Por João Paulo da Silva
Parece que, por mais que o tempo avance, ainda existem situações e setores sociais que insistem em nos puxar para o buraco, para o retrocesso. Algo como um retorno a épocas remotas, medievais, jurássicas até. Acho, inclusive, que há pessoas que adorariam voltar para dentro das cavernas. O caso da estudante de Turismo da Uniban, Geisy Arruda, agredida por usar um vestido curto dentro da universidade, é um daqueles exemplos que nos faz reviver os tempos do “uga-buga”. Mas não é só isso. Lamentavelmente, a barbárie de São Bernardo do Campo revelou – da pior forma possível – que a violência machista segue nos perseguindo e perturbando, como uma espécie de sombra do grotesco.
Quando vi, pela primeira vez, as cenas que mostram a estudante sendo assediada por uma multidão enlouquecida, juro que pensei estar vendo o Animal Planet, da Discovery Channel. Sim, porque não eram pessoas naquele vídeo. Eram animais, gritando, uivando, subindo pelas paredes. Os diversos e medonhos xingamentos, recebidos pela moça, mostraram quanto atraso nós ainda temos nesta sociedade. E o pior: demonstraram, também, que o machismo não é um problema dos séculos passados, já que esta mesma sociedade não pode viver sem transformar mulheres em objetos consumíveis e descartáveis.
Mas, se a selvageria daqueles estudantes já era um ato de violência inconcebível, muito pior foi a legitimidade que a direção da universidade deu àquelas ações bestiais, quando expulsou a vítima do caso. A decisão da Uniban se iguala ao crime de culpar uma mulher estuprada pela violência sofrida, alegando que suas roupas teriam provocado os instintos do estuprador. Uma agressão imensurável. E mesmo com a universidade revogando a expulsão da estudante, por conta das pressões recebidas, o mal já está feito. Cabe, agora, uma reflexão sobre o tipo de sociedade que temos e aquela que queremos.
Geralmente, quando digo que mazelas como estas da Uniban são alimentadas pelo capitalismo, algumas pessoas dizem que sou um ultrapassado, que isso é coisa lá do século 19. Entretanto, ironicamente, os fatos insistem em me dar razão. Não é o tipo de sociedade que defendo que não tem mais espaço na História. É exatamente esta em que vivemos que não nos serve mais. Ora, o que esperar de um sistema social que vende mulheres em bancas de jornal, em filmes pornográficos, em programas de TV e campanhas publicitárias? Só desrespeito e violência, obviamente.
Eu não sei vocês, mas não me agrada nenhum pouco a ideia de voltar à Era dos tacapes e do “uga-buga”.
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Obs.: Por problemas técnicos, o blog As Crônicas do João fez sua postagem hoje, e não ontem como esperado. Obrigado.
7 comentários:
Sinceramente, para mim pareceu que os homens nunca viram uma mulher bonita na vida - nem nas revistas e demais produtos em que mulheres são "vendidas". Já as mulheres universitárias me pareceram invejosas, por não terem coragem de se vestirem daquele jeito.
Sobre a Uniban, falar o quê? Que é um exemplar da nossa ultra direita?
joão paulo, muitas vezes agente escreve algo sem saber o que realmente se passa e se passou.
por isso que é ruim um jornalista que não entrevistou nenhum aluno, não entrevistou a menina, não entrevistou ninguém se pronunciar em defesa de uma mulher indefesa que você nem sabe se ela é realmente indefesa ou inofensiva.
foi o maior ato de falso moralismo que já vi, foi um comportamento tão estranho que me pergunto se não existe outra coisa por trás desse repúdio a um vestidinho
lápis nos olhos (lamentável seu comentário)
igor, lastimável voce não falar nada e dizer que o que acho é lastimável, é assim que vocês socinazi fazem mesmo ... eu simplesmente achei o texto ruim,
eu posso ser respeitado por isso?
Lápís os Olhos,
Para além de Geiza em si, o episódio da Uniban, traz à tona uma realidade cruel: o preconceito existente em nossa sociedade, contra mulheres, negros e homossexuais, ainda que este preconceito se esconda sob uma hipócrita fachada cordial.
Vez ou outra, a máscara, porquanto nenhuma máscara é usada o tempo todo, do cordialismo cai: O episódio da Uniban foi um deles. As constantes agressões a homossexuais ou a negros, esses últimos nos morros e nas favelas, pela polícia, são outros exemplos desse absurda realidade.
O sistema é tão podre, uma vez que ainda que Geysa foi vítima de uma lógica que torna a mulher um objeto de consumo, uma mercadoria, feito pedaço de carne, que esse mesmo sistema (e dificilmente ela registirá) convida a referida moça para desfilar em escolas de samba ou pousar nu, vendendo sua imagem a enquanto mercadoria.
O problema não é se Geisa merece ou não defesa, como você afirma, mas sim que o capitalismo reduz o ser humano à coisa, cosifica-nos.
Neste sentido, o mérito do texto do Joao.
Por um outro lado, equivocada sua crítica , no que diz respeito a necessidade de João entrevistar os envolvidos. Amigo(a)
o texto que comentamos não é uma reportagem, mas sim uma crônica no qual o João coloca sua opinião sobre os fatos, os quais, convenhamos, falam por si só.
São os valores e objetivos sobre os quais a sociedade em que vivemos é erigida que provocam esses preconceitos. João mostra isso, aqui portanto, seu mérito.
eu falei lamentável, não lastimável..
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