domingo, 25 de março de 2012

Um estranho

Por João Paulo da Silva

O amor é estranho. Não escolhe hora, momento ou lugar. Vem como um susto. Acontece tudo muito rápido, de maneira bastante imperceptível. Invade, inunda, consome, retalha. É assim. O sentimento é tão mágico que às vezes nem mesmo o ser descobridor percebe a descoberta. Talvez seja o mais confuso dos sentimentos. O mais difícil de se entender. E por isso o melhor.

É aquele que não se encaixa, pois não cabe em lugar nenhum. Não há espaço que o enquadre. Não tem cheiro, sabor, nem cor definida. É mutável. É como a água. Assume a forma do recipiente que ocupa. Ele é grito e murmúrio. Riso e choro. Forte e fraco. O amor gosta de desejar. Deseja olhos, bocas, narizes, orelhas, nádegas, coxas, corações. Ele reprime. É ditador, não democrata. É, na verdade, um claustro de portas abertas. De todos os sentimentos humanos, ele é o mais humano. É tão humano que parece ser utópico. Mas não é.

O amor leva flores e bombons. Diz que não está. Telefona durante a madrugada. Bate portas na cara. Até se embriaga. Não tem pé nem cabeça. Também não tem tronco nem membros. Implora atenção. É exibido. O amor é idiota, tolo, abobalhado. E por isso é lindo. Palavras, linhas, páginas, capítulos, livros. Nada o descreve. Nada o disseca. O amor é assim mesmo. Um estranho.

Um comentário:

Bruno Martins disse...

Fazia tempo que a faceta romântica deste cronista não aparecia no blog. Muito bom!