domingo, 8 de fevereiro de 2009

Andando na prancha

Por João Paulo da Silva

Embora a História Oficial tenha documentado apenas um caso deste tipo de prática (no ano de 1829), reza a lenda que os piratas costumavam executar seus prisioneiros fazendo com que eles andassem sobre uma prancha até o encontro mortal com os tubarões. Se o método era uma forma recorrente ou não entre os corsários, pouco me importa neste momento. O que me interessa nessa história toda é a metáfora.

De tempos em tempos, o capitalismo é colocado para andar na prancha. Rebuliços econômicos, como este de agora, fazem parte de sua natureza paradoxal de produzir mais do que a sociedade pode consumir. A crise econômica é uma espécie de Frankenstein do capitalismo, responsável por agendar encontros periódicos entre o criador e a criatura. Quando isso acontece, os donos da festa vêem seus lucros diminuírem. E aí começa o pandemônio. Mas o fato dos capitalistas estarem andando na prancha não significa que, finalmente, eles vão nadar com os tubarões.

Demissões em massa, fechamento de empresas e redução de salários e direitos são algumas das formas encontradas pelo capitalismo para salvar a própria pele e retomar um novo período de lucros. É claro que o custo disso tudo é altíssimo, mas não tão alto para os magnatas. O aumento do desemprego, da fome, da miséria e da violência é sempre debitado na conta dos trabalhadores. Na história das crises do capitalismo, quem cria o problema não paga por ele. Faz os outros pagarem.

E pagar é realmente o termo que melhor se encaixa nessa tragédia toda. Desde que a turbulência econômica começou, o mundo já torrou trilhões na tentativa de salvar bancos e empresas de uma catástrofe maior. Detalhe: usando dinheiro público. Uma riqueza que não existe quando o assunto é aumentar os investimentos sociais. É incrível como esse pessoal sabe fazer mágica.

Nos últimos meses, executivos e governantes de muitos países vêm fazendo discursos efusivos, conclamando todos a se sacrificarem para tirar a economia mundial do buraco. Curioso: enquanto os bancos e as empresas estavam ganhando fortunas, ninguém chamou os trabalhadores para repartir o bolo. Agora, quando velhos fantasmas voltam a atormentar, eles aparecem com essa conversa de dividir os prejuízos.

Todos os dias o agravamento da crise faz o capitalismo andar um pouco mais sobre a prancha da História. Mas, para vê-lo realmente nadar com os tubarões, só falta mesmo alguém que dê um “empurrãozinho”.

6 comentários:

Mário Júnior disse...

Já vi lá no manguezal! \o/

E não sabia que só havia um único registro dessa pena de andar na prancha...

Bruno MGR disse...

O capitalismo, parece-me, chegou em um estágio que, mesmo andando na prancha e estando na beiradinha, com algum esquerdista a passar o serrote na madeira para colocar na água a trupe capitalista, sem explicação física alguma, o barco afunda com a prancha suspensa no ar.
Abraço!

Estêvão dos Anjos disse...

Boa metáfora.

Belisa Parente disse...

Pois é, pra mim o capitalismo sempre andou nesta direção. É a velha lei do retorno, para cada ação, uma reação. Agora é só esperar que os tubarões os devorem, para que uma ideologia mais sublime, para não dizer inteligente, surja.


Não conhecia teu blog ainda. Gostei muito do que li por aqui.

Beijos
LUZZ

Belisa Parente disse...

Achei na doida João, costumo passear por blogs.
Intrigante?
uhuhhuhu
Vou ficar passando por aqui.

Anônimo disse...

Sei não, João... mas, seguindo a linha de raciocinar através das metáforas, acabo achando que os capitalistas são os próprios tubarões e não os andantes da temida prancha. E quando falta o alimento, despencando navio abaixo, eles vão “tubaraõzar” em outro canto. (Risos) Há sempre um bom lugar para se “tirar a barriga da miséria”.

Abraço.
Isolda.

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