domingo, 20 de maio de 2012

O casamento

Por João Paulo da Silva

Por que é mesmo que os casamentos acabam, hein? Uma amiga minha costuma dizer que o casamento é uma instituição social falida. Não sei. Talvez até seja mesmo. Mas imagino que ela esteja se referindo àquela tradicional e conservadora forma de casamento, surgida de uma das costelas da propriedade privada, lá nos primórdios da humanidade. Um tipo de matrimônio que previa a união entre um homem e uma mulher com o objetivo principal de garantir um herdeiro ao marido para que este não perdesse suas propriedades para o vizinho. No fim das contas, uma espécie de negócio. Vale lembrar, ainda, que essa era a única razão para que as mulheres fossem obrigadas a casar virgens (algo hoje bem mais fraco, é verdade). A história de manter a pureza do corpo até as núpcias e todo o blábláblá as religiões idealizaram depois. A exigência da virgindade era só para que o homem tivesse a certeza de que ao menos o primeiro filho seria seu. Quer dizer, quando inventaram a propriedade privada e o casamento monogâmico (este só para a mulher, é claro), inventaram também, de quebra, o machismo. Bom, mas a julgar pelo positivo avanço das atuais formas de união, inclusive homossexuais, talvez seja aquele casório démodé que tenha se tornado, sim, uma instituição social falida e com os dias contados.

Entretanto, antes de seguirmos em frente com a busca da resposta para a pergunta que abriu esta crônica, me permitam mais algumas digressões sobre a absurda exigência da virgindade feminina. Quando se obriga uma mulher a casar virgem, impõe-se a ela, por consequência, a desgraça de só dormir pela primeira vez com o marido na noite de núpcias, o que pode render à esposa muitas surpresas desagradáveis. O ronco é uma delas, por exemplo. Já que o casamento é um contrato, precisando até de juiz e testemunhas, a mulher estaria sendo lesada em seu direito ao sono tranquilo ao desconhecer os hábitos noturnos do homem com o qual irá dividir a cama, talvez pelo resto da vida. Afinal, o casamento fala em “até que a morte os separe”. Mas não diz nada sobre o ronco.

Por isso, acredito que uma das melhores coisas do matrimônio é a prerrogativa do divórcio, que tem salvado muitas mulheres da tragédia de viver a vida inteira ao lado de uma bola de banha, grude e metano, pois é nisso que a maioria dos homens normalmente se transforma depois do casamento. De qualquer forma, deixo uma dica que deveria ter status de lei para o sexo masculino: se você encontrar uma mulher que não se incomode com o seu ronco, case-se com ela. Garantido isso, o que vier a mais é lucro.

Enfim, sem mais delongas, vamos ao que interessa. O que será que leva um casamento ao fim? Essa é uma pergunta que deve atormentar muita gente, eu suponho. Seria a extinção do amor a explicação? Ou ainda, quem sabe, o término do desejo? É, pode até ser. Mas estou convencido de que o que acaba com um casamento é a perda do encanto com o outro, o que por tabela também acaba com o amor e o desejo (leia-se sexo). Agora, acreditem vocês ou não, na maioria esmagadora das vezes a culpa é do homem. E digo isso com a maior segurança do mundo, com as mãos limpas e a consciência tranquila de quem não recebeu um mísero centavo de propina do Carlinhos Cachoeira. Aliás, que Cachoeira?! Não conheço nenhum Carlinhos Cachoeira!

Bom, voltando ao assunto, o fato é que quase sempre a responsabilidade é nossa. Não estou com isso querendo isentar as mulheres, mas é que conheço a minha espécie e sei do que ela é capaz. A verdade é que “99% dos homens arruína a reputação do resto”, como diz uma frase em alguma parede do mundo, citada por Eduardo Galeano em um dos seus livros. Não tenho dúvidas. É o fim do encanto que derrota a relação. É o aniquilamento daquela magia, construída com muito esmero durante o namoro, que faz murchar aos poucos o que deveria ser “eterno enquanto dure”. Mas o que faz o encanto acabar?

O namoro, como todos sabem, em geral é o estágio probatório do casamento. E é nesse período que quase a totalidade dos homens faz propaganda enganosa de si mesmos. No início, eles tomam banho todos os dias, usam desodorante e perfume, limpam as orelhas, trocam a cueca e escovam os dentes. Alguns, julgados pelos outros como extremistas, até utilizam o fio dental. Vale tudo para conquistar as mulheres e causar uma boa impressão. Enquanto estão estagiando no coração alheio, a maioria dos homens faz poemas, leva flores, manda mensagens românticas e dá inúmeras demonstrações de carinho e atenção. Até erros de português eles se esforçam para não cometer. No começo do namoro, é sempre assim: “meu amor isso, meu amor aquilo, paixão, benzinho, bombonzinho”. Depois do casamento, muda tudo. Não imediatamente, claro, que é para não dar na vista. Mas aos poucos a verdade vai aparecendo.

Banho agora só aos domingos, e apenas no caso de visita em casa. Se a visita for a sogra, então, pode esquecer. Desodorante e perfume, por exemplo, passam a ser usados exclusivamente no dia do aniversário. Com a quantidade de cera acumulada nos ouvidos, é possível encerar todo o assoalho da casa. A última vez que trocou a cueca? Ele nem lembra mais. Talvez na noite de núpcias. Escovar os dentes, meu Deus, virou uma lenda. Tanto que a escova já acumula fungos. Poemas, flores e mensagens românticas agora são coisas de veado. O carinho é substituído pela frieza da rotina e a atenção é dedicada quase totalmente ao futebol, que ele assiste esparramado no sofá, usando uma cueca borrada no fundo, e agarrado a uma latinha de cerveja, arrotando e bufando como se estivesse sozinho. Depois do casamento, a maioria dos homens se revela e até “menas” eles passam a dizer.

Resta alguma dúvida sobre o que faz o encanto acabar? Acho que não, né?! Fica aí a dica. Que os deuses abençoem o divórcio e os homens também, se der tempo. Eles vão precisar.

8 comentários:

DV disse...

tu é tão exagerado!

Alynne Karen disse...

É isso ai João! Condordo com você! O encanto, aquela magia toda do início do namoro fazem muita falta na rotina de quem divide o mesmo teto. Esse sentimento deve ser cultivado sempre!
Beijão

pedro disse...

kkkkkkkkkkkkk, isso tudo aí é verdade. e vc que escreveu gosta mt de casamentos, já tá no segundo até, rsrsrsrs. um dia vou me casar e prometo cultivar o encanto, brow. parabéns.

Bruno Martins disse...

Bem extremista você. Se um homem chegar na situação deplorável que descrevestes, o divórcio deveria ser livre e sem burocracia alguma para a coitada da esposa.

Mila Mendes disse...

João, continuo sendo sua fã e hj até minha mãe ouviu sua crônica estamos rindo litros!! bjssss

Mila Mendes disse...

João com seu texto sempre primoroso!! Amei!! Rindo litros com minha mãe!!Sigo Sempre Sua fã, Bjssssssssss

Mila Mendes disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Tadeu Brandão disse...

Não sei se as estatísticas que você citou são perto do real - mas não duvido. Mas pra coisa chegar nesse ponto, quem vai tirar a razão da mulher que botar as coisas na mala e ir embora sem dar tchau, ou que SIMPLESMENTE for buscar conforto na casa do vizinho? "A rotina é a morte da poesia" (João Cabral de Melo Neto)