos por enquanto. Obviamente, não descarto outras possibilidades para o nosso fim, como a destruição completa do planeta, seja por uma guerra nuclear, invasão alienígena, impacto de um meteoro gigante ou a continuidade do capitalismo. Esta última, inclusive, sendo a hipótese mais provável, caso os trabalhadores não consigam fazer o mundo mudar de sistema. Bom, o certo é que vamos virar poeira em algum momento. Pode ser amanhã ou daqui a bilhões de anos. Sem dúvida, a segunda opção é melhor.

Entretanto, não era exatamente do fim que eu queria falar, e sim do que nós fazemos antes de chegar até ele. Ou mesmo daquilo que queremos fazer ou ver acontecer antes de fecharmos os olhos pela última vez. Entre nós, há aqueles que passam a vida fazendo arte; os que ocupam seus dias com a política; outros que são engolidos pelo trabalho; tem os que dedicam todo o tempo a passar num concurso público, sonhando com uma relativa estabilidade; e há ainda aqueles que sentam na porta de casa para ver a existência passar. Mas o que você faria se descobrisse que tem pouco tempo de vida? Um ano, no máximo. Seja porque sofre de uma doença incurável e terminal, ou porque um asteróide do tamanho do Texas vai se chocar com a Terra, e não haverá escapatória, nem mesmo se chamarmos o Bruce Willis. E aí? O que fazer? Já pensou em elaborar uma listinha com 10 coisas que você faria ou desejaria que acontecessem antes do fim? Não? Eu pensei, e fiz a minha. Lá vai.

1ª) Certamente, eu daria aquele bom e desejado calote monumental nos cartões de crédito. E sem nenhum constrangimento. Afinal, teria passado a vida toda com a corda imoral dos juros abusivos no pescoço. Inclusive, falar em juros abusivos é até pleonasmo. Abusar é da natureza dos juros, sobretudo no caso dos cartões de crédito. Eu estouraria o limite de todos eles despudoradamente, comprando tudo de uso imediato. Faria os cruzeiros mais caros, viajaria pelo mundo inteiro, jantaria nos melhores restaurantes e ainda levaria quentinha pra casa. Porque, como diria meu pai, a gente sai da pobreza, mas a pobreza não sai da gente. Ou mesmo o saudoso Millôr Fernandes: “Dinheiro não traz felicidade, mas paga tudo o que ela gasta.”.

2ª) Assistir de perto ao nascimento de uma aurora boreal, que é indiscutivelmente um dos fenômenos mais espetaculares do universo. Deve ser fabuloso ver o céu esverdeado bruxulear diante dos próprios olhos, apenas porque partículas de ventos solares se chocaram com nossa atmosfera. Faz a beleza parecer tão simples. Entretanto, para assistir a essa maravilha, eu precisaria ir até a Noruega, o que só poderia fazer se comprasse as passagens e pagasse a hospedagem com os cartões de crédito. Dando um calote depois, evidentemente. Gostaria de ver de perto também uma explosão de supernova, mas é impossível, por motivos óbvios. Eu fritaria antes de chegar perto.

3ª) Ficar preso num elevador por duas horas com a Scarlett Johansson. Ou, quem sabe ainda, me perder naquela ilha deserta do filme A Lagoa Azul junto com a Brooke Shields, sem aquele galego azedo do Richard para atrapalhar. Nas duas situações, eu diria a elas: “Olha, sou o último homem do planeta e você, a última mulher. Querida, a raça humana depende de nós para continuar.”. Enquanto isso, eu cruzaria os dedos, torcendo para que nenhuma delas respondesse: “Que pena, querido. A humanidade deu azar.”. Bom, trata-se apenas de uma listinha de coisas que este cronista, hipoteticamente, faria ou desejaria que acontecessem. Não significa que isso vá realmente ocorrer, ok? É só exercício de ficção. Tem que explicar, gente, se não dá problema em casa.

4ª) Desfilar no carnaval do Rio de Janeiro, de preferência pelado na Mangueira. Eu quis dizer na Escola de Samba Estação Primeira de Mangueira. Vocês entenderam. Sem piadinhas maldosas, por favor. Eu viria no alto de um carro alegórico, completamente nu, com músculos definidos e pintado de verde e rosa. Estaria representando a virilidade do macho alfa ou qualquer coisa assim.

5ª) Pular de paraquedas. É um sonho, desde menino. A sensação de voar (imagino que esta seja a sensação) por alguns segundos provavelmente é a de liberdade plena. Ficar com a cabeça nas nuvens, despreocupado, apenas rezando para o paraquedas abrir. Afinal, ninguém precisa antecipar nada.

6ª) Ver a Terra pelo lado de fora, como fez pela primeira vez, em 1961, o astronauta russo Iuri Gagarin. No entanto, ao invés de dizer “a Terra é azul, e eu não vi Deus”, a exemplo de sua famosa frase, eu diria: “A Terra é... hum, aahhh, cacete, não consigo ver nada com todo esse lixo espacial em volta.”. E completaria: “Bom, e Deus ainda não deu as caras.”.

7ª) Conhecer pessoalmente o cronista Luis Fernando Veríssimo e fazê-lo escrever o prefácio do meu livro de crônicas, o que talvez ele só fizesse sob tortura. Aí, eu não hesitaria e diria em tom de sentença, torcendo para que ele escolhesse a primeira opção: “Ou você escreve o meu prefácio ou me dá um autógrafo na virilha! Então, o que vai ser, tchê?!”.

8ª) Atirar o deputado Jair Bolsonaro, preferencialmente amarrado, no meio da Parada Gay de São Paulo, dizendo a ele: “Fala agora, esperto, aquelas asneiras que você diz lá no Congresso. Vai, fala! Tu não é macho, pô?!”.

9ª) Brincar de tiro ao alvo dentro do Congresso Nacional, como naqueles joguinhos de parque de diversão, em que o sujeito precisa acertar com uma carabina o maior número de patinhos em movimento. Seria mais do que brincadeira, seria prestação serviço público. Um tiro no Sarney valeria o triplo de pontos.

10ª) Por fim, antes mesmo do fim, o meu ou o do planeta, eu desejaria ver um mundo no qual ninguém precisasse se preocupar com o final do mês, com as filas nos hospitais e a falta de assistência, com a fome e a miséria, com o analfabetismo e a má estrutura das escolas ou com a ausência de um teto para morar.

Ainda dá tempo, pessoal. Que seja amanhã, e não daqui a bilhões de anos.

2 comentários:

Siliva disse...

Eu faria algumas dessas coisas, mas que aque mais teria vontade mesmo...É brincar de tiro ao alvo no congresso...

parabéns pelo teu blog. Sempre que posso, dou uma passada aqui.

Mila Mendes disse...

Tirando a lagoa azul...faria tudo isso...ALGUMAS COISAS CREIO Q FAREI!!! Como sempre sua fã,estarei a postos para a campanha LFV FAZ O PREFÁCIO DO JOÃO OU ASSINE SUA VIRILHA!!! AMEI + uma vez!!!