
Teve três filhos. Dois meninos e uma menina. De seu marido, não sei nada. Não sei se está vivo, morto ou entrevado. Já dos filhos, sei que os criou com todo o afeto que as mães possuem, mesmo as piores e mais desatentas. O amigo que me falou de dona Ritinha me disse que ela é uma pessoa muito amável e faladeira. Adora contar histórias. Registra tudo que pode em sua memória idosa. É a resistência da tradição das narrativas orais, muito comuns entre os velhos de tempos mais velhos ainda.
Outro dia, o tal amigo me fez conhecer uma história sobre a própria dona Ritinha. Depois de criados, os filhos desta velha senhora se foram. Tomaram seus rumos. Cada qual seguiu seu caminho. Um a um, foram deixando a casa onde cresceram sob os cuidados da mãe. E dona Ritinha os viu partir como se fossem pedaços que se desprendem do corpo com o tempo. Quando deu por si, estava só, cheia de ausência numa casa que parecia dobrar de tamanho com o passar dos anos. É verdade que os filhos mandavam notícias, apareciam de vez quando. Mas não era a mesma coisa.
Um dia, dona Ritinha resolveu pôr a casa para vender, com plaquinha de “vende-se” e tudo na porta. Começaram a aparecer interessados. Gente querendo olhar a casa, saber das condições e do preço. Dona Ritinha mostrava tudo. Falava dos cômodos, das instalações, do encanamento e da excelente fiação elétrica da casa. A velha senhora havia cuidado de seu lar como cuidara dos filhos e passava horas conversando com os possíveis compradores sobre as maravilhas do lugar. Entretanto, o negócio sempre esbarrava no preço.
Dona Ritinha cobrava uma fortuna pela casa. Os anos passavam e ninguém comprava o imóvel, embora quase toda semana aparecessem compradores interessados. Mas o alto valor sempre impediu a venda. Até hoje a plaquinha de “vende-se” continua na fachada da casa. Dia desses, porém, o tal amigo que me contou a história quis saber quanto dona Ritinha pedia pela casa. Ficou abismado.
- Mas também com um preço desses a senhora não vai conseguir vender nunca.
- E quem disse que eu quero vender esta casa, meu filho?
- Então por que diabos a senhora pôs essa placa de “vende-se”?
- Porque, graças a ela, de vez em quando aparecem pessoas para conversar comigo e me fazer companhia, mesmo que por algumas horas.
Sei que não há leis para isso, mas acho que deveria ser proibido ficar sozinho nessa vida.