Por João Paulo da Silva
Há mais ou menos vinte anos um ex-sindicalista desapareceu. Os seus mais destacados sinais característicos eram uma barba preta, uma voz rouca e a ausência do mindinho da mão esquerda. Tudo que se sabe é que o sujeito sumiu sem deixar vestígios. Ao que tudo indica, nunca mais foi visto. Mas talvez este mistério esteja próximo de ser solucionado.
Há mais ou menos vinte anos um ex-sindicalista desapareceu. Os seus mais destacados sinais característicos eram uma barba preta, uma voz rouca e a ausência do mindinho da mão esquerda. Tudo que se sabe é que o sujeito sumiu sem deixar vestígios. Ao que tudo indica, nunca mais foi visto. Mas talvez este mistério esteja próximo de ser solucionado.
É noite. Dois homens conversam num ponto de ônibus deserto enquanto esperam a condução que os levará para casa. Na verdade, são dois velhos operários. Quer dizer, não tão velhos assim, é verdade. Mas com idade suficiente para lembrar os estranhos acontecimentos do final dos anos 80.
- Você lembra?
- Do quê?
- Da última vez que ele deu as caras?!
- Lembro sim. Foi em 89. Talvez também em 94, eu acho. Não tenho certeza. Faz tanto tempo.
- Pois é. Quase vinte anos. Daquele período pra cá, nunca mais a gente teve notícia do sujeito.
- É. Sumiu do mapa mesmo. Se escafedeu.
- Que coisa, né? Escuta, você se lembra do que ele defendia naquele tempo? A reforma agrária, por exemplo.
- Claro que sim. Como é que eu ia esquecer. Ele dizia: “Nós não vamos fazer reforma agrária, companheiros, nas terras devolutas que querem nos dar na beira das estradas. Nós vamos fazer reforma agrária é na terra dos latifundiários!”.
- Minha nossa! Chega dava gosto de ver.
- Como dava!
- E aquela história de romper com o FMI?! Você lembra quando ele falava de não pagar a dívida externa?
- Ôôôô! Se lembro! Nada de dinheiro do povo pra banqueiro internacional!
- E nas eleições?! E nas eleições?! “Trabalhador vota em trabalhador”. Era o lema.
- Ou então: “Quem vota em peão, não vota em patrão”.
- Ali parecia ser um dos nossos. Você lembra aquela que ele soltou sobre os patrões terem lucros do século XX e pagarem salários do século XIX?! Que tirada, hein!
- Outros tempos aqueles. Outros tempos.
- Mas tinha também a questão de ser contra as privatizações das estatais!
- E de fazer valer o salário mínimo da constituição! Lembra?
- Nem me fale! Aquilo sim era política de valorização do mínimo.
- Pois é. Me lembro bem dele surgindo naquelas greves do ABC.
- Por onde será que ele anda hoje em dia, hein?
- Dizem que fugiu, morreu, rasgou a própria história. Sei lá.
- Mas logo ele?! Logo ele em quem eu depositei todas as minhas esperanças?!
- Pra você ver. Tanto trabalhador confiou no sujeito e ele sumiu assim de repente. E ainda deixou o tal do Luiz Inácio governando, que inclusive se parece muito com ele. Bom, é verdade que a barba é branca. Mas... ele também não tem o mindinho da mão esquerda. E digo mais: vem fazendo justamente o contrário do que o outro defendia. Agora taí essa festa toda dos bancos, com esse Luiz Inácio tirando dinheiro da saúde e da educação pra pagar dívida que não foi o trabalhador que fez. Sem falar também que ele tá vendendo o Brasil inteirinho. A Amazônia, as estradas, os poços de petróleo. Tudo já tem dono. Mas se eu fosse você não alimentaria ilusões nesse governo não.
- Eu? Alimentando ilusões?! De jeito nenhum. Com essa crise dos alimentos, eu não tô nem alimentando minha família direito. Que dirá alimentar minhas ilusões.
- É. Eu sei. Tá brabo o negócio.
- Mas vem cá. Voltando ao assunto do Luiz Inácio. Eu tava pensando aqui: será que ele e o outro não são a mesma pessoa? Tô achando muito esquisito esse sumiço.
- Ora, o que é isso?! Seria muita sacanagem com os trabalhadores brasileiros que os dois fossem a mesma pessoa. Depois de ter confiado numa história de luta a vida inteira, descobrir que ele e o Luiz Inácio são um só seria uma grande decepção. Não, não. Acho que não. Ele deve ter sido raptado por extraterrestres ainda em 89.
- Mas digamos que existisse a possibilidade do Lula e do Luiz Inácio ser a mesma pessoa.
- Bom, dessa forma estaríamos diante do maior caso de falsidade ideológica da história desse país.
5 comentários:
Boa João! Muito boa essa!!!
sabe que até eu fiquei na dúvida agora?
Já pensou! os dois serem o mesmo!
doidjera hein?!?!?!
=*
Se supera hein muleque!
Dei cá uma olhada pelo buraco da fechadura do seu blog, encontrado no da jéssica, amiga em comum. Abro a porta por inteira apenas pra parabenizá-lo pelo o que encontrei. Garanto voltas a esta porta.
muito tempo sumido nos comentários, mas sempre aqui lendo e cada vez mais me encantando com sua forma de escrever.
um braço João.
Carlos Manoel C. Tavares
Análise interessante a sua, parabéns.
O Lula socialista se foi com a proximidade da terceira idade e com a chegada de outros nteresses espúrios.
Muito boa essa crônica,AMEEEI!Tem tudo a ver com a nossa realidade,um governo SUJO,que só fala,fala e nunca faz.Tira dinheiro do povo para resolver problemas do próprio " governo ".O que significa governo para nossos políticos?? Não sabemos, deve ser algo do tipo: LADRÃO,ROUBO,INJUSTIÇA,pois é o que eles nos mostram não é verdade ?
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