domingo, 4 de janeiro de 2009

Sobre nosso déjà vu e escolhas infames

Por João Paulo da Silva

Déjà vu. A expressão é de origem francesa e quer dizer, literalmente, “já visto”. Usando uma explicação bem simples, o fenômeno pode ser definido como uma reação psicológica que causa a sensação esquisita de estarmos revivendo experiências do passado. Ficamos com uma impressão de estranheza na cabeça. “Isto já aconteceu antes?” – nos perguntamos muitas vezes.

A cada ano que passa, Maceió vive um déjà vu. O último ocorreu no dia 31 de dezembro de 2008. Com o decreto que estabeleceu o novo valor da passagem de ônibus na capital alagoana para R$ 2,00, o prefeito Cícero Almeida ofereceu a seus eleitores mais uma daquelas incômodas impressões de repetição. Mas há um problema nisso tudo.

O déjà vu maceioense não é um déjà vu clássico. Possui uma diferença. Além do conhecido efeito repetitivo, nossa sensação do “já visto” provoca também um reajuste de preço. Há quatro anos é o mesmo déjà vu, mas sempre com um peso a mais no bolso. Penso, inclusive, que Almeida deveria ter ido a Pequim. Só em 2008 foram dois aumentos de passagem de ônibus. De fato, um recorde. Um déjà vu olímpico.

O novo valor do transporte urbano imposto por Cícero fez com que 2009 já nascesse maculado. Como se não bastassem a crise econômica e as demissões feitas pelas empresas com a permissão dos governos, Almeida ainda resolveu dar uma forcinha para aprofundar a miséria em Maceió. Não é apenas um novo aumento de passagem que está sendo imposto.

Cícero está impondo também uma opção. Agora, os trabalhadores e pobres de Maceió terão de fazer uma escolha infame: colocar mais comida em suas mesas ou pegar um ônibus para ir ao trabalho. Isso para aqueles que possuem algum tipo de renda, claro. Porque para todo o resto não há nem escolhas, o que não deixa de ser infame.

Parece que “2000inove” não será tão inovador assim. Tudo indica que os mais de 8,6 milhões de passageiros que por mês utilizam os coletivos continuarão se espremendo na insuficiente frota de 648 ônibus de Maceió. Com uma única diferença: vão pagar mais caro por isso.

A justificativa para o aumento da tarifa do transporte é uma velha desculpa esfarrapada: a elevação do preço dos insumos. Debitando na conta do povo os gastos com diesel, pneus e peças, o lucrativo setor do transporte coletivo realimenta uma conhecida máxima: privatizar os lucros e socializar os prejuízos. Há quase vinte anos utilizo os ônibus de Maceió e nunca vi os empresários pagarem a conta.
Esse ano será déjà vu atrás de déjà vu. E cada um mais infame que o outro.

10 comentários:

Bruno MGR disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse...

o velho absurdo de sempre. quero ver qual o dia em que os trabalhadores - maiores afetados com isso - irão reagir à altura.

Bruno MGR disse...

Essa foi uma das notícias que acabou com qualquer possibilidade de achar que esse vai ser um Feliz Ano Novo.
João, parabéns como sempre por expressar tão bem a revolta dos trabalhadores.

Anônimo disse...

João, como já lhe disse em outra ocasião, você tem um texto muito bom, embasado, elegante. Seu artigo é jornalisticamente correto, ideologicamente também. Caras – que já têm boca – como você, merecem o trombone. O problema é que até os trombones têm donos.

Boa sorte, meu amigo. E força no grito, que tem mais gente para engrossar esse coro.

Beijos. E um 2009 pra lá de 2008.

Isolda.

Isolda Herculano disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Isolda Herculano disse...

Ei, tenho uma surpresinha pra você lá no blog. Vá conferir!

Beijokas.
Isolda.

http://www.isolda.blogger.com.br

Mariana Melo disse...

João,

Gostei muito do blog e deste texto.
Parabéns!

Um abraço,

Mariana

Anônimo disse...

Parabéns João!
Que o trombone, como diz a Isolda, esteja em breve em nossas mãos.

Boa sorte e qq coisa, conta comigo.

Abraços.

Anônimo disse...

Aliás, vamos trocar banners?
Estou te inserindo nos meus links. Pega meu banner lá no blog e publica aqui? É facinho, vê lá em PARCERIAS.

Bjs!

Mário Júnior disse...

Falaram tanto dessa crônica que eu tive de vir aqui ler. Realmente está muito boa! :)