Numa noite dessas, tive um pesadelo terrível. Muito pior do que a derrota do Brasil para o Uruguai na final da Copa de 1950, em pleno Maracanã. Mais absurdo do que ver o Flamengo perder um campeonato carioca diante do Vasco. Mais torturante do que ser obrigado a comer quiabo e maxixe todos os dias. Não, não, não. Estou sendo generoso demais. Isso é muito pouco. Tive um sonho tão bizarro quanto saber que alguém pagou US$ 18 mil por uma calcinha da rainha da Inglaterra, aquela velhota que não faz outra coisa a não ser comer e bufar. Um sonho mais desesperador do que nadar à noite com tubarões em mar aberto ou ser perseguido pelo Freddy Krueger. Pensando bem, acho que não há precedentes piores para o meu mais recente pesadelo. Nele, eu chego em casa do trabalho e encontro meu filho, já com uns sete anos, às voltas com um brinquedo que não foi dado por mim, nem pela mãe ou por qualquer outro parente. Intrigado, eu digo: “Oi, filho. Brinquedo novo, é? Quem te deu?”. Ao que ele me responde sem constrangimento: “Foi o Carlinhos Cachoeira, papai.”. Nesse instante, eu acordo assustado e lavado de suor, desejando do fundo do coração estar no meio do Maracanã, nadando com tubarões vascaínos que não comem maxixe e ainda com a rainha da Inglaterra pendurada no meu pescoço, só de calcinha, chamando pelo Freddy Krueger.
Por que é mesmo que os casamentos acabam, hein? Uma amiga minha costuma dizer que o casamento é uma instituição social falida. Não sei. Talvez até seja mesmo. Mas imagino que ela esteja se referindo àquela tradicional e conservadora forma de casamento, surgida de uma das costelas da propriedade privada, lá nos primórdios da humanidade. Um tipo de matrimônio que previa a união entre um homem e uma mulher com o objetivo principal de garantir um herdeiro ao marido para que este não perdesse suas propriedades para o vizinho. No fim das contas, uma espécie de negócio. Vale lembrar, ainda, que essa era a única razão para que as mulheres fossem obrigadas a casar virgens (algo hoje bem mais fraco, é verdade). A história de manter a pureza do corpo até as núpcias e todo o blábláblá as religiões idealizaram depois. A exigência da virgindade era só para que o homem tivesse a certeza de que ao menos o primeiro filho seria seu. Quer dizer, quando inventaram a propriedade privada e o casamento monogâmico (este só para a mulher, é claro), inventaram também, de quebra, o machismo. Bom, mas a julgar pelo positivo avanço das atuais formas de união, inclusive homossexuais, talvez seja aquele casório démodé que tenha se tornado, sim, uma instituição social falida e com os dias contados.
Um amigo até me falou que era bobagem. Machismo da minha parte e coisa e tal. Eu até concordo. Mas é que... sei lá. Ficou um clima chato, sabe? Maior constrangimento, pô! Fiquei todo sem jeito na hora.
Eu tinha ido ao urologista. O motivo? É melhor poupá-los dos detalhes. Posso dizer apenas que o problema se tratava de uma dor que eu estava sentindo numa região estratégica. Mas a situação era dura, confesso. Sem trocadilhos maldosos, por favor.
O certo mesmo é que fui tomado pelo nervosismo. Me angustiava só de pensar no que o médico poderia dizer. Uma porção de hipóteses passava pela minha cabeça medieval.
- Hum...
- É grave, doutor?
- Grave?! Gravíssimo, meu caro!
- Ai, meu Deus do céu! O que é que eu tenho?!
- Você faz sexo regularmente?
- Regularmente? Bom, até as 20 horas funciono regularmente. Depois... já não garanto.
- Hum...
- O que foi?
- Vamos ter que amputar.
- O quê?! Amputar?! Mas por quê?!
- Por falta de uso.
Quando chegou em casa, a mulher o recebeu com um beijo e uma notícia:
- Querido, estou grávida!
- O quê?!
- Isso mesmo! Estou esperando um filho.
- Mas que maravilha! Isso é ótimo, meu amor!
Emílio sempre foi um sujeito trabalhador, o melhor funcionário da repartição. Rita, sua esposa, trabalhava em casa e era uma mulher de beleza notória, extremamente atraente. O casal vivia um momento mágico. Seus rostos esbanjavam contentamento. A chegada de um filho abriria uma nova etapa em suas vidas. Emílio não queria perder tempo e tratou logo de contar a novidade para os amigos do trabalho.
- Sabem da nova? Vou ser papai!