Por João Paulo da
Silva

A violência urbana,
em geral, é uma espécie de subproduto dessas tragédias sociais. É o atestado de
óbito do capitalismo como possibilidade de vida para os seres humanos. Sem resolver
a falta do pão, do teto, da sala de aula, do posto de saúde e da perspectiva de
futuro, a criminalidade continuará a ser um fantasma à espreita. Entretanto, na
hora do assalto ou do homicídio, ninguém pensa nisso. O pavor cega. E, parafraseando
o Goya, a cegueira da razão produz monstros.
Apavorados,
somos presas fáceis. Governos e imprensa fazem a histeria, e o pânico
generalizado alimenta a sanha de ideologias fascistas. “Bandido bom é bandido
morto”, “Ladrão tem mais é que morrer mesmo.”, dizem programas policialescos, âncoras
do telejornalismo e políticos da pior laia. Usam a crueldade de alguns crimes como
combustível para insuflar o ódio. Aproveitam-se do medo das principais vítimas
da violência, os pobres, para incentivar o fascismo contra os desvalidos.
Não se trata de “adote
um bandido”, como a direita adora caluniar. Mesmo porque quem mais gosta da
impunidade é a própria direita. Não é à toa que ainda não vimos Sheherazades e Datenas
sugerirem a formação de grupos de “justiceiros” para pegarem, por exemplo, o
Sarney, o Maluf e o Collor na saída do Congresso. Parece que a regra só vale
para negros, pobres e adolescentes que roubam turistas em praias. A justiça dos
fascistas é bastante seletiva, não se aplica a todos.
Combater a barbárie
de todos os dias com mais barbárie não nos levará para frente. É uma marcha à
ré. Quando as pessoas que mais sofrem com a violência transformam em realidade,
ainda que inconscientemente, o discurso do “bandido bom é bandido morto”, estão,
na verdade, dando respaldo para que o estado faça o mesmo. E esta é uma
sociedade de classes, de opressores e oprimidos, de exploradores e explorados. E
os oprimidos e explorados não são o estado.
Surras em postes
não ressocializam ninguém. Apenas recarregam as armas que, mais cedo ou mais
tarde, serão apontadas para as próprias cabeças das maiores vítimas da
criminalidade. Afinal, a polícia, o braço armado do estado, quando invade favelas,
sobe morros ou entra nas periferias, não vai atrás de brancos e ricos. Os alvos
são negros e pobres. E aí pouco importa se são bandidos ou não. Nas classes
altas, as vítimas da violência são tragédias. Nas baixas, são só estatísticas.
Mais repressão
policial por si só não resolve o problema. Do contrário, cidades brasileiras
não estariam entre as mais violentas do mundo. Não se pode ficar eternamente
numa luta inútil contra os galhos. As pessoas precisam de proteção, é verdade. Mas
as raízes são imprescindíveis para as soluções. Este estado não pode proteger a
população de baixo; está ocupado demais protegendo os bandidos de cima. Exatamente
os que criam ou mantém as condições sociais para a violência.
Qualquer mudança
deve começar por aqui... o resto é fraseologia de direita.
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