domingo, 13 de novembro de 2011

Coçadinha

Por João Paulo da Silva

Quando temos febre, é sinal de que as coisas não andam muito bem. Podemos estar doentes. Há em nossa sociedade uma febre. Você já deve ter notado (se ainda não notou é porque é um tapado!) que somos vigiados em todos os lugares. As câmeras estão por toda parte. Quer dizer, por quase toda parte. O banheiro ainda é a última trincheira da privacidade. Mas o fato é que tem sempre alguém bisbilhotando a gente através das lentes das câmeras. Aquela história de que estão nos filmando para a nossa própria segurança é pior do que conto da carochinha. A única segurança que importa não é a nossa, é a das mercadorias que não podem ser roubadas. Nossa sociedade aprofundou de tal forma a desigualdade entre os homens que precisa vigiar a si mesma, em praticamente todas as situações. Este é apenas um dos sinais de nossa doença, os outros são ainda mais cruéis.

Mas o causo que quero contar é um pouco mais leve do que isso. Tem a ver com um grande atentado à privacidade, representado por estas lentes indiscretas. O Moisés, funcionário administrativo de uma repartição pública, sentiu na pele os efeitos da bisbilhotice.

Saindo do banheiro, quando retornava para sua sala, certo de que não havia ninguém olhando, o Moisés meteu a mão na bunda para dar aquela boa e velha coçadinha. Mas uma coçadinha com gosto mesmo. Depois, deu uma cheirada rápida na mão. Só para garantir que estava tudo bem. Olhou para os lados, e não viu uma só alma. Ficou tranquilo.

Na saída para o almoço, o Moisés cruzou com um dos seguranças da repartição. Todo efusivo, o segurança disse:
- Grande Coçadinha! E essa mão aí, hein?!
Na portaria, outro segurança fez o mesmo:
- Olha a mão aí, ô Coçadinha! Grande cheirada!

Agora ninguém mais respeita o Moisés. Está até pensando em pedir transferência de departamento. É um tal de Coçadinha pra cá, Coçadinha pra lá. Cheiradinha aqui, Cheiradinha acolá.

Um horror.

5 comentários:

Carolinne disse...

Concordo com 90% do que disse. É claro que também acho que as câmeras estejam bem mais para as mercadorias que para a proteção da própria população.

Mas também tenho que concordar que onde tem câmeras (funcionando de verdade, porque tem várias que só servem de enfeite) a violência diminui.

Carolinne disse...

PS: Tadinho do Moisés.

Clauderlan Vilela disse...

É... não foi um dia de muita sorte para o Moisés, inclusive, a considerar o eventual motivo da coçadinha. Mas a reflexão é pertinente. Contudo, estou aqui para deixar uma boa notícia. É que As Crônicas do João (pela segunda vez consecutiva, diga-se de passagem) é um dos blogs homenageados da sessão "de olho na blogosfera" deste mês do Conversa Paralela. Para conferir, basta acessar o link http://migre.me/6etRG. Será um prazer recebê-lo por lá!

filho disse...

Moisés teria que ser discreto. Use o banheiro para fazer o que quiser e claro assiar-se, limpar-se, lavar as mãos com sabão e etc. Hoje você tem que ter mais cuidado com o que faz em todos os lugare. Mesmo aquela tirada da calçinha ou cueca da "garagem" tem que ser com cautela. As câmeras são necessárias e, pessoal, sejamos discretos.

Anônimo disse...

Moisés teria que ser discreto. Use o banheiro para fazer o que quiser e claro assiar-se, limpar-se, lavar as mãos com sabão e etc. Hoje você tem que ter mais cuidado com o que faz em todos os lugare. Mesmo aquela tirada da calçinha ou cueca da "garagem" tem que ser com cautela. As câmeras são necessárias e, pessoal, sejamos discretos.