Ele passava por ali todos os dias. Desde
que ela fora embora, aquilo se tornara uma constante em sua vida. Era parte de
seus dias e noites. Uma necessidade inabalável, como comprar o pão todas as
manhãs ou tomar um banho todas as noites, mais para limpar a alma do que o
corpo. Ficava ali, em frente ao antigo prédio dela, com os olhos presos à
janela do apartamento. Esperava um sinal qualquer, um aceno, uma lâmpada acesa.
Qualquer coisa que lhe permitisse compreender que podia subir, tocar a
campainha, entrar no apartamento e beijar-lhe a boca pela primeira vez. Mas
não. Não haveria luz acesa, nem aceno, nem qualquer tipo de sinal. Há meses ela
não vivia mais ali.
Outro dia, li na internet que cientistas da Universidade de Liverpool resolveram olhar novamente antigas pegadas na Tanzânia e descobriram que um dos nossos ancestrais mais primitivos, o Australopithecus afarensis, já andava de pé, completamente ereto, assim como o homem moderno. Pesquisas anteriores mostravam que essa característica teria surgido apenas nos primeiros Homos, há 1,9 milhões de anos. Agora, já se sabe que a história não caminhou bem por aí. Ok. E que importância tem essa descoberta? Bom, tem muita, porque os pesquisadores acreditam que a forma ereta de caminhar foi determinante para que nossa espécie saísse da África e ganhasse o mundo. “Sebo nas canelas! Pernas para que te quero!”, devem ter dito na época. Ao modo deles, é claro.
Se você não é o Eike Batista, não é dono de banco, não acertou na loteria, vive de salário (principalmente se for o mínimo), é pobre ou está desempregado, então seja bem-vindo ao clube. Você e eu fazemos parte de um “seleto” grupo de milhões de brasileiros que não têm acesso aos serviços mais básicos para qualquer ser humano. Assim como numerosos outros companheiros, você e eu não temos direito a uma boa alimentação, a boas roupas, boa moradia, boa educação, boa saúde e um imenso etc., tão longo quanto a Muralha da China.