domingo, 2 de agosto de 2009

O imortal?

Por João Paulo da Silva

Nos últimos tempos, um mistério aterrador vem me intrigando. A magnitude do problema se equipara, quiçá, ao enigma da derrota do Brasil na Copa de 1950. E os acontecimentos do final de julho passado só serviram para agravar ainda mais a minha perplexidade. Provavelmente, serei mal interpretado. Talvez as pessoas me chamem de insensível, de agourento, ou de qualquer outra coisa semelhante. Mas estou disposto a enfrentar as críticas. Afinal, estamos diante de um caso que foge aos padrões da normalidade.

Neste momento, o mistério brasileiro ocupa o cargo de vice-presidente desta jovem república das bananas. Os muito compassivos que me perdoem, mas por que cargas d’água José Alencar não morre?! Por favor, compreendam, não estou aqui desejando a morte do vice-presidente (pelo menos não diretamente), mas gostaria de entender o que mantém vivo um homem que há anos anda com o pé na cova.

Teria ele feito um pacto com algum tipo de força oculta? Ou, quem sabe, descoberto um poderosíssimo emplastro para as moléstias humanas?! Estaria certa a máxima popular que diz que vaso ruim não quebra? Ou, ainda mais espantoso, seria ele um Highlander?! Bom, seja como for, é impressionante. Em 12 anos de tratamentos contra o câncer, José Alencar já passou por 15 cirurgias difíceis, retirou dúzias de tumores, e nada. Nada de matar o câncer e nada de morrer.

Convenhamos, não é um mistério qualquer. Embora eu não esteja cruzando os dedos para ver o vice-presidente esticar as canelas (isso não é coisa que se diga publicamente), confesso que não alimento nenhum tipo sentimento nobre por tudo o que ele representa. José Alencar é dono de um dos maiores impérios da indústria têxtil desse país, a Coteminas. Além de atuar no mercado interno, a empresa exporta para os EUA, Europa e Mercosul. E em cada um desses produtos vai a marca da exploração de milhares de trabalhadores.

Antes de se tornar vice-presidente no governo do PT – uma das maiores provas de que Lula não governa para os trabalhadores – Alencar foi senador, um daqueles que costumam embrulhar o estômago da gente. Acusava o MST de cometer crimes e declarava que “a homossexualidade é uma forma de violência contra a natureza humana”. Resumindo: José Alencar é a representação mais fiel de nossa burguesia reacionária.

Toda essa sua resistência ao destino irremediável dos homens deve ter uma explicação lógica, suponho. Entretanto, eu tenho um palpite. O vice-presidente não é só um homem, nem apenas um representante dos exploradores do povo. Alencar é, também, uma metáfora sócio-política, uma alegoria para a luta de classes no Brasil.

A Velhinha de Taubaté, personagem criado pelo escritor Luís Fernando Veríssimo, era a representação do último fio de confiança do povo nos governos. Caso ela deixasse de acreditar, o “caos” se instalaria e, provavelmente, a vaca dos governantes iria para o brejo. Tenho a impressão de que algo semelhante acontece com a saúde de José Alencar.

A morte do empresário soaria como as trombetas do apocalipse para a burguesia brasileira, seria uma espécie de aviso sobre a inevitável hecatombe do capitalismo. José Alencar é um símbolo da classe dominante, e os símbolos não podem morrer. Deve ser por isso que a grande mídia e o empresariado torcem tanto para que o vice-presidente sempre se recupere.

Bom, mas eu não tenho certeza disso. Por enquanto é só um palpite. A verdade é que o mistério ainda persiste.

3 comentários:

Isolda Herculano disse...

Realmente João. Vejo pessoas endeusando o Alencar pela sua ‘coragem’, ‘força de vontade’ e com medo de enxergar o dinheiro e o poder dele. Esse José fica internado no Sírio-Libanês, é operado pela melhor equipe do Brasil, vai aos Estados Unidos servir de cobaia sim – mas cobaia de uma experiência de ponta. O mistério dele, para mim, é o dinheiro mesmo e nem cogito pensar nas forças ocultas, enfim. O que sei é que se o vice-presidente fosse um pequeno agricultor de qualquer cidadezinha do interior de Alagoas e precisasse vir fazer o tratamento contra o câncer no Hospital Universitário, semanalmente, numa van alugada pela prefeitura (que ‘dá o prego’ no meio do caminho); se o remédio que toma, vez por outra, faltasse no Sistema Único de Saúde e ele ainda precisasse entrar com uma ação judicial para alcançar seus direitos adquiridos, o mistério já teria tido fim óbvio: o óbito. Talvez doze anos atrás, sem Estados Unidos, sem Sírio-Libanês.

Abraço.
Isolda.

Anderson Santos disse...

Concordo com o que a Isolda falou. Nem o câncer supera o grande burguês!!!

E engraçado que até a velhinha de Taubaté morreu.

Bruno MGR disse...

Vaso ruim quebra, mas demora. Ô se demora...