Por João Paulo da Silva
Eu cheguei até a pensar que jamais o encontraria. Pensei mesmo que ele fosse parte do folclore nacional. Uma lenda e coisa e tal. Eu estava enganado. Você deve conhecê-lo. Ele é a prova de que a Justiça condena os pobres e deixa livre os ricos. Ora, vamos. Você com certeza já ouviu falar dele. O tão mencionado ladrão de galinha. Sua existência é a comprovação de que a Justiça não é cega e de que sabe muito bem para onde está olhando. Nestes últimos dias, tive a oportunidade de encontrá-lo. Lá na redação do jornal me pediram pra fazer uma reportagem sobre o que anda pensando o ladrão de galinha a respeito da prisão do banqueiro Daniel Dantas.
- Você tá de brincadeira? – falei para meu editor.
- Não tô não, João. Vai lá e procura saber o que ele acha disso tudo.
Eu cheguei até a pensar que jamais o encontraria. Pensei mesmo que ele fosse parte do folclore nacional. Uma lenda e coisa e tal. Eu estava enganado. Você deve conhecê-lo. Ele é a prova de que a Justiça condena os pobres e deixa livre os ricos. Ora, vamos. Você com certeza já ouviu falar dele. O tão mencionado ladrão de galinha. Sua existência é a comprovação de que a Justiça não é cega e de que sabe muito bem para onde está olhando. Nestes últimos dias, tive a oportunidade de encontrá-lo. Lá na redação do jornal me pediram pra fazer uma reportagem sobre o que anda pensando o ladrão de galinha a respeito da prisão do banqueiro Daniel Dantas.
- Você tá de brincadeira? – falei para meu editor.
- Não tô não, João. Vai lá e procura saber o que ele acha disso tudo.
Eu fui. E, para minha surpresa, ele existia. Dentro do presídio, atrás das grades, espremido numa cela superlotada, estava um genuíno ladrão de galinha. Bom, depois descobri que ele havia roubado mesmo era um galo. Mas isto é apenas um detalhe. O fato é que Everaldo já estava ali há três anos. Trabalhou muito tempo como auxiliar de limpeza. Um dia foi demitido e nunca mais encontrou emprego. O resto da história todos já sabem.
Fui ao presídio na terça, 8 de julho, algumas horas depois de decretada a prisão de Dantas. Everaldo ainda não sabia muito bem o que estava acontecendo. Tinha ouvido pouca coisa a respeito.
- Bom, seu Everaldo. Acabaram de prender o banqueiro Daniel Dantas.
- Mentira?! Sério? Prenderam um banqueiro? Tá de brincadeira comigo, rapaz?!
- De jeito nenhum, seu Everaldo. Falo sério. Te juro. Prenderam o sujeito por desvio de verbas públicas e lavagem de dinheiro.
- E isso lá dá cadeia, meu filho?! No dia que isso for crime, vão ter que prender o Congresso e tudo que é presidente da República!
- É verdade. Prenderam hoje, seu Everaldo.
- Humm... Algemaram o “homi”?
- Sim, sim. O banqueiro e mais tantos outros envolvidos. Até aquele ex-prefeito de São Paulo, Celso Pitta, tá no meio.
- É mesmo? Que esquisito.
- Então, seu Everaldo, eu vim aqui pra saber o que o senhor acha disso tudo.
- Meu filho, se isso for verdade mesmo parece ser um bom sinal. Deixa a gente até feliz de saber. Eu, por exemplo, roubei pra comer. Esses aí não. Roubam por safadeza mesmo.
- Na sua opinião, o senhor acha que essa prisão pode significar uma mudança na Justiça?
- Olhe, acho que sim. Pode ser que agora as coisas se ajeitem, né? Tem mais é que botar esses caras na cadeia mesmo.
Saí do presídio com uma imagem na cabeça: o rosto do seu Everaldo na expressão de “agora esse país toma jeito”.
Mas não durou muito. Na noite de quarta-feira, o presidente do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, mandou soltar o banqueiro Daniel Dantas. Na quinta pela manhã, fui novamente ao presídio.
- Seu Everaldo! Péssimas notícias. Soltaram o banqueiro.
- O quê?! Já soltaram o “homi”?! Mas isso é uma esculhambação mesmo! Quem foi que soltou o infeliz?
- Foi o presidente do Supremo Tribunal Federal, o ministro Gilmar Mendes.
- Eu sabia. Eu sabia que ia dar nisso. Rico, preso?! Onde já se viu isso?! Agora comigo não! Comigo é essa safadeza toda. Esses caras roubam milhões e não vão em cana! Eu peguei uma galinha pra comer e tô preso! Palhaçada! Depois vem aquela conversa mole de que a Justiça é cega. Uma banana!
- O ministro concedeu um habeas corpus na noite de ontem.
- Habeas corpus? Que diabo é isso?
- É uma garantia constitucional em favor de quem sofre violência ou ameaça de constrangimento ilegal na sua liberdade de locomoção, seu Everaldo.
- Violência?! Constrangimento?! Vê se eu posso me locomover aqui dentro com esse monte de gente. Eu é que sei o que é isso! Quando fui preso, não me deram nada de habeas corpus não! Me deram foi um porradeas corpus! Isso sim.
Mas não durou muito. Na noite de quarta-feira, o presidente do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, mandou soltar o banqueiro Daniel Dantas. Na quinta pela manhã, fui novamente ao presídio.
- Seu Everaldo! Péssimas notícias. Soltaram o banqueiro.
- O quê?! Já soltaram o “homi”?! Mas isso é uma esculhambação mesmo! Quem foi que soltou o infeliz?
- Foi o presidente do Supremo Tribunal Federal, o ministro Gilmar Mendes.
- Eu sabia. Eu sabia que ia dar nisso. Rico, preso?! Onde já se viu isso?! Agora comigo não! Comigo é essa safadeza toda. Esses caras roubam milhões e não vão em cana! Eu peguei uma galinha pra comer e tô preso! Palhaçada! Depois vem aquela conversa mole de que a Justiça é cega. Uma banana!
- O ministro concedeu um habeas corpus na noite de ontem.
- Habeas corpus? Que diabo é isso?
- É uma garantia constitucional em favor de quem sofre violência ou ameaça de constrangimento ilegal na sua liberdade de locomoção, seu Everaldo.
- Violência?! Constrangimento?! Vê se eu posso me locomover aqui dentro com esse monte de gente. Eu é que sei o que é isso! Quando fui preso, não me deram nada de habeas corpus não! Me deram foi um porradeas corpus! Isso sim.
Saí de lá com a imagem de desiludido do seu Everaldo. Mas horas depois eu estaria de volta ao presídio. Na tarde do mesmo dia, dez horas após a libertação, a Polícia Federal recebeu ordem para prender novamente o banqueiro Daniel Dantas.
- Seu Everaldo, trago boas notícias.
- Vão me dar também um daqueles habeas corpus?
- Bom, não é bem isso.
- E o que é?
- Prenderam de novo o banqueiro.
- Mentira?!
- Verdade. E dessa vez ele foi acusado de corrupção ativa. Tentou subornar o delegado pra que seu nome fosse tirado da investigação. Filmaram tudo!
- Ahhhh! Dessa vez esse tal de Daniel tá lascado. Quero só ver soltarem o bicho agora que tem tudo filmado.
- Seu Everaldo, trago boas notícias.
- Vão me dar também um daqueles habeas corpus?
- Bom, não é bem isso.
- E o que é?
- Prenderam de novo o banqueiro.
- Mentira?!
- Verdade. E dessa vez ele foi acusado de corrupção ativa. Tentou subornar o delegado pra que seu nome fosse tirado da investigação. Filmaram tudo!
- Ahhhh! Dessa vez esse tal de Daniel tá lascado. Quero só ver soltarem o bicho agora que tem tudo filmado.
Mas não deu tempo nem do seu Everaldo se animar direito. Na tarde da sexta-feira, o ministro Gilmar Mendes mandou soltar pela segunda vez o desgraçado do banqueiro. A história se repetiu. Agora, combinando a tragédia e a farsa. Eu já não tinha nem mais cara para olhar pro seu Everaldo.
- Seu Everaldo...
- Nem precisa me dizer, rapaz. Já sei. Soltaram de novo o pilantra do banqueiro.
- Pois é. Essa Justiça... não sei pra que que serve.
- Mas eu sei! Serve só pra prender pobre e acobertar rico. Você, por exemplo, já viu algum desses poderosos ir pra cadeia?!
- E o que é que o senhor acha que deve ser feito, seu Everaldo?
- Meu filho, agora tem que prender também a Justiça, começando por esse tal de Gilmar Mendes.
- Seu Everaldo...
- Nem precisa me dizer, rapaz. Já sei. Soltaram de novo o pilantra do banqueiro.
- Pois é. Essa Justiça... não sei pra que que serve.
- Mas eu sei! Serve só pra prender pobre e acobertar rico. Você, por exemplo, já viu algum desses poderosos ir pra cadeia?!
- E o que é que o senhor acha que deve ser feito, seu Everaldo?
- Meu filho, agora tem que prender também a Justiça, começando por esse tal de Gilmar Mendes.
2 comentários:
eu rio e choro. E me delicio com suas palavras...
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